Você sabe por que isso acontece? Entenda os mecanismos neurofisiológicos e psicológicos
De acordo com pesquisadores da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, nos EUA, recordações felizes na infância contribuem para menores chances de desenvolver transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Os dados foram obtidos com entrevistas de mais de 6 mil adultos, a partir de 18 anos e mostraram que entre os participantes que relataram de seis a sete vivências felizes, as possibilidades de um diagnóstico de depressão ou outro sintoma de doença mental nos meses anteriores ao estudo, foi 72% menor do que aqueles que tiveram de zero a duas experiências positivas na infância.
É importante ressaltar que entre os que apresentaram de três a cinco experiências positivas quando crianças, as chances de depressão ou problemas psicológicos ficaram 50% menores, comparado aos que não tiveram nenhuma recordação positiva ou até duas. De outro lado, um estudo publicado na revista Jama Pediatrics também revelou que crianças felizes, provavelmente formarão laços afetivos mais saudáveis no futuro. Mas quais são os mecanismos neurofisiológicos e psicológicos que fazem com que esse movimento aconteça?
Regulação do eixo HPA (Hipotálamo-Pituitária-Adrenal)
Experiências positivas na infância ajudam a calibrar o eixo HPA (Hipotálamo – Pituitária- Adrenal), que regula a resposta ao estresse. Uma infância com vínculos saudáveis e momentos felizes reduz a hiperativação do eixo HPA, minimizando a liberação crônica de cortisol (o hormônio do estresse). Esse efeito protege o cérebro contra alterações estruturais associadas ao estresse crônico, como o encolhimento do hipocampo, que está relacionado à depressão.
Neuroplasticidade e reforço de redes neurais positivas:
Vivências felizes reforçam redes neurais associadas a emoções positivas, como aquelas mediadas pelo sistema de recompensa dopaminérgico, o que fortalece a capacidade do cérebro de experimentar prazer e regular emoções negativas. A repetição de experiências positivas durante a infância promove a formação de memórias resilientes, que servem como um “estoque emocional” em momentos de adversidade.
Regulação do sistema de recompensa:
Memórias felizes aumentam a liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e endorfina, que estão associados a emoções positivas e bem-estar. Essas substâncias contribuem para a estabilidade emocional e previnem alterações químicas que poderiam levar à depressão.
Desenvolvimento de vínculos afetivos seguros:
Experiências positivas na infância, especialmente com cuidadores, promovem o desenvolvimento de vínculos seguros e um senso de confiança no ambiente. Esses vínculos ajudam a moldar o sistema límbico e áreas do cérebro como a amígdala e o córtex pré-frontal, melhorando a regulação emocional e reduzindo a reatividade a ameaças.
Modelagem e aprendizagem de estratégias de enfrentamento:
Crianças que vivenciam momentos felizes aprendem estratégias eficazes para lidar com o estresse e desafios, por meio da observação de cuidadores ou experiências diretas. Isso contribui para uma maior autorregulação emocional na vida adulta.
Epigenética e resiliência:
Experiências positivas podem influenciar a expressão genética por meio de mecanismos epigenéticos, como a metilação do DNA. Esses mecanismos modulam genes relacionados à resposta ao estresse, predispondo a pessoa a um maior equilíbrio emocional.
Esses dados científicos evidenciam o quão essencial é celebrar momentos e conquistas na infância. Quando mostramos aos nossos filhos a importância de compartilhar e criar recordações de afeto, ensinamos a colocar o amor em prática, a demonstrar carinho e o principal: a humanizar as relações. Em um mundo ultra digital, onde o tempo dita regras e automatiza cada dia mais as relações, simples atitudes de afeto tornam-se potências na construção de seres emocionalmente saudáveis.
Uma pesquisa feita pela agência de marketing britânica OnePoll, com 2 mil famílias, com filhos de 3 a 12 anos revelou que os pequenos possuem gostos e “exigências” mais simples do que os familiares imaginam. Para 81%, apenas uma decoração temática e a comida favorita para 67% é o que importa em festas de aniversário, do que a presença de personagens fantasiados e até mesmo brinquedos infláveis, por exemplo.
A pesquisa propõe uma reflexão e evidencia que o importante mesmo é celebrar e demonstrar amor, de forma simples e consciente. E o que nossos filhos esperam de nós, é a atenção, o carinho, e saber que sempre estaremos com eles em todos os momentos, bons e ruins, mas que em dias satisfatórios, como em aniversários, aprovação escolar, o aprendizado de conseguir andar de bicicleta, entre outros, criam recordações afetivas para uma infância de qualidade e mais do que isso: um adulto saudável emocionalmente!