Verdade. As dificuldades com a coordenação motora fina frequentemente levam famílias a buscarem ajuda de vários profissionais na resolução dessa situação. Em especial, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos. Em muitas dessas vezes, as dificuldades em realizar atividades que exigem refinamento dos movimentos de braços e mãos resultam de atrasos e problemas com a coordenação motora grossa.
Vamos começar diferenciando atividades de coordenação motora fina e coordenação motora grossa. Quando falamos de coordenação motora grossa, referimo-nos as habilidades da criança realizar movimentos amplos (conforme a idade), como: andar, subir escadas, correr, pular com dois pés, pular com um pé, arremessar a bola, e assim por diante. Quando falamos de coordenação motora fina, referimo-nos as habilidades relacionadas aos braços, mãos e dedos (membros superiores), por exemplo: alcançar, agarrar, amarrar o cadarço, abotoar, desenhar, escrever, e assim por diante.
Somente após a criança iniciar a fase escolar é que algumas famílias percebem uma maior dificuldade da criança na manipulação de recursos e objetos utilizados na escola ou na creche. Entretanto, nos primeiros dois anos de vida, a presença de atrasos motores e sinais atípicos de movimento geralmente indicam que a criança vai apresentar alterações na coordenação motora grossa, ou seja, vai ter dificuldades nem adquirir e realizar habilidades importantes para a autonomia. Se em movimentos amplos ela se sente desafiada, imagina em movimentos refinados que pedem controle e destreza, será um desafio ainda maior. Problemas com a coordenação motora grossa dificultam a capacidade de realizar tarefas que exigem precisão da mão.
O que influencia essa relação entre coordenação motora grossa e fina? Vou compartilhar cinco fatores, mas existem mais. Consciência corporal, estabilidade postural, coordenação bilateral (dois lados do corpo), processamento tátil, coordenação olho-mão.
A consciência corporal é uma habilidade em que a criança tem boa percepção das partes do seu corpinho; essa habilidade é muito importante e tem relação direta com a fisiologia da criança por conta de receptores de sensações localizados especialmente em músculos e articulações. Em caso de atraso motor, ou hipotonia (baixo tônus), a informação levada ao cérebro pelos receptores é insuficiente para que ela reconheça seu corpo, e dessa forma, insuficiente para realizar as demandas de rotina: correr, pular, arremessar, escalar.
A estabilidade postural é a habilidade da criança se manter em equilíbrio, mesmo que esteja em movimento. O tronco, especialmente a região que chamamos de cintura escapular (região dos ombros), tem grande importância nessa habilidade, pois influencia o alinhamento do corpo em situações desafiadoras (instabilidade e quedas). A estabilidade postural é responsável por manter o tronco da criança seguro para que os membros possam movimentar de forma plena (SERRANO e LUQUE, 2015).
Sobre a coordenação motora bilateral, podemos citar como exemplo crianças que usam um lado do corpo mais que o outro. Até os dois anos de vida, não há predileção; portanto, se um bebê já apresenta preferência em utilizar um dos lados do corpo, ele já tem indicação de fisioterapia. Para crianças acima dessa faixa etária, sugiro avaliação de desenvolvimento e análise postural.
Quanto ao processamento tátil, falamos de um sistema riquíssimo em funções, mas que de forma geral se refere à informação do toque sobre a pele. Entre suas funções, temos a interpretação da informação tátil e a discriminação dessa informação; por exemplo, em caso de aproximação de algo quente, onde essa informação é processada como perigo e funciona como proteção para a criança.
Quanto à coordenação olho-mão, podemos relacionar a capacidade de coordenar movimentos dos olhos à atividade que está sendo realizada. Crianças com dificuldades em coordenação olho-mão geralmente apresentam atrasos de desenvolvimento. Então, como melhorar a coordenação motora? Deixar a criança explorar, acompanhar a autonomia conforme a idade: sentar, ficar em pé, usar as mãos para manipular, se a criança corre, se existem quedas (qual a frequência), se ela participa das aulas de educação física na escola, se gosta de desenhar e escrever. Crianças que apresentam alterações na coordenação motora frequentemente se recusam realizar quase todas as atividades mencionadas. Uma outra forma de acompanhar se as habilidades estão adequadas é: se em caso de bebê, conversar sobre essas dúvidas com o pediatra na consulta mensal; se em idade escolar, conversar com professores sobre o interesse e o desempenho das atividades propostas em ambiente escolar. Se ainda assim não for suficiente, agendar uma avaliação com um fisioterapeuta pediátrico.