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Gravidez fora do útero: isso é possível?

Tempo de Leitura: 3 minutos
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Tubal ectopic pregnancy, 3D illustration showing an 8-week human fetus implanted in the fallopian tube instead of uterus

Hoje temos um assunto complexo, com um toque exagerado de explicações científicas, mas ao mesmo tempo muito atual, importante e que merece alguns minutos de sua atenção. Uma das causas mais frequentes de morte materna entre gestantes no primeiro trimestre da gestação é a chamada gravidez ectópica. Nesta situação, a gravidez ocorre fora do local habitual de nidação. Ela pode ser abdominal, tubária, ovariana, cornual ou cervical. O diagnóstico precoce é feito pela suspeita clínica e por meio da realização de exames complementares, como a ultrassonografia transvaginal e a dosagem sérica da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (b-hCG).

O sintoma inicial mais comumente visto de uma gravidez ectópica é o sangramento vaginal imotivado, em caso de ectópicas não-rotas. Quando há ruptura, a queixa de dor abdominal, dor em baixo ventre, como também dor à descompressão abdominal passam a ser mais frequentes. E nesse contexto de gravidade, o diagnóstico precoce é a chave da diminuição da morbimortalidade.

Existem algumas causas prováveis para a ocorrência da gravidez ectópica. Dentre elas: doenças anteriores nas tubas uterinas, doenças inflamatórias pélvicas, gravidez ectópica anterior, uso de dispositivos intrauterinos, cirurgias uterinas prévias, cirurgias abdominais prévias, aderências, endometriose, alterações anatômicas, dentre outras. Porém, é preciso dizer que na maioria das ocorrências, infelizmente, não é possível identificar a causa.

Já o tratamento dependerá principalmente das condições hemodinâmicas da paciente. Se a paciente estiver estável, com valores de beta- hCG menores que 5.000mUI/mL, massa anexar menor que 3,5cm e ausência de embrião vivo, podemos sugerir tratamento clínico com metotrexate.

O tratamento expectante pode ser feito em casos de declínio dos valores do b-hCG em 4 horas e quando os títulos iniciais são inferiores a 1.500mUI/mL. Nestes casos, podemos estar diante de um aborto tubário, na qual o próprio organismo tende a absorver e eliminar os resquícios, sem a necessidade de procedimento cirúrgico.

Já em casos de instabilidade hemodinâmica, gravidez ectópica rota, massas maiores que 3,5cm e com a presença de vitalidade embrionária, o tratamento cirúrgico é mandatório.

A via preferencial é a via laparoscópica, aquela em que é introduzida uma câmera pelo umbigo e alguns instrumentos por pequenos orifícios. Podemos também abordar por laparotomia, conhecida como cirurgia aberta.

E no campo da eleição das cirurgias, eventualmente é possível optar pela salpingostomia, como forma de preservar a tuba uterina. Porém, muitas vezes a permeabilidade desta tuba acaba sendo comprometida. Ademais, vale dizer que em casos de prole constituída, ou ainda dependendo do que for evidenciado no intraoperatório, a salpingectomia é preferível.

Já em casos de gravidez ectópica cornual ou cervical, há um risco aumentado de histerectomia, ou seja, a retirada do útero, uma vez que há probabilidade de sangramento. E no caso das gravidezes ectópicas ovarianas, a retirada do ovário acometido pode ser necessária.

Por fim, para fechar esse desafiador tema, não poderia deixar de dizer que muitas histórias têm surgido, principalmente nas redes sociais, sobre gravidezes que eram ectópicas e evoluíram bem. Mas a realidade da maioria dos casos não é bem essa, de modo que em razão da complexidade da situação, o mais importante é esclarecer as dúvidas da paciente, conscientizá-la da gravidade e dos riscos da patologia. Não se deixe levar por falsas informações e tenha sempre em mente que cada caso é único e merece o melhor acompanhamento médico possível.

Dra. Larissa Atala

Ginecologista e Obstetra, membro da Febrasgo

Especialista em Endoscopia Ginecológica

@dralarissaatala

dralarissaatala@gmail.com

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