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CÓLICA DO LACTENTE E QUALIDADE DE VIDA

Tempo de Leitura: 7 minutos
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Choro faz parte do desenvolvimento neurocomportamental nos primeiros meses de vida. A duração diária do choro varia com a idade. Aumenta até a sexta semana de vida quando ocorre em até quase 3 horas por dia. Diminui para cerca de uma hora ao dia quando o lactente completa três meses de idade1,2. A ocorrência do choro é maior no final da tarde. Pode ser interpretado como uma forma de comunicação do lactente, podendo expressar fome, calor, frio, reação ao barulho e a necessidade de troca de fraldas, entre outras possibilidades. Por outro lado, quando muito intenso e com grande duração, pode ocasionar sofrimento no lactente e provocar uma série de consequências para a mãe, o pai e a família como um todo. Está situação caracteriza a cólica do lactente que é definida pela ocorrência diária de choro por mais de três horas, em três dias da semana durante o período mínimo de uma semana3. Pode ser acompanhada de irritação e/ou inquietação. Na prática, tanto para os profissionais de saúde como para os pais, estes critérios nem sempre têm que ser plenamente preenchidos para que a cólica do lactente constitua uma preocupação e um grande problema. A cólica do lactente é um distúrbio funcional gastrintestinal3.

Por outro lado, muitas pessoas e até alguns profissionais da saúde consideram que estas manifestações devem ser consideradas como normais e que os pais que não conseguem enfrentar esta situação estão despreparados e/ou não compreenderam e aceitaram a responsabilidade que são pertinentes à condição da maternidade e paternidade. Será que alguma mãe deve ser capaz e obrigada a enfrentar todas as noites dormindo muito aquém do que necessita fisiologicamente? Os pais também são incluídos neste complexo e cansativo processo que pode levar a exaustão e desespero.   

            Antes de continuar, vale a pena destacar que não são plenamente conhecidas as causas da cólica do lactente. Como todos os distúrbios gastrintestinais funcionais, acredita-se que resulte da interação de fatores biopsicossociais1-3. Pode haver também a associação com determinadas situações não obrigatoriamente com relação de causa e efeito. Nem sempre é fácil saber, frente a uma associação, o que é causa e o que é consequência ou, ainda, se são associações sem nenhuma relação de causalidade.

            Assim, a instabilidade emocional das famílias com lactentes com cólica pode ter sérias consequências. Estudo realizado na Holanda, publicado na prestigiosa revista científica Lancet em 2004, mostrou o resultado das entrevistas com 3259 mães que levaram seus filhos para atendimento médico por choro excessivo4. Chacoalhar, dar tapas e tentativas de sufocar foram práticas extremamente perigosas e agressivas referidas espontaneamente por 5,6% das mães de lactentes. Tais práticas ocorreram ao longo do primeiro semestre de vida. Dados semelhantes foram constatados no Japão5. De 1307 entrevistas com mães de crianças com 4 meses de idade, em 3,4% e 2,4% constatou-se práticas de sacudir e tentativa de afogamento no mês anterior. Estas práticas foram associadas ao estresse provocado pelo choro de seus filhos5.             Na Turquia foi realizado um estudo para avaliar a qualidade de vida e a ocorrência de depressão em mães de bebes com cólica do lactente6. A qualidade de vida foi aferida utilizando um questionário validado e classicamente utilizado em várias situações denominado “Short Form 36”. As mães de filho com cólica do lactente apresentaram valores inferiores, com diferença estatisticamente significante, em dois domínios da qualidade de vida: desempenho físico e desempenho social. As mães de filhos com cólica do lactente apresentaram mais depressão do que as mães de crianças sem cólica6.

Nos últimos anos é crescente o acúmulo de evidências científicas sobre a eficácia do Lactobacillus reuteri DSM 17938 no tratamento da cólica do lactente. O Lactobacillus reuteri DSM 17938 é um probiótico, ou seja, um microorganismo vivo que, quando consumido em quantidade adequada, proporciona um efeito benéfico para a saúde do hospedeiro. Deve ser ressaltado que a eficácia terapêutica do Lactobacillus reuteri DSM 17938 no tratamento da cólica do lactente não pode ser extrapolada para outros probióticos. Outra característica importante é o fato do Lactobacillus reuteri DSM 17938 ser conservado em solução líquida, permitindo que seja dado em gotas para o lactente.  

            Dentre os artigos que avaliaram a eficácia do Lactobacillus reuteri DSM 17938 no tratamento da cólica do lactente, encontra-se a pesquisa realizada na Polônia por Hania Szajewska e colaboradoras7. Este ensaio clínico duplo-cego controlado por placebo confirmou a eficácia deste probiótico na redução da duração do choro e da irritação/inquietude de lactentes com cólica. Os dois grupos (Lactobacillus reuteri DSM 17938 e placebo) foram acompanhados por quatro semanas. O estudo avaliou, também, a percepção da intensidade da dor nos lactentes e a qualidade de vida dos pais e/ou da família. Foram usadas escalas analógicas para que fossem atribuídas notas de zero a 10. Assim, 10 corresponderia à dor com intensidade máxima e zero ausência de dor. Por sua vez, para a qualidade de vida dos pais e/ou família, zero correspondia a nenhum efeito favorável do probiótico ou placebo e 10 um efeito muito bom. Aos 7, 21 e 28 dias do ensaio clínico, a mediana da nota referente à intensidade da dor foi, respectivamente, 3,2; 2,2 e 2,1 no grupo tratado com Lactobacillus reuteri DSM 17938. Por sua vez, no grupo que recebeu placebo a intensidade da dor foi maior: 5,5; 5,0 e 5,17. Vale ressaltar que antes do tratamento, ambos os grupos apresentavam intensidade da dor em torno de 8,0.

            A qualidade de vida também foi avaliada aos 7, 21 e 28 dias do ensaio clínico. A mediana da qualidade de vida no grupo tratado com Lactobacillus reuteri DSM 17938 foi, respectivamente: 8,0; 8,5 e 8,7. No grupo controle estes valores foram: 5,1; 5,1 e 5,3. Portanto, a administração de   Lactobacillus reuteri DSM 17938 proporcionou menor intensidade da cólica do lactente (dor) e melhor qualidade de vida para as famílias, sendo este efeito positivo, estatisticamente significante7.

            Em conclusão, cólica do lactente é frequente nos primeiros meses de vida. A administração do probiótico Lactobacillus reuteri DSM 17938 pode proporcionar não somente diminuição na duração do choro e da intensidade da dor como também aumento na qualidade de vida dos pais e/ou da família.   

Fonte: MAURO BATISTA DE MORAIS

Professor Associado, Livre-docente da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica e Chefe do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo Gastroenterologista Pediátrico na Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein

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