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A chupeta é amiga ou inimiga do bebê?

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Closeup faces of young happy mother with cute newborn baby

Muitos pais se fazem esse tipo de pergunta quando o bebê nasce. Por um lado, eles se deparam com um bebê imprevisível e que parece não se cansar de tanto sugar incessantemente o seio da mãe. Seio esse que em muitas mães fica destruído nos primeiros dias. Ou é um bebê que chora muito. Difícil entender o bebê recém-nascido. O que ele quer? Aí vem a vovó e fala: “dá uma chupeta pra essa criança, pelo amor de Deus!”.  A mamãe exausta, acaba cedendo.

Por outro lado, temos os profissionais da saúde, as consultoras de amamentação, fonos, odontopediatras e até as blogueiras super engajadas, colocando as mães que dão chupeta na categoria de mães ruins por ofertarem aos seus bebês bico artificial.

Sabemos que o puerpério é uma fase tão individual e imprevisível. Então como julgamos ou analisamos a conduta de dar ou não dar a chupeta para o bebê? Quais são as reais consequências ruins? Como tomar essa decisão com sabedoria?

Como mãe e profissional preciso dizer que a resposta não é tão simples assim. A chupeta pode ajudar a acalmar o bebê, dar um descanso para a mãe, aliviar as dores no peito e poderia talvez prevenir uma morte súbita. Mas também terá efeitos muito negativos sobre o desenvolvimento do bebê: na fala e linguagem, na deglutição, na mastigação, na dentição e na respiração. São efeitos cascata que no final você até não sabe mais onde começou. E pode ter começado naquela chupeta.  Os pais precisam estar bem cientes de que os tratamentos para reverter as consequências do uso de bicos artificiais normalmente são longos e dispendiosos, envolvendo fonoterapia, ortodontia, e provavelmente tratamento com otorrinolaringologista. Mas vamos voltar para o início.

Alguns bebês quando nascem apresentam diversas dificuldades de coordenação de toda musculatura que se envolve na amamentação… respirar, sugar, deglutir…  Nem todo bebê nasce sabendo como fazer de forma tão natural quando se pensa. Deveria ser, mas na realidade cada dia mais observamos quantos bebês apresentam dificuldades, disfunções orais que atrapalham a amamentação como um todo. Ainda tem a mãe que não sabe se tem uma boa produção de leite, se tem uma anatomia de bico de seio favorável, se a pega está bem ajustada. Nesse desespero todo, aquela criança chorando e a chupeta faz o bebê parar de chorar. Não atoa nomeada de pacifer – pacificadora – ou soothie – calmante – no inglês.

O bebê tem necessidade fisiológica de sugar especialmente no primeiro ano de vida. Essa necessidade vai diminuindo com o passar dos meses. Dividimos o ato em sucção nutritiva e sucção não nutritiva. Um bebê que faz uso de mamadeira, não sacia a necessidade de sucção. E nestes casos o uso da chupeta pode ser justificado para satisfazer o bebê.

A sucção da chupeta empurra a língua pra baixo, quando queremos ela posicionada lá em cima, no “céu da boca”. A presença da língua no palato promove o seu desenvolvimento em todos os sentidos: abrir, expandir. Com isso melhoramos a respiração também. Pois, “o céu da boca é o chão do nosso nariz”. Expandir o palato melhora a passagem de ar. O bebê que usa chupeta então, também pode desenvolver a respiração pela boca e assim abrimos as portas par as infecções respiratórias recorrentes.

O bebê sob aleitamento e que usa chupeta, tem maior tendencia de largar o seio materno em prazo mais curto do que o desejado. Hoje desejamos que a amamentação perdure. E quando o bebê usa chupeta, reduzimos drasticamente essa possibilidade.

A língua baixa causada pelo uso de chupeta tem consequências bastante perceptíveis na fala e deglutição. Corrigir isso exige tratamento com fonoaudióloga por um tempo nada breve.

A mordida aberta causada pela presença da chupeta entre os dentes pode parecer ser corrigida espontaneamente se essa remoção acontecer antes dos 4 anos. O problema é que até essa idade a língua já viveu tempo demais embaixo, se movimentando de forma errada na fala e na deglutição. Toda musculatura está trabalhando errado a bastante tempo. O que causa outros impactos no desenvolvimento orofacial da criança, como mordidas cruzadas e crescimento assimétrico como um todo. Sem falar na dependência emocional do acessório na boca da criança que fica viciada com o passar do tempo. Quanto mais tempo, maior o vício e dependência da chupeta.

Diante de tantas informações das consequências negativas, que como odontopediatra e ortodontista posso trazer, fica claro que a escolha por ela é muito ruim. Mas… E em casos em que por reais motivos não é possível amamentar o bebê? Como os bebês que ficam em UTI, os bebês prematuros e mães que por condições de saúde ou anatomia do seio, produção de leite não amamentaram? Sim essas situações todas acontecem mesmo. Nem todo bebê consegue receber aleitamento materno. Entendo que nesses casos a possibilidade da chupeta possa ser considerada especialmente em casos de bebês irritados, com dor… Mas os pais precisam estar cientes de que é imprescindível tratamento e acompanhamento fonoaudiológico.

Por todos esses motivos ressalto tanto a importância de uma consulta pré-natal odontológica e fonoaudiológica. Quanto mais conhecimento os pais adquirem precocemente, principalmente se ainda na fase gestacional, melhor e mais fácil será lidar com o bebê. A prevenção de dificuldades pode salvar a amamentação e impactar no desenvolvimento orofacial da criança por toda vida.

Dra. Gisele Costa Pinto
É dentista Ortodontista e Odontopediatra com foco no acompanhamento do desenvolvimento Craniofacial desde a Gestação
dragiselecp@gmail.com
@giselecostapinto
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