O desenvolvimento da mordida (tecnicamente chamado de oclusão dentária) na infância é um dos aspectos mais importantes para a saúde geral da criança, influenciando não apenas a estética do rosto, mas também funções vitais como respiração, fala e mastigação. Quando a mordida não se desenvolve corretamente desde a dentição decídua (conhecida popularmente como dentes de leite), podem surgir desde assimetrias faciais, alterações na fala, distúrbios de sono como bruxismo, problemas posturais até impactos emocionais relacionados à autoestima.
A primeira infância é um período de intenso crescimento craniofacial. A partir do nascimento e até o início das trocas de dentes, por volta dos 6/7 anos, 80% do crânio já terá alcançado seu tamanho final. Esse crescimento é influenciado por diversos fatores, incluindo genética, hábitos orais e, principalmente, a forma como a criança respira e mastiga. A grande protagonista do equilíbrio nesse crescimento é sem dúvida a língua.
Se a mastigação estiver desequilibrada já durante a dentição decídua, a face crescerá de maneira assimétrica, resultando em deformidades ósseas que, em muitos casos, não podem ser completamente corrigidas nem na adolescência. Isso acontece porque o desenvolvimento ósseo ocorre de forma coordenada: se uma parte da face cresce de maneira inadequada, as demais estruturas tentam compensar esse desequilíbrio, levando a assimetrias faciais evidentes.
Como a mordida fica errada?
Tudo começa no nascimento com o estabelecimento da amamentação. A coordenação do trabalho dos músculos envolvidos em todo processo de mamar farão com que as arcadas se desenvolvam e encaixem de forma adequada.
A respiração é um dos processos que mais influenciam a instalação de uma mordida incorreta. Crianças com o hábito de respirar pela boca desenvolvem mordida aberta ou maxila atrésica (estreita). O crescimento e desenvolvimento da face sofre alteração em crianças que respiram pela boca. A respiração pela boca pode começar por uma leve obstrução nasal que pode virar hábito num ciclo vicioso. A boca aberta deixa a língua baixa. O local de repouso da língua é tocando no céu da boca. Quando a criança fica com a boca aberta, a língua não consegue ficar acoplada no palato. Quando a língua está embaixo esse equilíbrio do trabalho da musculatura envolvida se perde, e a musculatura facial não permite que aconteça a expansão dos ossos, que seria o desenvolvimento transverso. Assim o rosto tende a ficar mais alongado. Já na parte inferior, a mandíbula irá ficar com dificuldade de se posicionar corretamente podendo ficar muito retruída ou avançada demais.
Como garantir o desenvolvimento de uma mordida correta?
• Aleitamento materno: incentivar o aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida do bebê;
• Evitar hábitos como chupeta, sucção de dedo e mamadeira pois elas educam a língua a repousar no lugar errado;
• Respiração nasal: corrigir problemas alérgicos que levam à respiração bucal pois eles impactam no correto posicionamento da língua e consequentemente nas arcadas dentárias.
• Garantir a alimentação adequada com alimentos sólidos com diferentes texturas para estimular os músculos da mastigação. Observar se a criança mastiga com os dentes posteriores e dos dois lados da boca
• Corrigir problemas que levam à respiração bucal pois eles impactam na posição da língua e nas arcadas dentárias;
• Corrigir pequenos desalinhamentos precocemente através de desgastes dentários em locais específicos, exercícios de mastigação ou aparelhos dentários para dentição de leite
• Incentivar a postura corporal adequada, já que a posição e inclinação da cabeça e do pescoço influenciam a mordida (oclusão dentária).
O impacto estético psicológico da mordida correta
Estudos mostram que, desde cedo, as crianças já percebem sua aparência e podem se sentir bonitas ou feias de acordo com o formato do rosto e do sorriso.
Quando há uma mordida errada, a criança pode desenvolver características faciais desarmônicas, como queixo projetado para frente ou muito para trás, lábios incompetentes (que não se fecham naturalmente) e um sorriso assimétrico. Essas alterações podem levar a dificuldades de socialização e até bullying na escola.
Portanto, recomendamos o acompanhamento com o odontopediatra desde os primeiros meses de vida para monitorar e direcionar às terapias e tratamento que podem envolver diversos profissionais como fonoaudiólogos, fisioterapeutas e otorrinolaringologistas. Assim garantimos que a oclusão se desenvolva de forma satisfatória.

Dra. Gisele Costa Pinto
É dentista Ortodontista e Odontopediatra com foco no acompanhamento do desenvolvimento Craniofacial desde a Gestação
dragiselecp@gmail.com
@giselecostapinto