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O que é hiperfoco no autismo e como usei os hiperfocos do meu filho a favor de seu desenvolvimento

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Desde o início da nossa
jornada com Gael, um conceito me chamou a atenção pela sua
complexidade e potencial: o *hiperfoco*. Essa característica, é
frequente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e
outras condições neurodiversas, e refere-se a uma intensa
concentração em atividades ou interesses restritivos e específicos.
Embora o hiperfoco possa inicialmente parecer um desafio, descobri
que, quando bem direcionado, ele pode se transformar em uma poderosa
ferramenta para o desenvolvimento.


O primeiro hiperfoco de Gael: o alfabeto

Tudo começou com o alfabeto. Com apenas 2 anos e 11 meses, Gael leu sua primeira palavra, “MINALBA” — uma referência à nossa garrafa de água. Ficamos intrigados, mas ainda não sabíamos do diagnóstico. Gael estava tão imerso no universo das letras que começou a apresentar comportamentos inquietantes: pesadelos com o alfabeto, choros noturnos e falas de letras aleatórias. Esses comportamentos intensificaram nossas preocupações e entre outras situações explicadas no artigo anterior, nos levaram ao diagnóstico de autismo e hiperlexia, uma condição marcada pela leitura precoce.

A intensidade do hiperfoco de Gael no alfabeto foi tão grande que, quando ele iniciou as terapias, precisou-se ajustar a estratégia. Os terapeutas foram instruídos a evitar usar o alfabeto como material de reforço. A sobrecarga de informações em um cérebro ainda jovem causava excesso de estímulo, desregulação emocional significativa desencadeando em crises.

Apesar de ler palavras isoladas, Gael não conseguia se comunicar de maneira funcional. Frases simples como “bom dia, mamãe” ou “quero água” estavam além de suas capacidades. Ele lia palavras sem atribuir-lhes significado prático, de forma desfuncional.


O segundo hiperfoco: música
A música surgiu como um novo e promissor hiperfoco. Aproveitando sua habilidade de leitura, decidimos matriculá-lo em aulas de teclado. Desde o início, o entusiasmo de Gael pela música foi intenso e produtivo. Inscrevemo-lo na Starkids, uma escola de música inclusiva no Rio de Janeiro, que o recebeu com carinho e compreensão.
Na Starkids, Gael desenvolveu seu talento musical, aprendendo a ler partituras e a tocar teclado. A música se tornou uma parte fundamental da sua vida. Ele teve a oportunidade de se apresentar em público, tocando teclado no Teatro Clara Nunes e também se apresentou na escola MapleBear durante a Festa Junina. A música não só promoveu seu desenvolvimento cognitivo e motor, mas também lhe proporcionou um profundo senso de pertencimento e autoaceitação.

O terceiro hiperfoco: bandeiras e países
Aos 4 anos, Gael descobriu um novo hiperfoco: bandeiras e países. Ele começou a decorar bandeiras de países e continentes, o que despertou um amor por conhecimentos gerais. Esse novo hiperfoco o levou a ler mais de 100 livros infantis, ampliando seu repertório verbal e melhorando sua capacidade de interpretação de texto e socialização.
Embora ainda enfrente desafios na interação com pares da mesma idade, a paixão de Gael por novos conhecimentos atrai a atenção dos outros alunos e o ajuda a superar obstáculos sociais, que continua a ser uma de suas maiores dificuldades.

O quarto hiperfoco: LEGO
Finalmente, o último hiperfoco de Gael é o LEGO. Sua paixão por montar peças de LEGO permanece até hoje, e ele aguarda ansiosamente por datas comemorativas para ganhar novos LEGOS. No início, a montagem era lenta, mas ao longo do tempo, sua agilidade aumentou significativamente. Trabalhar com LEGO teve um impacto incrível na coordenação motora fina de Gael, uma área onde ele apresentava atrasos significativos. Hoje, essa prática não só aprimorou sua coordenação, mas também contribuiu com seu raciocínio lógico.

Transformando o hiperfoco em ferramenta de desenvolvimento

Apesar dos desafios iniciais, o caso de Gael me mostrou que, embora o hiperfoco possa ser desafiador, ele pode se transformar em uma vantagem significativa quando direcionado corretamente. Com o suporte apropriado e uma abordagem terapêutica estratégica, é possível transformar características neurodiversas em forças motrizes para o crescimento pessoal. Reconhecer os sinais, ajustar a abordagem conforme necessário e explorar os interesses de forma construtiva são passos essenciais para transformar o hiperfoco em uma poderosa ferramenta para o aprendizado e desenvolvimento contínuo.


Anna Flávia Camargo de Castro
Seja bem-vindo à minha coluna sobre maternidade atípica. Sou mãe de Gael, de 7 anos, autista de suporte 1, com hiperlexia e Altas Habilidades. Minha jornada começou com o diagnóstico de autismo do meu filho, sobrevivente de uma gestação trigemelar. Tornar-me assistente terapêutica e aplicadora ABA foi essencial para ajudá-lo. Nesta coluna, compartilho reflexões, desafios e aprendizados sobre maternidade atípica, usando meu “Método 1:1”, que inclui informações sobre nutrição, tratamentos integrativos, terapias multidisciplinares, manejo em ambientes naturais
e criação positiva.
@annaflaviacamargo_


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