Para honrar o mês em que se celebra o dia de Finados, vim te contar como ajudar a criança a lidar com esse momento tão conturbado e incerto que é a morte.
Falar sobre morte com adultos é muito desconfortável e delicado, e é ainda mais difícil quando falamos com as crianças porque o cérebro delas ainda está em desenvolvimento, o que dificulta o manejo das emoções. Já que elas aprendem pelo exemplo, antes de ensinarmos elas a lidar com a morte, precisamos entender nossos próprios sentimentos e aprender a lidar com eles.
Dessa forma, tanto o adulto quanto a criança terão os artifícios necessários para se reestruturarem com mais facilidade e entenderem que, apesar de ser bastante desconfortável se sentir triste, é natural e esperado, e ambos terão apoio para lidar com isso. Essa percepção será importante para a criança no decorrer da vida, quando passar por adversidades
Mas o que é a morte? É uma parte inevitável do ciclo da vida, mas dificilmente falamos sobre ela no dia a dia, ainda mais com as crianças. A cultura em que vivemos trata a morte como um tabu, uma violência e algo a ser reprimido.
Ao mesmo tempo que é abstrata, vemos isso no dia a dia. Como na natureza: uma semente é plantada, regada e depois de bastante tempo nasce uma flor, cresce ao lado de outras, se alimenta, se reproduz em novas florzinhas e morre, assim como os seres humanos. Usar exemplos concretos e palpáveis como esse ajudam a criança a entender o abstrato e como se encaixam na vida.
Eu sei que muitas vezes só pensamos em abordar o assunto com as crianças quando alguma pessoa próxima falece, mas, mesmo que este não seja o seu caso, é importante ensinar sobre a morte no ciclo da vida para prepará-la.
Quando for abordar o assunto com a criança, atente-se em explicar para ela usando palavras corretas e sem metáforas: como “virou estrelinha”; “foi morar no céu” ou ainda “foi fazer uma viagem”. Eu entendo que você queira ajudar seu filho a lidar da melhor forma com esse momento tão difícil, mas muitas vezes tentamos proteger os pequenos e acabamos atrapalhando esse processo. Até os 7 anos a criança não compreende muito as coisas abstratas, que ela não consegue ver ou tocar, então usar metáforas irá atrapalhar no processo de elaboração do luto dela. Por isso, diga a verdade, sem medo de usar a palavra “morte”. Com uma linguagem adequada para a idade da criança, explique o que aconteceu, diga que a morte faz com que a pessoa querida não esteja mais aqui, mas que ela pode pensar nessa pessoa sempre que sentir saudades e lembrar dos bons momentos juntos.
A família, amigos e figuras de afeto têm papel fundamental para ajudar a criança nesse momento porque surge uma grande insegurança e pensamentos de que eles poderão sumir ou morrer a qualquer momento.
É comum que ela precise de mais tempo para entender o conceito da morte, então não espere que ela compreenda tudo em uma única conversa, você provavelmente terá que revisitar esse assunto muitas vezes. Poderão ter perguntas que nem você mesmo saiba responder e está tudo bem.
A criança vai passar pelos mesmos processos do luto de um adulto, com sentimentos conflituosos, sentirá raiva, tristeza, frustração, uma sensação de vazio e de estar perdido. Também terá pesadelos, irritabilidade, mudanças de apetite e alterações no sono. Tudo isso faz parte do luto e é um processo muito individual, ou seja, cada um sentirá emoções diferentes e com intensidades diferentes. O importante é acolher e confortar elas durante esse processo.
É muito comum que a criança seja excluída de todos os rituais simbólicos da morte, como o velório, cerimônias e enterro, mas é uma situação que, apesar de muito difícil, ajuda ela entender melhor o ciclo da vida, ter uma sensação de conclusão e, consequentemente, elaborar melhor o luto. Claro que a decisão de ir ou não nas atividades deve ser da criança e nunca, em hipótese alguma, deve ser obrigada a ir contra sua vontade, mesmo que você acredite que isso seja o melhor para ela.
Se estivermos falando sobre um luto causado pela perda de um animal de estimação, convide a criança para participar do planejamento do funeral e enterro, e incentive ela a expressar seus sentimentos referentes à perda, além da gratidão pelo tempo que tiveram juntos.
E como fica a vida depois? Após você ter encorajado a criança a expressar os sentimentos, tirar dúvidas e participar dos rituais, chegou o momento de incentivar a ressignificação do luto.
Sugira algumas atividades que vocês para fazerem juntos: criação de uma caixa de memórias para recordação, um livro com os melhores momentos juntos, um álbum de fotos ou até plantar árvore para dar início à um novo ciclo da vida
Mesmo assim, a morte ainda é difícil. Há casos em que ficam tão difíceis de lidar que podem até desenvolver um transtorno psicológico. Está tudo bem pedir ajuda, seja de familiares, amigos ou até mesmo de profissionais. Um psicólogo conseguirá te auxiliar com isso da melhor forma. Caso tenha alguma dúvida, conte comigo.
Espero ter ajudado e até o próximo mês!
Com amor,
Giu