Enurese noturna é o nome científico do “fazer xixi na cama” e é definido pelo ato de urinar de forma repetida e involuntária durante o sono. Existe a enurese primária, quando a criança não conseguiu esse controle e já tem mais de 5 anos, sem existir doenças físicas que justifiquem tal fato ou a enurese secundária, quando a criança já tinha o controle e voltou a fazer xixi na cama após um período de 3 a 6 meses de controle prévio.
Esse é uma queixa frequente dos pais e um problema que incomoda muito a família, sendo extremamente comum. Incomoda também a própria criança, já que traz muitas vezes implicações e limitações sociais, como dificultar o convívio em viagens escolares ou quando quer dormir na casa de amigos. Uma em cada três crianças de 4 anos urina na cama, mas isso só é visto como um problema após os 5 anos. 10% das crianças de 6 anos têm enurese e esse número vai diminuindo com o passar dos anos. É muito comum a história familiar idêntica à da criança. Se ambos os pais tiveram enurese, existe o risco de 77% dos filhos apresentarem e se um dos pais tiveram o risco é 43%, ou seja, muito alto.
Vários fatores podem influenciar seu aparecimento, inclusive um atraso da maturidade neurológica para esse controle do segurar ou liberar o xixi. As razões na sua imensa maioria são a hereditariedade, mas podem demonstrar questões urológicas, neurológicas, distúrbios do sono, constipação intestinal, infecção urinária, inabilidade em reconhecer que a bexiga está cheia e até diabetes tipo 1. Fatores psicológicos também são um grande causador de enurese; fatos como mudança de escola, separação dos pais, morte na família ou mesmo do animal de estimação, chegada de um novo irmão podem contribuir para o surgimento da enurese.
O tratamento inclui orientação dos pais, reforço psicológico e medidas comportamentais. As famílias precisam ser orientadas a restringir o consumo de líquidos de uma a duas horas antes da criança deitar-se, incentivando que sempre urine antes de iniciar o sono e assim que acordar. Existem dispositivos que podem ser usados como um despertador que soam o alarme no primeiro contato com a urina, despertando a criança. Esse tipo de estratégia não é habitualmente usada pois pode acarretar outros transtornos do sono. Muito eventualmente usamos medicação.
Brigar com a criança de fato não resolve. Sabemos que é frequente os pais perderem a paciência, mas é necessário compreensão. As crianças sofrem muito, tem prejuízo da qualidade de vida, trazendo consigo sentimento de inferioridade, culpa, constrangimento, vergonha, baixa autoestima, muitas vezes até prejuízo do rendimento escolar e do convívio social, tendo verdadeiro pânico de dormir fora de casa. Paciência é a chave do processo!!! Converse com seu pediatra.
Dra. Daniela Vinhas Bertolini, CRM 85228, Pediatra e Infectologista Pediátrica. Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Infectologista Pediátrica do Programa Estadual e Municipal de DST/Aids de São Paulo. Coordenadora da Equipe da Pediatria do Centro de Referência e Treinamento em
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