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Hoje não!

Tempo de Leitura: 2 minutos
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Logo pela manhã! Se ao menos eu tivesse tido algum aviso. Uma boa maquiagem e um salto alto poderiam ter me ajudado a superar este imprevisto tão desagradável.

Eu, de cara lavada, tomada pela surpresa, pálida e atônita. Ele ali no meio dos outros, totalmente à vontade, saliente, em destaque, como previsível.

Não foi assim que imaginei este encontro. Pensei que quando o encontrasse, seria na minha melhor forma, tanto física quanto emocional. Minha superioridade e meu pouco caso o colocariam em seu devido lugar.

Ao invés disso, me peguei pensando o que diriam todos a partir de hoje, ao vê-lo por ali, escancarando sua presença, enquanto eu, por mais que tentasse ignorá-lo, tinha sofrido um baque, e qualquer ação na intenção de omitir sua presença só reforçaria o fato de que eu me importava com sua existência. Pobre de mim.

– Vulnerável! Fraca! – Pensava, enquanto fechava a porta atrás de mim.

Joguei água fria no rosto, tentando me recobrar do susto, enquanto repetia em voz alta palavras de encorajamento.

– Linda! Poderosa! Você pode tudo! Você é mais que isso! Não se deixe abater!

Vasculhando a necessaire em busca de apoio moral, esponjo o rosto com um pouco de blush, afastando a palidez, trazendo cor às bochechas. Nos lábios uma gota de brilho, e nos olhos uma pincelada sobre as pálpebras deixando os cílios longos e encorpados.

Conferi o resultado. Rejuvenescida em alguns anos, aprovei o frescor que a maquiagem me trouxe. Respiro fundo.

Pronta para encará-lo, determinada puxei-o do meio dos outros, tive cuidado de isolá-lo.

Dei uma última boa olhada nele, analítica e fria. Ainda o veria outras vezes, o futuro me reservaria este desprazer. Certo, ele haveria de voltar a me atormentar. Mas não hoje, definitivamente hoje não!

Com um giro e um movimento rápido, o abati. Agora, preso aos meus dedos, olhei-o com desprezo. Impotente, jazia morto.

Joguei na pia o maldito fio de cabelo branco.

Cínica, sorri enquanto ele deslizava ralo abaixo.

Ajeitei as madeixas, minha vasta, longa e negra cabeleira.

Numa última olhada para o espelho, aprovei o que vi. Soprei-me um beijo, pronta agora pra qualquer desafio que o dia me apresentasse.

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