Quando eu me formei em 1979, a orientaçãoalimentar que era dada em consultas de puericultura incluía a introdução dosuco com um mês de vida, a papa de frutas aos dois meses, o almoço aos três e ojantar aos quatro meses.
Após 30 anos, por uma série incontável de razões, a sociedade buscou darcondições para o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida eprolongado até os 2 anos como forma de promoção à saúde, propiciando ocrescimento e desenvolvimento saudáveis de nossas crianças. Fatores relacionadosà criança, à mãe, à família, à sociedade, à economia, entre outros, justificamessa transformação.
Mesmo cientes de todas as vantagens, no Brasil, de uma forma geral, aindaestamos muito aquém desse padrão. A média estimada atual do aleitamento maternoexclusivo é de cerca de 3 meses e no total, até cerca de 6 meses. Esses númerosnão são nada animadores.
Por outro lado, essa estatística nos mostra que podemos ainda trabalhar muito etemos muito a fazer para transformar essa realidade.
A informação é apenas o começo desse caminho. Não podemos assumir que todossaibam o óbvio. Precisamos informar. E essa é uma missão não apenas de médicose profissionais de saúde. Todos somos responsáveis.
A família, a escola, os profissionais de saúde, a mídia, os órgãosgovernamentais são parte integrante dessa rede pró-aleitamento. Cada um tem seupapel a cumprir: informar, fiscalizar, propiciar condições econômicas, sociais,emocionais para que o bebê possa usufruir do leite materno, permitindo que elecresça e se desenvolva dentro da totalidade de seu potencial.
Algumas informações básicas, fundamentais, óbvias(?):
– O leite materno é o alimento completo para o bebê até o sexto mês de vida,sem necessidade de introdução de água, chás, sucos, frutas, papinhas salgadas,fornecendo à criança todos os nutrientes necessários, em quantidadessuficientes, na proporção e biodisponibilidade adequadas. Nem a mais e nem amenos.
– Nos primeiros dias de vida, o leite materno (colostro) pode aparecer em menorquantidade, é mais concentrado e é importantíssimo e fundamental na proteção dorecém nascido.
– É muito importante que o bebê mame até esvaziar a mama, porque o leite do fimda mamada tem mais gordura, mata mais a fome do bebê e faz com que ele ganhemais peso. Após terminar o primeiro seio, ofereça o segundo seio para que elemame o quanto for necessário até se saciar.
– Não há leite forte ou leite fraco. Existe muito leite ou pouco leite. E opouco leite pode e deve ser estimulado, aumentando a freqüência das mamadas,oferecendo á mãe uma alimentação adequada, hidratação e condições de vidasaudáveis que favoreçam a continuidade do aleitamento.
– O leite materno oferece proteção contra doenças diarréicas e respiratórias(anticorpos), contra alergia alimentar (cada vez mais comum, sendo o principalresponsável, no Brasil, o leite de vaca), contra doenças de adultos cada vezmais comuns na infância (obesidade, problemas de triglicérides e colesterol).
– Evitar mamadeiras e chupetas que podem interferir na amamentação e não sãoapropriados para favorecer o desenvolvimento facial adequado das crianças,dificultando, assim, muitas vezes, o desenvolvimento sadio da respiração e dafala.
– A mamãe também se beneficia nesse processo, pois amamentar favorece a voltamais rápida do útero ao seu tamanho normal, diminuindo o sangramento pós-parto,prevenindo quadros de anemia (isso sem contar a perda mais rápida do pesoacumulado durante a gestação). Além disso, o vínculo mamãe-bebê-papai sefortalece.
Amamentar é muito mais do que alimentar acriança. Dar o peito é muito mais que oferecer o melhor alimento que existe. Édar saúde, carinho e proteção, tão importantes em todos os momentos, ainda maisna maternidade, quando a insegurança (dos pais e até dos recém-nascidos) podelevar ao desmame.