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O impacto dos produtos ultraprocessados na saúde da criança

Tempo de Leitura: 4 minutos
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Os alimentos ultraprocessados têm ganhado destaque nos últimos anos devido aos seus impactos negativos sobre a saúde, especialmente no desenvolvimento cognitivo e metabólico de crianças. Eles são fabricados com ingredientes industrializados, como conservantes, corantes, estabilizantes e açúcares, e têm pouco ou nenhum valor nutricional. O consumo excessivo desses alimentos pode prejudicar o desenvolvimento das crianças, promovendo um ambiente propício para o surgimento de doenças metabólicas e comprometendo o desenvolvimento cognitivo.

O impacto metabólico dos ultraprocessados

Alimentos ultraprocessados são, em geral, ricos em açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio, mas pobres em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e fibras. O consumo frequente e excessivo desses alimentos está diretamente relacionado ao aumento do risco de obesidade infantil, diabetes tipo 2, hipertensão e outras doenças metabólicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade infantil é uma das questões mais alarmantes de saúde pública no século XXI. Estima-se que, globalmente, mais de 340 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos estejam com sobrepeso ou obesidade.

No Brasil, os dados são igualmente preocupantes. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), 29% dos adolescentes entre 13 e 17 anos estão com excesso de peso, e 9% já são considerados obesos. Entre as crianças de 5 a 9 anos, 15% são obesas. Esses números evidenciam uma relação direta entre o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a prevalência da obesidade infantil. Esses alimentos, acessíveis e amplamente promovidos, têm alta densidade calórica e baixo valor nutricional, incentivando o ganho de peso e o desenvolvimento de condições associadas à obesidade, além de retardar o desenvolvimento de caracteres sexuais nas idades adequadas.

Impacto no desenvolvimento cognitivo

Além dos riscos metabólicos, o consumo de alimentos ultraprocessados também tem sido associado a problemas no desenvolvimento cognitivo infantil. Crianças em fase de crescimento exigem uma nutrição adequada para o desenvolvimento cerebral, e a falta de nutrientes essenciais, como ácidos graxos ômega-3, ferro, zinco e vitaminas do complexo B, pode afetar negativamente suas funções cognitivas, memória e aprendizado.

Estudos demonstram que dietas ricas em ultraprocessados, com alto teor de açúcares refinados e gorduras trans, podem promover inflamação no cérebro, especialmente na região do hipocampo, que é fundamental para o aprendizado e a memória. Além disso, o consumo regular desses alimentos pode afetar o humor e o comportamento das crianças, contribuindo para o aumento da ansiedade, depressão e dificuldades de concentração.

Fatores que contribuem para o consumo excessivo

Diversos fatores explicam o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados entre as crianças. A urbanização crescente, a publicidade agressiva voltada ao público infantil e a facilidade de acesso a esses produtos têm desempenhado um papel significativo. Além disso, o estilo de vida moderno, que muitas vezes inclui jornadas de trabalho longas para os pais e a falta de tempo para preparar refeições caseiras, leva muitas famílias a optarem por alimentos prontos e rápidos, como biscoitos, salgadinhos, refrigerantes e fast food.

O ambiente obesogênico, caracterizado por fácil acesso a alimentos hipercalóricos e atividades sedentárias, como o uso excessivo de telas, agrava ainda mais o cenário. Crianças que passam muito tempo assistindo televisão ou jogando videogames são expostas a um volume significativo de propagandas de alimentos ultraprocessados, o que contribui para o aumento do consumo desses produtos.

Prevenção e controle

Para combater o problema crescente da obesidade infantil e seus impactos no desenvolvimento cognitivo e metabólico, é essencial uma abordagem multifatorial. As escolas podem desempenhar um papel importante na promoção de hábitos alimentares saudáveis, oferecendo refeições balanceadas e educando as crianças sobre nutrição. Além disso, as políticas públicas devem focar na restrição de propagandas de alimentos ultraprocessados voltadas para crianças e na promoção do aleitamento materno, que é um importante fator protetor contra a obesidade.

Os pais também desempenham um papel crucial, sendo necessário incentivar refeições caseiras, ricas em alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, vegetais, cereais integrais, carnes magras e leguminosas. A redução do consumo de refrigerantes, sucos industrializados, doces e snacks processados deve ser uma prioridade na alimentação infantil.

Dr. André Veinert
Formado pela Faculdade de Medicina da UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto. Especialista em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia – ABRAN (RQE 69663) e Área de Atuação em Nutrição Parenteral e Enteral pela BRASPEN. Preceptor da Residência de Nutrologia do Hospital IGESP – São Paulo. Capacitação em obesidade e Lifestyle medicine pela Havard Medical School.
andre.veinert@healthme.com.br
@andrenutrologo
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