Por muito tempo as visitas ao dentista durante a gestação aconteciam somente em casos de urgência, uma vez que o tratamento odontológico era visto como um risco a saúde da gestante e do bebê.
O Ministério da Saúde em 2022 lançou o Plano Nacional de Garantia do Pré Natal Odontológico no SUS, com objetivo, dentre outros, orientar gestantes sobre a importância dos cuidados bucais para a sua saúde e a do bebê. Diferente do que acontecia no passado onde a consulta se baseava na realização de procedimentos emergenciais, hoje direcionamos a consulta sobretudo para orientações a gestante.
Já sabemos que no pedido gestacional, a mulher está mais receptiva ao aprendizado das informações passadas. Sendo assim, no pré-natal odontológico, o odontopediatra tem a oportunidade de desmistificar crendices diversas gerando um efeito muito positivo na saúde e desenvolvimento do bebê.
Dentre as alterações sistêmicas na gravidez, destacamos as hormonais que modificam a fisiologia da cavidade bucal podendo causar sangramentos e intensificar inflamações levando à doença periodontal. Diversos estudos relatam que o processo infeccioso da doença periodontal pode causar pré eclampsia, trabalho de parto prematuro e baixo peso do bebê ao nascimento. A causa estaria relacionada a liberação de citocinas inflamatórias liberadas pelo periodonto (tecidos e ossos onde os dentes estão inseridos) que caem na corrente sanguínea, ultrapassam a barreira placentária e estimulam a contração uterina podendo levar ao trabalho de parto prematuro.
Sabemos que nesta fase, muitas mulheres enjoam inclusive com o gosto dos cremes dentais. O aumento dos enjoos e vômitos alteram o ph da cavidade bucal e podem provocar sensibilidade nos dentes e até aparecimento de doença cárie.
Hoje existe um novo foco das consultas com o odontopediatra direcionado ao desenvolvimento do bebê. A avaliação de exames de ultrassonografia pode nos dar vários indícios importantes durante o crescimento craniofacial do feto. Uma posição intrauterina desfavorável ao longo da gestação, como os bebês pélvicos, pode impactar no sucesso da amamentação. A observação dos movimentos de deglutição do feto, pode indicar, por exemplo, uma possível anquiloglossia (língua presa) no bebê. Um bebê que faz sucção de dedo ou uma mão na face que se alonga por semanas, pode causar assimetrias faciais. Todos são exemplos do que podemos observar e assim fazer as devidas orientações às futuras mamães.
“Na minha consulta pré-natal eu peço para vir todos que estarão envolvidos com o bebê: pais, avós e cuidadores. As instruções oferecidas nesse momento, ajudarão a rede de apoio da mãe a ter sucesso na amamentação, tão crucial para saúde e desenvolvimento do bebê. Então falamos de chupetas, mamadeiras, alimentação, respiração e claro, por fim, os dentes.
E se meu bebê já tiver nascido e eu não ter tido essas informações? Quando ir ao odontopediatra?
Assim que possível.
Ainda temos uma cultura de que a primeira visita ao dentista deve acontecer bem depois que todos os dentes nascerem, lá pelos 4 anos de idade da criança. Porém nossa recomendação atual é que a primeira visita ao odontopediatra aconteça ainda nos primeiros dias de vida do bebê. Hoje não falamos somente sobre os dentes: discursamos sobre o desenvolvimento craniofacial do bebê que começa na amamentação e na coordenação de todo complexo de músculos que envolvem todo sistema estomatognático: respiração, sucção, deglutição e posteriormente a mastigação. Desta maneira podemos prevenir não somente as assimetrias faciais e problemas de mal oclusões como problemas respiratórios, asmas, apneia, bruxismo…
Eu costumo dizer que quando o bebê nasce, o pediatra está ocupado em avaliar o bebê como um todo. Nós odontopediatras temos o papel de avaliar as funções relacionadas a boca, ensinar e direcionar as famílias a observar o bom desenvolvimento desse complexo sistema.