Ser pais é o maior desafio e aprendizado contínuo na vida de um homem e de uma mulher, muitas vezes somos levados a deixar o “egoísmo” de lado para dar suporte a outro “Ser” que irá ser dependente emocionalmente dos pais por pelo menos até os 25 anos, se fizerem um bom trabalho juntos. Se o casal chega ao consenso que não querem essa responsabilidade de constituir família, saiba que essa decisão é bem madura e responsiva, pois colocar alguém no mundo não requer escolha por pressão familiar ou social, tem que vir do real desejo em construir parentalidade e tudo o que compõem a escolha em ser pais.
No entanto, quando a gravidez não é planejada o caminho pode ser bem mais difícil para a criança desenvolver bases emocionais saudáveis, principalmente quando a mulher tem o bebê sozinha sem qualquer participação do pai ou rede de apoio. E isso, é a realidade de muitas mulheres, o que pode ser muito difícil para a mãe sustentar uma saúde emocional e também o autocuidado consigo mesma ou com o bebê devido a sua demanda. A construção do vínculo com os filhos nos primeiros anos pode ser dificultada por diversos fatores, como a alta demanda profissional, dificuldades financeiras, o excesso de tarefas no lar ou pelas demandas emocionais decorrentes da própria infância dos pais. Além disso, outros fatores podem atrapalhar o desenvolvimento do vínculo materno e devem ser olhados com a devida atenção:
Depressão pós-parto: dificulta e muito o contato físico e emocional com o bebê. Algumas mulheres têm dificuldade em dar afeto e cuidar, e não sente amor logo que pega o bebê no colo. É uma explosão de sentimentos e emoções que requer amplo apoio do parceiro, uma rede de apoio sólida, além de suporte profissional e, em alguns casos, intervenções medicamentosas para superar esse estado, que pode persistir até os três anos de idade da criança. Essa experiência também pode influenciar significativamente o comportamento e a socialização do bebê.
Dificuldade na amamentação: algumas mulheres tem muita dificuldade ao amamentar, seja por problemas na pega do bebê no seio, o que dificulta a sucção eficaz e pode causar considerável dor para a mãe; por produção de leite insuficiente para atender as necessidades do bebê; problemas no mamilo seja por rachaduras, mastite ou mamilos invertidos/planos, também ocasionando dor à mãe; excesso de leite nos seios que pode ser bem difícil por ficar duro e dolorido dificultando a pega; problemas de saúde do bebê como língua presa e problemas de sucção; estresse materno que dificulta a produção do leite e capacidade da mãe relaxar durante a amamentação; A ausência de apoio emocional prático pode impactar negativamente a qualidade da interação, levando a mãe a se isolar e se distanciar do bebê ao se sentir sozinha. Além disso, a falta de informação e conhecimento sobre técnicas de amamentação pode agravar a situação. Esses pontos podem fazer a mulher desistir facilmente da amamentação e não desenvolver vínculo afetivo com seu bebê neste contato pele a pele que chamamos de diálogo tônico. Portanto, é crucial que as mães recebam apoio de profissionais especializados em saúde e amamentação, permitindo que se sintam à vontade para reconhecer e aceitar suas limitações.
Experiências traumáticas: seja na sua própria infância ao ter sua criança ferida e não ter suas necessidades atendidas e baixo vínculo também com os seus pais na sua infância; violência familiar verbal ou física; traumas de abortos ou traumas no parto; separação durante a gravidez ou após o nascimento; podem interferir na capacidade da mãe de se conectar com o bebê e dar afeto, não por falta de desejo, mas por estar emocionalmente desgastada com suas demandas emocionais. Este assunto, comento melhor no livro “Psicomotricidade da gestação à melhor idade” em que abordo questões importantes para o desenvolvimento de vínculo saudável e como o brincar pode ajudar neste processo de autoconhecimento de ambos.
Distrações tecnológicas: a demanda aos cuidados com o bebê pode levar a mulher a buscar prazer em redes sociais. O problema está no tempo! O que muitas não se dão conta é que o bebê é um ser que pensa, sente e depende do alimento emocional para se constituir como ser e também para aprender a se comunicar com o mundo. Já parou para pensar que só ter sua presença física não é suficiente para desenvolver a criança, e quanto o uso do celular está interferindo na sua vida familiar?
Vale ressaltar que se uma mãe não está bem consigo mesma, tampouco, estará para um filho. As demandas maternas devem ser tratadas com empatia, apoio, respeito, sem julgamento ou cobranças excessivas para desenvolver vínculo positivo e construtivo com o bebê. Lembre-se: o adulto é o mediador e espelho para a criança, portanto, é necessário se despir de conceitos educativos do passado, para construir novos caminhos que servirão de exemplo em sua realidade familiar e do mundo atual. Pense nisso!
Evelyn de Paula Pereira
Educadora física estudiosa sobre assuntos diversos que compõem o desenvolvimento psicomotor infantil, comportamento e parentalidade.
Professora de Educação Física
Especialista em Psicomotricidade Clínica/ Educativa
Coautora do livro Psicomotricidade da gestação à melhor idade
evelyn.corpoematividade@gmail.com.br
@evelyn.corpoematividade
Blog: www.corpoematividade.com.br