Quando você e seu companheiro levaram seu primeiro filho do hospital para casa eram pais novatos, tendo muito que aprender, adaptações a fazer e um desafio a enfrentar: o de criar apego pelo novo membro da família. Quando vocês trouxerem o segundo filho para casa, vocês dois já serão verdadeiros mestres no que diz respeito à paternidade/maternidade; não serão vocês, mas sim o filho mais velho, que precisará aprender mais, fazer mais adaptações e esforçar-se para criar um apego pelo recém-nascido. Isso não será mais fácil para o seu primogênito do que foi para vocês; e, considerando sua idade e nível de maturidade, pode ser bem mais difícil.
A melhor sugestão de todas: fique tranquila. As crianças vivem como vivem os adultos que as rodeiam. Se você estiver ansiosa com o modo como seu filho vai reagir ao fato de ter um irmãozinho, seu filho ficará ansioso também.
A gravidez e o parto tornaram-se assunto de família. Como ocorreu com os pais nos anos 70, nos 80 os irmãos já não são excluídos dos nove meses de preparação e excitação que culminam na chegada de um novo irmão ou irmã. Em vez de tentar entender o que está acontecendo a partir de sussurros entre os adultos e conversas misteriosas sobre cegonhas e canteiros de repolho, os primogênitos de hoje frequentemente envolvem-se com a gravidez desde os primeiros meses.
A preparação de um irmão é pelo menos tão complicada quanto a preparação dos pais. O primeiro passo, evidentemente é contar ao filho mais velho que a mãe está grávida. Sabemos que as crianças, desde muito cedo, começam a perceber que “algo” está acontecendo. Elas podem captar conversas sérias ou animadas entre os adultos, ver sua mãe sentindo-se mal ou tensa e preocupada, notar outras mudanças na casa – e pensam: “o que estão escondendo de mim?” – “o que vai acontecer?”
O fato de contar desde cedo a criança também dá a vocês bastante tempo para ajudá-la a se acostumar a ideia de ter um irmãozinho e trabalhar seus sentimentos. Talvez convenha esperar até que você receba os resultados dos exames, como ultrassom morfológico, ou amniocentese, ou até o fim do período de risco, se tiver uma história de abortos espontâneos – embora seu filho possa ficar mais chateado ainda se você estiver presa à cama e ele não souber por quê.
Acabado o mistério, há várias medidas que os pais podem tomar para tornar o bebê que está para chegar menos ameaçador para a criança que já mora na casa:
• Faça todas as grandes mudanças que você planeja fazer na vida de seu primogênito no começo da gravidez, se não tiver tido oportunidade de realizá-las antes de engravidar: matriculá-la na escola – para que tenha um refúgio fora de casa quando o bebê chegar, e não sinta que está sendo expulsa de casa.
• Ensine-o a usar o banheiro ou desmame-o da mamadeira agora, e não logo após o nascimento do bebê. Acostume seu filho a passar um pouco menos de tempo sozinho com você – se você nunca o deixou com uma babá e vai precisar fazê-lo depois que o bebê chegar, comece a deixá-lo com a babá por curtos períodos durante o dia. Se o papai até agora não esteve muito envolvido nos cuidados coma criança, comece a trazê-lo para as rotinas de alimentação, banho e hora de dormir, para que ele possa substitui-la habilidosamente quando você estiver no hospital ou ocupada com o novo bebê.
• Dê início a atividades regulares de diversão entre o pai e o filho (café da manhã fora de casa no domingo, sábado à tarde no parquinho, uma história lida depois do jantar), rituais que podem continuar sendo desfrutados por bastante tempo depois que o bebê nascer.
• Seja sincera e clara acerca das mudanças físicas pelas quais está passando. Explique que você está cansada ou nervosa porque “fazer um bebê é difícil”, e não por estar doente ou cansada dele. Não use a gravidez como desculpa para não pegá-lo no colo. Se você precisar passar mais tempo deitada (a pedido médico) sugira que ele se deite ao seu lado e tire uma soneca, ouça uma historinha veja TV com você.
• Apresente seu filho ao bebê enquanto ele ainda estiver no útero. Mostre-lhe ilustrações próprias a sua idade, do desenvolvimento fetal mês a mês, explique-lhe que, à medida que for crescendo a barriga também crescerá, e que quando for suficientemente grande já estará prontinho para sair. Encoraje-o a sentir com as mãozinhas, o movimento do bebê, mas não o obrigue a isso, se não quiser.
• Para que seu filho não se sinta um mero figurante no drama da gravidez, leve-o a uma ou duas consultas pré-natais e em especial ao ultrassom. Mas não esqueça de levar ao consultório um lanche, livro ou brinquedo predileto, para o caso de haver uma longa espera.
• Envolva seu filho em quaisquer preparativos pelas quais ele parecer interessado: a escolha dos móveis, roupas e brinquedos – deixe-o até escolher sozinha uma ou duas coisas baratinhas mesmo que lhe pareçam estranhas. Deixe-o abrir os presentes que cheguem antes do bebê nascer.
• Familiarize seu filho com os bebês em geral. Mostre-lhe fotos dele quando bebê, diga-lhe como era (não se esqueça de incluir algumas histórias que mostrem o quanto cresceu desde então). Se possível, leve-a a uma maternidade para olhar os recém-nascidos (ela descobrirá que não nascem tão “bonitinhos” quanto os bebês mais velhos). Explique que os bebês não fazem quase anda além de chorar, dormir e mamar, e que por algum tempo não conseguem ser bons companheiros de brincadeiras.
• Evite dizer coisas como: “Não se preocupe, nós vamos continuar a gostar de você, mesmo com a chegada do novo bebê” – por mais bem intencionadas que seja, tais afirmações podem causar preocupações em seu filho, pode sentir-se incapaz de competir com o bebê.
• Se você pretende dar o berço dele ao bebê, faça vários meses antes da data prevista para o nascimento. Se o mais velho ainda não tiver condições de dormir em uma cama, compre uma caminha provisória, aquela com grades nas laterais. Ajude-o com a decoração do quarto, e enfatize que está mudando de cama ou quarto porque está crescendo e não porque o bebê está a caminho.
• Apresente ao seu filho os nomes que você está pensando em dar ao bebê, envolvendo-o nesse processo de escolha. Lembrando, é claro, que a escolha final é sua.
• À medida que a data de parto estiver se aproximando (e só agora) prepare seu filho para o fato de você precisar passar algum tempo no hospital quando o bebê chegar. Faça-o ajudá-la a arrumar as malas e estimule-o a incluir alguma coisa dele para que você leve consigo. Certifique-se que a pessoa que ficará com ele está completamente familiarizada com sua rotina.