Confira abaixo um guia completo para uma alimentação adequada a cada fase do desenvolvimento infantil, de zero a dois anos
“O que que tem na sopa do neném? Será que tem feijão? Será que tem agrião?” Os versos da canção “Sopa”, do grupo Palavra Cantada, podem traduzir bem as dúvidas dos pais na hora de alimentar os pequenos. Qual o alimento adequado? Existe algum proibído? Para responder estes e outros questionamentos, a Materlife preparou um guia, baseado no Manual de Orientação para a Alimentação Infantil, da Sociedade Brasileira de Pediatria, sobre as fases de alimentação das crianças.
Leite materno: alimento completo
Até os 6 meses, o leite materno é o alimento perfeito para a criança, pois oferece muito mais do que um conjunto de nutrientes, contém substâncias com atividades protetoras. O leite materno não apenas proporciona proteção contra infecções e alergias como também estimula o desenvolvimento do sistema imunológico e a maturação dos sistemas digestivo e neurológico.
De acordo com os especialistas, o bebê deve mamar todas as vezes que quiser, sem horários fixos ou determinados. Depois de ele esvaziar o primeiro peito, a mãe deve oferecer-lhe o segundo. Quanto mais a criança mama, mas leite a mãe produz, o completo esvaziamento da mama assegura a manutenção do estímulo de produção do leite. Após a mamada, é imprescindível não se esquecer de colocar o bebê para arrotar.
A partir dos 6 meses, o uso exclusivo de leite materno já não supre todas as necessidades nutricionais da criança, a partir desta fase, novos alimentos, chamados complementares devem ser introduzidos no dia a dia do bebê. Vale ressaltar, porém, que o estimulo ao apetite da criança começa ainda durante a amamentação. Os sabores e odores do leite materno dependem de quais alimentos a mãe ingere e são sentidos pelos bebês quando amamentados. Quanto mais variedade e qualidade de alimentos a mãe consumir, melhor será a aceitação da criança quando tais itens forem incluídos em seu cardápio.
Fase de transição e adaptação
Aos 6 meses, a maioria das crianças já está fisiologicamente e neurologicamente completa, o que facilita a ingestão de alimentos semi-sólidos. O organismo dos bebês consegue produzir as enzimas digestivas em quantidades suficientes para receber alimentos diferentes do leite materno. Além disso, justamente por conta de tais mudanças, cerca de 50% a 70% do ferro e de 70% a 80% do zinco devem vir de outros alimentos. Por isso, neste momento entra a alimentação complementar, aquela que é adicionada ao cotidiano da criança em paralelo à amamentação.
É uma etapa de transição, portanto, os alimentos devem ser especialmente preparados para a criança pequena até que ela possa recebê-los na mesma consistência dos consumidos pela família. É necessário lembrar que a introdução dos alimentos complementares deve ser gradual, sob a forma de papas, oferecidas com a colher.
Cardápio variado
A composição da dieta deve ser equilibrada, variada e fornecer todos os tipos de nutrientes. Os primeiros alimentos diferentes do leite com os quais os bebês têm contato são as frutas, oferecidas, preferencialmente sob a forma de papas e sucos. Os sucos naturais devem ser dados no copo, após às refeições principais, e não em substituição a estas, em uma dose máxima de 100 ml por dia.
Já primeira papa salgada deve ser oferecida no horário de almoço ou jantar e deve contemplar diversos grupos alimentares: cereais ou tubérculos, leguminosas, carne (vaca, frango, porco, peixe ou vísceras, em especial o fígado) e hortaliças (verduras e legumes). A papa deve ser amassada, sem ser passada pela peneira ou batida no liquidificador. A carne, na quantidade de 50 a 70 g/dia (para duas papas) não deve ser retirada após o cozimento, mas, sim, picada ou desfiada e oferecida à criança junto com o restante dos ingredientes, pois a proteína animal é fundamental para garantir oferta adequada de ferro e zinco. O óleo vegetal, usado na preparação das receitas, deve aparecer com cautela, enquanto os caldos e temperos industrializados precisam ser evitados.
Dos 6 aos 11 meses, a criança amamentada deve receber três refeições com alimentos complementares ao dia (duas papas de sal e uma de fruta) e aquela não amamentada, cinco refeições (duas papas de sal, três de leite, além das frutas). A partir dos 12 meses, às três refeições devem ser acrescidos mais dois lanches ao dia, com fruta ou leite. É importante oferecer frutas como sobremesa após as refeições principais, com a finalidade de melhorar a absorção do ferro presente nos alimentos como feijão e folhas verde-escuras.
