Observar bebês movendo é uma fofura, não tenho dúvidas que essa é uma opinião unânime entre todos aqueles que convivem com bebês; seja por laços familiares ou profissionais. Entretanto, como fisioterapeuta pediátrica, é meu trabalho ir além e buscar informações e respostas acerca do desenvolvimento infantil refletidas nos movimentos apresentados por esses pequenos.
Os movimentos dos bebês iniciam cedo, por volta da décima semana de gestação, quando ainda são considerados fetos. Porém eles são bem pequenos e, portanto, os movimentos são muito sutis. Dessa forma, esses movimentos não são sentidos pelas mamães. À medida que eles vão crescendo e se desenvolvendo dentro do útero, vão descobrindo novos movimentos e novas formas de mover. Os movimentos somente serão sentidos pelas mamães a partir do terceiro mês de gestação.
Podemos afirmar muitas coisas sobre os movimentos que os bebês realizam, uma delas é que a movimentação é uma forma de comunicação e expressão das capacidades de desenvolvimento global; ou seja, o motor, o cognitivo, o sensorial, o visual, o auditivo, o perceptual, o de linguagem, e assim por diante. A observação dos movimentos dos bebês oferece informações valiosas sobre o desenvolvimento e pode indicar a presença de sinais e manifestações relacionadas a disfunções neurológicas. Tais déficits geram conflitos entre o que seria esperado para uma determinada faixa etária, e o que o bebê dessa determinada faixa etária apresenta de fato como repertório.
Sabemos que todos os recém-nascidos e bebês têm suas peculiaridades que envolvem múltiplos fatores, principalmente os maternos, os fetais, os neonatais, os biológicos, e os ambientais, além de alguns mais. Todavia, o desenvolvimento motor típico segue uma mesma trajetória para todos, ou seja, estando o bebê em qualquer faixa etária, já existe uma movimentação ou um marco motor esperado para esse neném. E se por algum motivo esse bebê não consegue alcançar a movimentação ou o repertório de movimento esperado para a faixa etária dele, é importante que ele seja avaliado por um fisioterapeuta.
A observação dos movimentos dos bebês pode ajudar na identificação precoce de desvios no desenvolvimento, oferecendo a oportunidade de intervenção precoce. Vou compartilhar aqui seis perguntinhas que os ajudarão a realizar esse treino de olhar em casa mesmo: 1) Seu bebê mexe sozinho? 2) Ele consegue mudar a posição? 3) Ele faz contato visual? 4) Ele identifica o lado da voz ou ruído? 5) Ele demonstra interesse por objetos ou brinquedinhos que são apresentados a ele? 6) Ele dá sinais que precisa de algo? Por exemplo: chorar ao sentir fome ou estar com fralda suja, bocejar, emitir sons que sugerem queixas.
Entender e atender às necessidades expressas pelos movimentos dos bebês é crucial para seu crescimento saudável, tanto físico quanto emocional. Essa visão vai além do desenvolvimento motor porque prioriza a promoção do desenvolvimento saudável em um contexto maior que apenas realizar funções motoras: rolar, sentar, andar, falar etc.
Gostaria de deixar um convite especial para uma observação diária dos movimentos dos bebês. Meu convite é que observemos todos os movimentos cotidianos do bebê: como mama, como deglute, como respira, como emite som, como reage ao ouvir uma voz humana ou ruído, como brinca, como chora, como sorri, como explora o ambiente, como observa adultos conhecidos e desconhecidos, e como interage com outras crianças. Observar e responder aos movimentos do bebê vai aumentar ainda mais as ferramentas familiares de descoberta dos desejos dos bebês, além de fortalecer o vínculo emocional entre cuidador e bebê, e proporcionar a esse pequeno ser um ambiente seguro e incentivador para seu desenvolvimento.