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A importância dos objetos inseparáveis do bebê e da criança

Tempo de Leitura: 4 minutos
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Quem mergulha no baú musical dos anos 80 encontra o ursinho que consolava o apaixonado não correspondido. Só para lembrar:

Meu ursinho Blau Blau
De brinquedo
Vou contar pra você um segredo
Só você mesmo pra me aturar

(…)
Ai, meu amigo Blau Blau de brinquedo
Diz pra ela esse nosso segredo

(…)

Ouvir segredos íntimos, estar ao lado, acompanhar, confortar e consolar. Servir de apoio, dar segurança. É isto que Blau Blau e tantos outros bichinhos de pelúcia ou tecido, cobertorzinhos, paninhos e travesseirinhos fazem na vida das crianças de todos os tempos.

Denominados objetos transicionais pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott (1896-1971), eles conferem às crianças suporte emocional, especialmente nos momentos de separação ou solidão. Sua importância é tão grande que até os personagens infantis os carregam consigo onde quer que estejam.

Quando os bebês nascem eles não conseguem perceber que ele o ambiente – a mãe, outros cuidadores ou objetos que lhe são apresentados – são distintos um do outro. Para o recém-nascido, ele e seu ambiente são uma só coisa.

Por volta do terceiro mês inicia-se o processo de discriminação, transformando esse “ser único” em dois. A partir daí, é comum o bebê utilizar a ponta do lençol, da fronha, do cobertor, do paninho usado para arrotar, da própria orelha, ou mesmo chupar o dedo ou emitir pequenos sons para minimizar a angústia presente nos momentos de separação. Do mesmo modo, se o bebê tem à disposição brinquedos macios, a chupeta ou o seio materno, estes podem cumprir com esta função acalentadora.

A maioria dos bebês elege um objeto transicional entre o quarto e o décimo segundo mês de vida. No entanto, alguns não escolhem um objeto que simbolicamente substitua a proteção parental. Isto só deve ser motivo de preocupação quando não é dada ao bebê a oportunidade de ele ter sempre ao seu lado objetos que são mantidos (a constância do objeto é tão importante quanto à constância do ambiente para o bebê sentir-se seguro), ou quando, em casos mais raros, a escolha fica inviabilizada em função de um sofrimento psíquico que impede o bebê de viver os estados de separação – ou seja, ele encontra-se patologicamente fundido ao ambiente (comum nas psicoses) ou totalmente isolado em seu mundo interno.

Quando os bebês começam a balbuciar, normalmente inventam um nome para seu “companheiro”, geralmente utilizando som muito parecido com o da pronúncia da palavra que o adulto o denomina. Por exemplo: Fafá, para uma fraldinha; Au, para um cachorrinho; Tatá, para uma chupeta. É como se eles tivessem uma vida real. Por isso, qualquer tentativa de substituição do objeto eleito é vivenciada pela criança como uma agressão. Aliás, não é preciso nem tentar trocar um objeto por outro; basta lavá-lo e seu cheiro e toque serem modificados para a criança não mais reconhecê-lo.

Ao mesmo tempo em que os objetos transicionais são inseparáveis e muito amados pela criança, eles também podem ser momentaneamente odiados. O resultado é que não é incomum a criança arremessá-lo para longe, arrancar-lhe um pedaço, pisar em cima dele. Mesmo “destruído”, a criança perceberá que seu objeto amado continua existindo, não como algo físico, mas como algo que o conforta nas transições presença-ausência do cuidador, como na hora de dormir, nas despedidas e nas situações desconhecidas. A criança faz com o objeto eleito o mesmo que faz com os pais ou suas figuras de referência afetiva: ama-os, mas pode odiá-los em alguns momentos. Aos adultos, especialmente aos pais, fica o desafio de sobreviver à segunda parte!

Os objetos transicionais não têm idade para serem deixados de lado. Uma vez que a criança o despreze, ela pode querer tê-lo de volta num momento mais delicado de sua vida, como nas situações de doenças, mudanças ou rupturas. Se ela já não o encontra mais, ela pode implorar pelo objeto relegado ou eleger um novo. É como se ela pedisse um colinho, um consolo, como na música Ursinho Blau Blau. Nessas horas, se não há ursinho, paninho, chupeta ou afins, a presença efetiva de uma figura de referência afetiva é fundamental para que ela possa atravessar a dificuldade com mais segurança e inteireza. Os objetos substitutos são importantes; os reais, imprescindíveis!

Conteúdo autorizado para reprodução na Revista Materlife com a fonte retida pelo publicador.

Divulgado por: Patrícia Leekninh Paione Grinfeld Psicóloga (CRP 06/50829)

Formada pela PUC-SP. Idealizadora e cofundadora do Ninguém Cresce Sozinho. Foi técnica do Programa Palavra de Bebê do Instituto Fazendo História e auxiliar voluntária do Aprimoramento Clínico Institucional em Psicoterapia de Casal e Família na Clínica Psicológica da PUC-SP.  Cursa especialização em Psicologia Perinatal e Parental pelo Instituto Brasileiro de Psicologia Perinatal e Parental Gerar. Atende em consultório na cidade de São Paulo (Perdizes) e pelo site Rodas Ninguém Cresce Sozinho. www.ninguemcrescesozinho.com.br

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