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A (áudio)descrição e seu papel no acesso à informação, à arte e à cultura para corpos com deficiência visual

Tempo de Leitura: 4 minutos
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O papel principal da (áudio)descrição de imagens e de todo e qualquer tipo de visualidade é possibilitar que, em especial, pessoas cegas e com baixa visão possam acessar e desfrutar de conhecimentos compartilhados via linguagem não-verbal para além do braile.

Não se pode negar que vivemos em uma era ocularcêntrica, que valoriza a visão em detrimentos de outros sentidos. Há vários espaços e produtos que recorrem às imagens e às ilustrações para suplementar os sentidos do texto verbal, expandir seus sentidos ou pura e simplesmente para ilustrar a linguagem escrita. As redes sociais, por exemplo, utilizam sobremaneira a linguagem não-verbal em colaboração com a linguagem verbal, ou seja, há muitas imagens que significam e que são importantes para a construção de sentidos. Há, também, eventos e produtos culturais que dependem grandemente da visão e que, por isso, impossibilitam que a comunidade de pessoas cegas acesse estes produtos quando não contam com ferramentas de acessibilidade, como a (áudio)descrição.

Existe uma quantidade significativa de materiais que podem conter (áudio)descrição. Estes materiais incluem tanto imagens estáticas, como fotografias, exposições de museu, livros, ambientes, esculturas e pinturas, quanto imagens dinâmicas, como filmes, programas de televisão, espetáculos de danças, eventos esportivos, carnaval, shows de música, partos, peças teatrais etc. Ou seja, qualquer material que envolva visualidade pode (e deveria) conter o recurso da audiodescrição.

A (áudio)descrição é, assim, um recurso que traduz imagens em palavras narradas (seja por voz humana, seja por meio de softwares disponíveis nos computadores de pessoas com deficiência visual) e atende, além de pessoas cegas e com baixa visão, também pessoas com dislexia, com déficit de atenção, com autismo e, até mesmo, idosos. No entanto, vale destacar que pessoas enxergantes também se beneficiam deste recurso, pois, por meio da (áudio)descrição, é possível expandir sentidos para além da visão.

Os profissionais envolvidos na produção de uma (áudio)descrição são o próprio (áudio)descritor, que é o responsável pela produção do roteiro, o locutor (quando há a narração humana), que pode ser o próprio (áudio)descritor ou outro profissional do audiovisual, e o consultor cego, que revisa e avalia a qualidade do roteiro e, se necessário, propõe novas construções tradutórias sustentadas nas diretrizes da audiodescrição. Sem o consultor cego, não há uma audiodescrição profissional, já que ele é uma figura essencial para atender às demandas deste corpo que não dispõe da visão como sentido primário de acesso ao mundo.

Promover ações de acessibilidade, como a (áudio)descrição, significa acolher diferentes corpos, como os corpos com deficiência, e legitimar a circulação de saberes e de culturas em espaços verdadeiramente democráticos. Esta legitimação exige pensarmos o mundo a partir da deficiência diariamente. Este exercício constante é necessário para propormos alternativas que vão além do padrão para se viver com e na deficiência. A (áudio)descrição, assim como outros recursos de acessibilidade, são imprescindíveis para que alcancemos, em algum momento, uma sociedade mais justa, democrática e solidária. Como o espaço virtual ainda é muito restrito e limitado quando se considera o acesso às informações para pessoas com deficiência visual, realizamos uma parceria entre o projeto que coordeno na Universidade Estadual de Maringá e a Revista Materlife. Esta parceria foi fundamental para que o compartilhamento de informações de utilidade pública que a revista promove pudesse contar com a produção voluntária de descrições de imagens presentes nas divulgações deste meio tão importante para quem exerce alguma forma de maternagem. Além da Revista Materlife, também tenho uma parceria com a Dra. Daniela Vinhas Bertolini, uma das colunistas da Revista e grande aliada no compartilhamento de informações de utilidade pública na área da saúde. Agora, o Instagram da Dra. Daniela conta igualmente com descrições de imagens. Esta ferramenta amplia, de forma expressiva, o alcance das informações para além do público enxergante.

Liliam Cristina Marins (Doutora e Pó-doutora em Letras. Professora da Universidade Estadual de Maringá-PR)
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