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Autismo: como a arte ilumina novos caminhos de expressão e conexão

Tempo de Leitura: 6 minutos
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Apresentando a história de superação do Eduardo da Silva Ferreira, um menino autista, albino, com 10% de visão, que vem conseguindo se destacar através da arte e que serve de inspiração para muitas famílias.
Foi durante o congresso no qual participei em 2023, enquanto visitava a feira no intervalo, que conheci Flávia Najar Gusmão Pacheco, idealizadora da Cog Life Arts (@coglifearts). Ao conhecer o projeto, fiquei encantada com a oportunidade que proporciona para que crianças autistas expressem sua arte por meio de seus desenhos e interesses pessoais, transformando a vida dessas crianças por meio dela. E foi nesse dia que ela me apresentou a Fabiana da Silva Lima, mãe de um dos artistas da marca, que estava expondo seus trabalhos. Fiquei encantada ao conhecer a história desse artista nato, repleta de superação.

Eduardo nasceu prematuro, albino e com dificuldades visuais, possuindo apenas 10% de visão. Desde o nascimento, necessitou de muitos cuidados terapêuticos, e com isso, a família passou por muitos momentos desafiadores ao longo de seu crescimento. Por conta de alguns comportamentos diferentes que foram aparecendo ao longo de seu crescimento, como assustar-se com barulhos, dificuldade em socializar na escola, facilidade para vomitar e seletividade alimentar, os pais decidiram levá-lo a um neurologista para investigar. Os primeiros testes não foram conclusivos para um diagnóstico de autismo.



Durante a pandemia, Eduardo ficou hiperfocado em desenhar navios durante quase um ano, o que levou sua avó a presenteá-lo com uma viagem de navio. Mais tarde, seu interesse mudou para a página “Janelas da História”, onde se concentrou nas histórias dos proprietários de casas na Avenida Paulista. Ele era detalhista, conhecendo os arquitetos responsáveis por cada obra e outros detalhes, o que resultou em sua primeira exposição, com mais de 40 desenhos de casarões. Após a pandemia, os pais o levaram novamente ao neurologista, que confirmou o diagnóstico de autismo nível 1 após observações adicionais.

Na adolescência, Eduardo está ciente de seu autismo, mas ainda enfrenta desafios para expressar suas opiniões sem perceber quando os outros estão incomodados, o que dificulta sua socialização e causa frustração. Ele reconhece quando é ignorado e aprecia o respeito que recebe ao usar o cordão do autismo, o que considera um aspecto positivo. No entanto, fica entristecido ao enfrentar preconceito ou bullying, uma realidade comum para muitas crianças autistas.

O incentivo dos pais foi fundamental para Eduardo se dedicar à arte, proporcionando-lhe valorização e prazer em expressar-se artisticamente. Essa tem sido a principal forma pela qual a família o ajuda a lidar com a depressão, resultando em uma melhoria significativa em sua autoestima. Isso o capacita a conquistar seu espaço em um mundo cheio de desafios e preconceitos.


É importante incentivar as crianças a se envolverem em atividades que gostem e tenham habilidade. Isso as faz sentir capazes e confiantes, ajudando-as a lidar melhor com desafios futuros. Estimular os talentos naturais das crianças, mesmo que estejam em intervenções ou terapias, pode promover um desenvolvimento eficaz.

Desde que conheci o Dudu, ele participou de várias exposições em São Paulo e uma nos EUA, além de ter desfilado roupas infantis e seus desenhos terem sido incluídos na coleção de camisetas da Coglifearts.

Após ouvir a inspiradora história de vitória de Dudu, fiquei impressionada com sua habilidade artística e atenção aos detalhes em cada desenho. Pedi permissão à mãe para conversar com ele e, diretamente a Dudu, para gravar um depoimento e apresentá-lo ao mundo. Ao encontrá-lo, o parabenizei por seu talento artístico e o encorajei a continuar se dedicando aos desenhos, pois seu potencial é imenso. Durante a entrevista, perguntei como ele se sentia ao ver tantas pessoas apreciando seus desenhos ou usando camisetas com suas ilustrações. Ele: “Me sinto importante, fico muito feliz, me sinto valorizado e gosto de ser famoso.” Precisa falar algo? Só de ver uma criança encontrando o seu valor no mundo, já é um grande presente.

Após esse encontro, ele não parou mais de criar seus desenhos, de aprender sobre a história por trás de cada monumento e de transmitir a delicadeza de sua arte em cada traço, revelando seu interesse pelos monumentos históricos. Além disso, sua mãe criou um perfil no Instagram, @dudumemoriza, para vender sua arte e contribuir com a renda da família, e tem sido um sucesso. Seu sonho atual é iniciar um canal no YouTube para compartilhar suas paixões e inspirar outras crianças, independentemente do autismo.

Naquele dia, voltei para casa cheia de reflexões e aprendizados que levei para minha vida. Vou compartilhar:

1) Nenhuma condição humana deve ser um impeditivo para sonhar. Todos têm talentos que, muitas vezes, não são reconhecidos, mas que podem fazer diferença em suas vidas. Os pais devem apoiar e auxiliar seus filhos desde cedo para garantir qualidade de vida. A jornada dos pais de crianças atípicas é desafiadora, repleta de intolerância e exaustão. Por isso, é fundamental ter uma rede de apoio e profissionais qualificados por perto. Histórias como essa nos trazem esperança de que, com o tratamento certo e apoio familiar, as crianças podem superar expectativas.

2) Nunca desista diante de qualquer situação na vida. A família ensinou a ele o valor da resiliência, a desenvolver seu talento e o incentiva a acreditar que pode ser o que quiser. Todos estão aprendendo juntos.

3) É preciso ter muito mais iniciativas de projetos e ações de empoderamento inclusivo

para qualquer criança atípica. Dar visibilidade a essas crianças pode tirá-la de quadros de depressão e de não pertencimento.

4) Quando a família aceita e já realiza intervenções precocemente, melhor será o desenvolvimento da criança. Olha só o Dudu como vem conquistando o seu espaço no mundo.

5) Ouça mais as pessoas e perceberá que seus problemas muitas vezes são pequenos comparados aos de outras pessoas. Enfrente os desafios com coragem, pois viver vale a pena.

Acompanhar o progresso e sucesso do Dudu nas redes sociais é inspirador, apesar dos obstáculos. Cada fase de sua vida é uma oportunidade de aprendizado. O amor faz a diferença no prognóstico de cada criança, juntamente com aceitação, apoio mútuo e o apoio dos pais para ajudá-las a alcançar seus objetivos. Para os pais de crianças atípicas, lembrem-se de que sempre há esperança e maneiras de melhorar a qualidade de vida de seus filhos. Não desistam, pois o resultado é gratificante.


Evelyn de Paula Pereira
Educadora física estudiosa sobre assuntos diversos que compõem o desenvolvimento psicomotor infantil, comportamento e parentalidade.
Professora de Educação Física
Especialista em Psicomotricidade Clínica/ Educativa
Coautora do livro Psicomotricidade da gestação à melhor idade
evelyn.corpoematividade@gmail.com.br
@evelyn.corpoematividade
Blog: www.corpoematividade.com.br
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