Essas são as orientações sugeridas para que os profissionais repassem aos pais e cuidadores que acompanham o desenvolvimento da saúde sexual de bebês, crianças e jovens. Essa tabela foi apresentada no capítulo 21 “Sexualidade na infância e adolescência” contribuição de Lúcia Alves da Silva Lara, Adriana Peterson Mariano Salata Romão e Flávia Raquel Rosa Junqueira (pág. 289-310) no livro “Ginecologia da infância e adolescência” Organizado por: Rosana Maria dos Reis, Flávia Raquel Rosa Junqueira, Ana Carolina Japur de Sá Rosa-e-Silva – Porto Alegre: Artmed 2012
Recém-nascido
Necessidades
Sucção, toque (base para segurança, confiança e capacidade futura de dar afeição física, são estabelecidos agora).
ORIENTAÇÕES
Ensinar aos pais a importância do toque e carinho.
Incentivar a amamentação.
Expectativas: ao escolher “rosa” ou “azul”, já enviamos mensagens do papel de gênero.
6 meses
Necessidades
Criança descobre próprio corpo.
Auto estimulação e toque dos genitais.
ORIENTAÇÕES
Orientar os pais a esperar esse comportamento e que o mesmo é normal.
Questionar os pais acerca de suas atitudes relacionadas à auto estimulação infantil.
Lembrá-los: não retirar as mãos da criança, pois transmite mensagem negativa, de que aquela parte do corpo é ruim.
Usar nome correto das partes do corpo, inclusive da genitália.
1 ano
Necessidades
Curiosidade sobre a aparência do pai e da mãe sem roupa.
ORIENTAÇÕES
Nudez em casa: a melhor atitude é aquela na qual os pais se sintam confortáveis
Criança começa a estabelecer a identidade de gênero pela observação das diferenças entre o corpo feminino e masculino.
Utilizar figuras, se a nudez for desconfortável.
Pais devem evitar mensagens que transformem a nudez em algo “sujo” ou “pornográfico”.
1,5 – 3 anos
Necessidades
Desenvolvimento da autoestima.
Sentimentos sobre ser menino ou menina.
Eficácia da disciplina nesta idade determina posterior capacidade de lidar com frustração e ter autocontrole.
Exploração de partes do corpo é comum.
Atividades de banho são de grande interesse.
Senso de privacidade desenvolve-se.
ORIENTAÇÕES
Forneça mensagens positivas sobre ser ou menina ou menino. Deixe as crianças procurarem as próprias preferências acerca dos papéis de gênero (é normal meninos brincarem com bonecas ou meninas com caminhões).
Discutir disciplina. Fornecer reforço positivo (“eu gosto quando você…”)
Encorajar os pais a ensinar os nomes corretos dos genitais e das funções corporais (pênis, vagina, movimento do intestino).
Treino do controle de esfíncter – recompensas e reforço positivo.
3-5 anos
Necessidades
Crianças necessitam respostas para os questionamentos sexuais, apropriados ao nível de desenvolvimento cognitivo.
Tocar os genitais é prazeroso, pode acontecer quando estão chateadas.
Crianças tornam-se sedutoras em relação ao pai do sexo oposto.
Assimilação das características do modelo do mesmo sexo.
As crianças começam a aprender o que é aceitável socialmente, que comportamentos são públicos ou privados e como mostrar respeito pelos outros.
ORIENTAÇÕES
Pais devem esperar os questionamentos sexuais (“de onde vêm os bebês?”).
Fornecer técnicas para avaliar o nível de entendimento (“de onde você pensa que eles vêm?”).
Criança deve sentir que é normal falar sobre sexo.
Utilizar material educacional
Preparar os pais para o comportamento sedutor dos filhos.
Encorajar o apoio mútuo entre os pais (não é um bom momento para um divórcio).
Lembrar aos pais sobre que tipo de modelo de relacionamento homem-mulher eles desejam que seus filhos imitem.
5-7 anos
Necessidades
“Brincar de médico”.
As crianças já aprenderam as limitações dos pais, começam a guardar segredos sobre sexo.
Escola.
ORIENTAÇÕES
Explicar aos pais que a exploração genital satisfaz a curiosidade acerca do sexo oposto.
Questionar os pais sobre suas próprias experiências na infância
Discutir formas de lidar com a situação (“É normal ser curioso – mas o corpo de cada um faz parte de sua privacidade – gostaria que você se vestisse e brincasse de outra coisa”) Encoraje os pais a conversar sobre sexo com os filhos.
Discutir sobre o risco de abuso sexual – ensinar técnicas de prevenção à criança.
7-9 anos
Necessidades
Crianças precisam de respostas mais “científicas” às questões sexuais (“Como os bebês entram na barriga?”).