Novas experiências
Por volta dos 8 a 9 meses, a criança pode começar a receber a comida da família. É muito natural que nos primeiros dias, a criança derrame ou cuspa o alimento – o que não significa uma rejeição ao alimento. Fica mais simples de apresentar as novidades de textura e consistência aos poucos, em pequenas quantidades e ir aumentando o volume conforme a aceitação da criança.
Deve-se estar atento para o grande aprendizado que esse momento de introdução de novos alimentos representa para o bebê. A maneira como será conduzida a mudança do regime de aleitamento materno exclusivo para essa multiplicidade de opções que ora se apresentam poderá determinar, a curto, médio ou longo prazo, atitudes favoráveis ou não em relação ao hábito e comportamento alimentares. O respeito ao tempo de adaptação aos novos alimentos, às preferências e aos volumes que desejam ser consumidos permitirá a atuação dos mecanismos reguladores do apetite e da saciedade.
Comida de gente grande
Entre um e dois anos a amamentação precisa ser mantida, mas as refeições salgadas devem ser semelhantes às dos adultos. Não há restrições para carnes e vísceras, muito menos para frutas e verduras. Nessa faixa de idade, os hábitos alimentares adquiridos mantêm-se até a vida adulta, portanto, é importante prestar atenção no consumo de os alimentos artificiais (balas, refrigerantes e biscoitos recheados), que contêm corantes, excesso de sal ou açúcar.
O leite e seus derivados, como iogurtes e queijos, fontes de cálcio são de suma importância para o desenvolvimento infantil. A ingestão média de leite deve ser 600 ml, mas é preciso tomar cuidado para não substituição as refeições principais pelo leite. O consumo excessivo de leite, além de não suprir todos os nutrientes necessários para um crescimento saudável, pode por outro lado, influenciar no desenvolvimento de anemia por deficiência de ferro.
Nesta fase também vale a pena estimular a criança a tomar iniciativa na seleção dos alimentos e no modo de comer. Os pais devem oferecer alimentos variados, saudáveis e em porções adequadas e permitir que a criança escolha o que e quanto quer comer. As refeições devem ser realizadas à mesa ou em cadeira própria para a criança, juntamente com a família, em ambiente calmo e agradável, sem televisão ligada ou outro tipo de distração. Os tipos de alimentos escolhidos devem ser adequados à capacidade de mastigar e engolir da criança. O tamanho das porções de alimento deve ser ajustado ao grau de aceitação da criança.
A partir dos dois anos é comum escutar dos pais a reclamação de que os pequenos não se alimentam bem. Eles começam a apresentar menor interesse pela comida e frequentes oscilações na preferência e aceitação dos alimentos. O comportamento é natural já que acontece uma desaceleração do crescimento a partir de um ano, que tem como consequência a diminuição do apetite; além disso, a capacidade gástrica das crianças é limitada, isto é, crianças pequenas têm estômagos pequenos; e a troca da dentição, também pode causar desconforto na hora de mastigar. Por outro lado, influências externas também podem determinar um comportamento repulsivo pelos alimentos – os hábitos da própria família têm enorme peso nas decisões da criança.
Restrições
Alguns alimentos não são aconselhados para as crianças pequenas entre eles estão:
• Alimentos industrializados pré-prontos;
• Refrigerantes;
• Café;
• Chás;
• Embutidos;
• Água de coco (como substituo da água) – tem baixo valor calórico e por contém muito sódio e potássio;
• Mel (no primeiro ano de vida) – os esporos do Clostridium botulinum, bactéria presente no alimento podem produzir toxinas no intestino, causando botulismo.
Alimentos adequados a cada fase:
Faixa Etária Tipo de Alimento
Até 6º mês Leite materno exclusivo
6º a 24º mês Leite materno complementado
6º mês Papa de frutas
Primeira papa salgada
7º a 8º mês Segunda papa salgada
9º a 11º mês Gradativamente, passar para a refeição da família com ajuste da consistência
12º mês Comida da família
Dez passos para a alimentação saudável:
Passo 1 – Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos.
Passo 2 – A partir dos 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os 2 anos de idade ou mais.
Passo 3 – Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada.
Passo 4 – A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
Passo 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família.
Passo 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida.
Passo 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.
Passo 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.
Passo 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.
Passo 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.