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Baixas coberturas vacinais nos colocam em risco

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Black little girl getting vaccinated at doctor's office due to virus pandemic.

Nenhuma ação e investimento em saúde da história ofereceu retorno tão eficaz e transformador quanto a vacinação. Ela produziu efeito bastante expressivo na redução da mortalidade e no crescimento populacional mundial, gerando benefícios diretos e indiretos com melhorias das condições de saúde e bem-estar da população, economia para sociedade com redução dos custos com consultas, tratamentos, internações, além de impacto na diminuição absenteísmo escolar e do trabalho.

O século XX foi marcado com o início da vacinação de rotina nas grandes populações, trazendo sempre novidades e novas perspectivas constantes na área de imunizações, totalizando mais de 1 bilhão de crianças vacinadas na última década. Recentemente tivemos a publicação na revista The Lancet de um importante estudo liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelando que os esforços globais de imunização salvaram cerca de 154 milhões de vidas – ou o equivalente a seis vidas a cada minuto de cada ano – nos últimos 50 anos. A grande maioria das vidas salvas – 101 milhões – foi de crianças.

Segundo o estudo, quase 94 milhões das cerca de 154 milhões de vidas salvas desde 1974 resultaram da proteção das vacinas obtida contra o sarampo; em contrapartida a esse número tão expressivo, nos deparamos com a marca de 33 milhões de crianças que não tomaram uma dose da vacina contra o sarampo em 2022: quase 22 milhões perderam a primeira dose e outras 11 milhões perderam a segunda dose. Esse número é extremamente preocupante e o Brasil infelizmente colabora com ele por conta das nossas coberturas vacinais que ainda possuem falhas. O sarampo é um dos exemplos, mas em todas as vacinas isso ocorre, com coberturas abaixo do indicado e com isso possibilidade de ressurgimento de doenças.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em 1973, mas campanhas de vacinação já aconteciam antes disso, há mais de 100 anos. Ele é responsável pela organização da política nacional de vacinação na população brasileira, sendo uma referência internacional de política pública de saúde, com erradicação de doenças de alcance mundial como varíola e poliomielite. A população brasileira tem acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela OMS.

Respeitar e receber as vacinas nos momentos e intervalos preconizados é fundamental para o sucesso do esquema vacinal, em termos de proteção e produção de anticorpos. Quando acontecem atrasos das datas, a proteção não pode ser garantida na sua totalidade. Os intervalos estipulados são sempre frutos de estudos científicos sérios sendo dessa maneira que é atingida a proteção máxima.

Estamos assistindo a nível mundial nos últimos anos, e o Brasil não funciona diferente, a uma queda nas coberturas vacinais de forma geral, em praticamente todas as vacinas disponíveis. Esse já era um problema previamente a pandemia, devido as fake news e movimento antivacinas, e se agravou muito durante os anos de COVID-19. Infelizmente durante o isolamento, a população deixou de levar as crianças para vacinação, atrasou intervalos recomendados, abrindo possibilidade

para o ressurgimento de várias doenças já controladas previamente ou dificultando o controle das que já estavam ocorrendo.

Situações extremamente preocupante aconteceram com o sarampo, poliomielite, febre amarela, difteria e agora mais recentemente com a coqueluche, com quedas importantíssimas das coberturas vacinais, algumas doenças e regiões chegando a 40% permitindo sim o ressurgimento de doenças e mesmo o risco de epidemia dessas no nosso país. Temos de lembrar que o mundo hoje é muito dinâmico e com o fluxo de viagens que acontecem, doenças de qualquer local do mundo podem chegar ao nosso país e encontrando uma população com “brechas” na cobertura e verdadeiros bolsões de susceptíveis e de fato esses problemas podem retornar, com surgimento de surtos, epidemias ou mesmo novas pandemias.

Motivados por toda a problemática a OMS, UNICEF e outras entidades muito importantes lançaram a campanha conjunta “Humanamente Possível, que marcou a Semana Mundial de Imunização, de 24 a 30 de abril de 2024. A campanha de comunicação global pede aos líderes mundiais que defendam, apoiem e financiem as vacinas e os programas de imunização que fornecem esses produtos que salvam vidas – reafirmando seu compromisso com a saúde pública, ao mesmo tempo em que celebram uma das maiores conquistas da humanidade. Todos podemos participar da campanha fazendo nossa “lição de casa” individualmente, mantendo a

cobertura vacinal de sua família 100% em ordem. Manter o esquema vacinal sempre em dia, colabora na prevenção dessas e de todas as doenças contempladas pelas vacinas. A ausência das vacinas sempre coloca as crianças e familiares em risco. Em caso de dúvida, procure sempre um profissional da saúde para orientações.

Dra. Daniela Vinhas Bertolini
Pediatra e Infectopediatra. Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Membro do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Infectopediatra do Programa Estadual e Municipal de IST/Aids de São Paulo
@dradanielabertolini
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