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A culpa em relação aos filhos

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Tired housewife with the laptop and smartphone sitting on the sofa while her daughters playing

A culpa é um sentimento que permeia muito a vida dos pais, principalmente as mães, quando parecem não dar conta de todas as suas incumbências da vida e conciliá-las ao cuidado com os filhos.

Culpa por trabalhar, culpa por não trabalhar, culpa por dedicar mais tempo a um filho do que a outro, culpa por querer estar com o marido (ou esposa) ou amigos, culpa por se divertir, culpa por estar cansado ou desanimado, culpa por querer realizar uma porção de atividades ou simplesmente por querer ficar sozinho, sem fazer absolutamente nada. E haja culpa, culpa e mais culpa…

Mas será possível ser pai ou mãe, sem estar às voltas com esse sentimento?

No meu dia a dia, ao lidar com pais, constato que a culpa é mais comum do que imaginamos. Dificilmente vejo mães que conseguem desempenhar, livres de culpa, a função materna.

O que tento discutir é o fato de que os pais devem partir do princípio de que não são perfeitos e que inevitavelmente cometem falhas. Entretanto, proponho refletirmos sobre o que é possível fazer para amenizar essa culpa que angustia tantas mulheres e muitos homens também.

Acredito que hoje, o cotidiano das mulheres é bastante atribulado e complexo, justamente por competirem de igual para igual com os homens no mercado de trabalho, fato esse que não se deu gratuitamente, pois nós, mulheres, conquistamos tal lugar por absoluto mérito. No entanto, como tudo na vida tem um preço, temos de encarar, ao contrário dos homens, ainda nos dias de hoje, a dupla jornada, além das questões individuais relacionadas à personalidade de cada uma. É claro que muitos companheiros e pais estão cada vez mais participativos – ou são até pais sozinhos – no cuidado com os filhos.

O que ambos precisam saber – e cada vez me envolvo mais com essa questão – é que filho não é descartável e que, a partir do momento que tomem a decisão de ter um filho, este estará presente a vida toda e não adianta dispor de apenas alguns minutos por dia ou terceirizar os cuidados a eles, pois o afeto e o amor de pai e mãe não podem ser delegados a terceiros.

Filho demanda tempo, atenção, cuidado e envolvimento e talvez aí esteja a origem de tanta culpa, pois nesta vida moderna e muitas vezes “enlouquecida” com tantos afazeres, nem sempre existe a possibilidade de dar conta de tudo.

Ter um filho requer muitas obrigações e é imprescindível abrir mão de algumas coisas para poder integrá-lo à nossa vida, embora muitas vezes seja muito difícil fazer escolhas com o objetivo de ter uma família.

A maternidade ou paternidade é uma dádiva e traz inúmeras maravilhas, porém acarretam dificuldades também. E podem ser vividas de forma plena, mas isso não quer dizer que estejam livres de problemas. Fazer escolhas não é simples, assim como se livrar da culpa por não dar conta de tudo. A vida, em qualquer situação, requer que façamos escolhas continuamente – e com os filhos, essa situação não muda. Porém aqui reside o perigo de se ficar refém dessa culpa e os filhos (até mesmo os bem pequenos) podem perceber essa dinâmica, se aproveitar disso e entrar nessa lacuna, dificultando muitas coisas, como por exemplo a inclusão de limites.  

Acredito que a maior dificuldade com eles é administrar as novas escolhas que eles próprios nos obrigam a fazer. Mas precisamos ter consciência do fato de que ter filhos não é brincadeira e não dá para mandá-los de volta ou dizer como as crianças dizem: “Não quero mais brincar disso”.

Uma saída para lidar com essa questão é tentar olhar para dentro de si e perceber o que de fato o pai e a mãe esperam da própria vida, da vida dos filhos e do que estão vivendo. Buscar o apoio de uma psicoterapia pode ser uma boa alternativa, pois é possível, com a ajuda profissional, entender a causa desses sentimentos, que nem sempre estão integrados no interior de cada um. Muitos desses sentimentos podem ter significados muito mais positivos do que se imagina, além de também poderem ser a mola propulsora para o autoconhecimento e o amadurecimento. Contudo é importante ressaltar que culpa também pode ser um sintoma, que faz parte da síndrome depressiva, no entanto para que o diagnóstico seja feito corretamente e consequentemente seja tratado, é necessário que preencha critérios, onde apresente também outros sintomas.  

Cynthia Boscovich
Psicóloga clínica e perinatal. Psicóloga do sono e especialista em transtornos de humor. Colaboradora do GRUDA (Programa de Transtornos afetivos do IPQ/ HC/ FMUSP).
Email: cyboscovich@gmail.com
Tel. 11 99687-9087
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