Precisam de orientação prévia sobre as mudanças associadas à puberdade.
Valores inseridos agora durarão a vida toda (bondade, responsabilidade).
ORIENTAÇÕES
Questionar aos pais, se as crianças perguntam sobre sexo (caso não, podem estar sentindo que não há espaço). Desmitificar que informação leva a experimentação sexual ou que crianças são muito “inocentes” para falar sobre sexo.
Encorajar os pais a aproveitar experiências, como programas de TV, novo bebê na família, para falar sobre o assunto.
Assegure aos pais que é normal não saberem responder a todas as questões.
Orientações aos pais sobre o desenvolvimento puberal.
Ensinar a diferença de fato e opinião (ex: fato, homens masturbam-se com mais frequência; opinião, masturbação é bom [ou ruim]).
Importante ensinar às crianças os valores e crenças familiares, assim como os fatos.
10-12 anos
Necessidades
Desenvolvimento puberal.
Ambos os sexos devem saber sobre mudanças corporais, menarca, polução noturna e fantasias sexuais.
Ensaio dos comportamentos do gênero (ex: ver a Playboy).
Surgem questões sobre a homossexualidade.
Aumenta a necessidade de privacidade.
Autoestima é frágil.
ORIENTAÇÕES
Profissionais já podem orientar diretamente o pré-adolescente.
Pais devem entender a normalidade dos questionamentos sexuais e conversar sem julgar (última chance de ser fonte de informação, após serão os outros).
Simpatizar com o desconforto parental (“algumas vezes nos sentimos desconfortáveis de falar sobre sexo, mas…”).
Perguntar de forma não julgadora (“alguns pais não se importam dos filhos verem a Playboy, outros desaprovam. Como vocês se sentem a respeito?”).
Estimule a autoestima (pré-adolescentes necessitam de muito reforço positivo).
11-15 anos
Necessidades
Preocupação obsessiva com o corpo e a aparência.
Finalização do desenvolvimento puberal.
Emergem comportamentos sexuais (masturbação, sonhos eróticos, encontros homossexuais).
Primeiros encontros – questões sobre amor.
Pressão externa torna-se significante.
Necessidade de habilidades assertivas, direito de dizer não.
Meninos devem saber que são igualmente responsáveis pelas consequências da atividade sexual.
Ambos os sexos devem estar preparados para o uso de contraceptivos quando for necessário.
Educação sobre a prevenção das DST/Aids.
Autoestima ainda é baixa.
ORIENTAÇÕES
Na puberdade, os pais terão os resultados dos esforços anteriores.
Pais devem permitir que os adolescentes assumam responsabilidades.
Uma escuta reflexiva é mais importante que falar.
Afirmar a normalidade dos sentimentos sexuais (“é normal querer fazer sexo”) enquanto opina (“mas seria melhor que você esperasse até ter certeza”).
Muitos adolescentes heterossexuais têm alguma experiência homossexual. Devem receber segurança e informação.
Preparar os filhos sobre o uso dos contraceptivos. Desmitificar que o acesso leva a promiscuidade.
A mensagem deve ser: “espere até ter certeza que está pronto, daí utilize contracepção todas às vezes”.
Não forneça mensagens como “boas garotas” não fazem sexo, isto pode induzir a inabilidade em assumir responsabilidades pelas suas escolhas.
Continue a discutir valores pessoais, diferenciando fatos de opiniões e reforçando autoestima.
15-17 anos
Necessidades
Iniciação sexual.
Essencial o acesso a serviços de orientação sexual.
Exploram o significado dos relacionamentos.
Planos sobre o futuro.
Aumento da independência pode levar a risco (ato sexual não consentida, estupro).
Preferência sexuais tornam-se aparentes – homossexuais pode apresentar confusão e dúvidas.
ORIENTAÇÕES
Encorajar os pais a dar permissão aos filhos para obter contracepção.
Garantir confidencialidade e sigilo aos adolescentes que procurarem os serviços de saúde.
Muitos adolescentes não desejam discutir suas experiências sexuais com seus pais.
Sugira aos pais discutir planos sobre o futuro e como estes poderiam ser afetados por uma gravidez não planejada.
Adolescentes devem saber que a sociedade espera deles, caso optem pela atividade sexual, a prevenção de gravidez e DST.
Discutir formas de prevenir o estupro.
Orientação sexual deve ser questionada (e não presumida).
Encaminhar para serviços de referência pode ajudar caso haja dificuldades emocionais entre adolescentes homossexuais e seus pais.
Conteúdo autorizado para reprodução na Revista Materlife com a fonte retida pelo publicador.
Divulgado em: Geração Mãe – www.geracaomae.com.br – Dra. Flávia Raquel Rosa Junqueira é ginecologista e obstetra com especialização em sexologia.