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Pequenos, mas com agenda de gente grande

Tempo de Leitura: 6 minutos
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Até que ponto uma agenda cheia de compromissos e responsabilidades pode afetar o desenvolvimento saudável dos nossos filhos?

Quando se trata da educação, muitos pais matriculam os filhos em vários cursos no intuito de oferecer o preparo para as oportunidades do futuro. Mas é importante saber até que ponto essas atitudes podem ser ou não benéficas para as crianças.

Nesta edição, gostaria de esclarecer algumas dúvidas que o os pais trazem para o consultório a respeito da agenda de seus pequenos:

É mais difícil educar as crianças hoje em dia?

Educar filhos sempre foi uma tarefa que exige tempo, dedicação, paciência e vontade. Nos dias de hoje pode estar mais difícil por conta da insegurança, do medo que os pais tem da violência seja nas grandes cidades ou até mesmo nas menores. Outra coisa que acontece também é a competição acirrada. Os pais estão exigindo mais dos seus filhos porque as oportunidades de trabalho exigem mais preparo, mais especialização.

À medida em que as pessoas estão conseguindo estudar mais, ter acesso aos cursos superiores, a cobrança pelo desempenho e produtividade vem na mesma proporção. Antigamente só as famílias mais ricas que podiam dar estudo aos filhos. Hoje o acesso a informação, educação e às escolas está mais fácil. Não diria mais fácil, mas mais acessível, de certa forma. Contudo o acesso às escolas nem sempre quer dizer acesso a boa educação. As pessoas ainda estão carentes de boa educação, e não falo só da escola não, falo da educação que se tem dentro de casa. A sensação é que está mais difícil também, porque hoje as mães trabalham fora, e antes a função de educar era dela. Com pai e mãe trabalhando fora, as coisas podem parecer um pouco mais difíceis.
Uma criança muito ocupada, com uma agenda cheia de atividades, é conveniente para os pais. Mais tarde, quando ela crescer qual será o resultado?

Pode ser conveniente para os pais, mas com o passar do tempo a criança pode se tornar ansiosa e estressada, por ter mil coisas pra fazer, além da escola. Claro que é importante estudar inglês, informática, fazer aulas de balé, de judô ou de futebol. Mas criança tem que brincar. É na brincadeira que ela se desenvolve, se socializa, e adquire as habilidades sociais tão necessárias para a vida adulta. Uma criança com a agenda cheia pode ser bom para os pais agora, mas se ela não estiver fazendo o que ela tem vontade, pode acontecer que se torne um adulto frustrado, por sempre ter feito o que os outros mandavam.

Então, se é pra fazer cursos paralelos à escola, é bom que seja algo que a criança goste. Portanto, seria interessante experimentar alguns cursos, algumas aulas, pra ver se a criança tem afinidade com aquela modalidade e permitir que ela faça escolhas, dentro dos limites, claro. Não adianta também a família querer que o filho faça um curso caro se a família não dispõe de recursos ou comprometeria o orçamento.

Fazendo isso se ensina também que ganhar dinheiro não é fácil e é preciso aprender a lidar com os recursos financeiros. Ou ainda isso pode criar expectativas irreais acerca das habilidades da criança. Não adianta, por exemplo, querer que o filho faça natação, se ele prefere aula de violão, de música. Lembrando que criança precisa ter um tempo pra ela se divertir. Os que são muito pequenos, por exemplo, precisam de um tempinho para dormir, o que vai ajudar no seu desenvolvimento tanto físico quanto intelectual.
Os resultados são os mesmo em todas as crianças?

Cada criança tem o seu ritmo, o seu tempo de desenvolvimento. As crianças que são mais ativas, por exemplo, podem se beneficiar de várias atividades, pois não conseguem ficar muito tempo ociosas. É preciso conhecer o ritmo de cada filho para avaliar se as atividades extras estão trazendo mais benefícios ou prejuízos e fazer as escolhas.
Hoje os pais buscam receitas de como educar seus filhos, tanto que há inúmeros manuais desse tipo em livrarias. Mas na verdade, eles funcionam?

Sim, funcionam. Existem vários livros e existem muito bons livros que propõe soluções para a criação e educação das crianças. A questão é que esse tipo de literatura pode promover ações momentâneas, quando o ideal é que os pais adquiram a capacidade de perceber as necessidades dos seus filhos. Não existe um melhor modelo, ou uma melhor “receita” de como educar filhos. Em algumas situações é preciso que os pais sejam criativos, por exemplo. Seguir à risca esses manuais pode minar a capacidade de fazer descobertas e aprender junto com os filhos.

Sim, criar filhos também é aprender. Não se nasce sabendo ser pai ou mãe, se aprende, e o legal é que se aprende junto com os filhos. Se você optar por algum livro dê sempre preferência aos escritos por alguém que conheça do assunto, pode ser um psicólogo ou terapeuta de família. Tenha sempre cuidado com os que propõe “soluções inovadoras” ou para aqueles que “solucionam todos os problemas”, pois as vezes não correspondem com o que você precisa. Pode ser que tragam enxurradas de informação, e você não consiga absorver o que mais precisa. E você que já não tem tempo para seu filho, será que vai ter tempo de ler um manual que seja?

Minha dica é sempre buscar um profissional especializado que vai direto ao ponto que você está precisando orientação.

É comum ouvir que a criança deve aprender brincando. O que significa isso?

A brincadeira propicia à criança a socialização, a criatividade, a imaginação. A criança cria em seu imaginário o mundo que virá na fase adulta. Quando as crianças brincam de casinha, de boneca, elas estão estimulando o seu lado família, de responsabilidades. Quando brincam em grupo, seja de carrinho, de bicicleta, de jogos estão desenvolvendo as habilidades sociais, necessárias e essenciais ao desenvolvimento das pessoas.

A brincadeira seria, portanto, o treino para a vida adulta. Além claro, de ser o que ela sabe fazer. Criança é um ser em desenvolvimento e o brincar é a capacidade que elas tem, nessa fase de vida, de se expressar, de se familiarizar com o mundo e com o ambiente em que está inserida. Na terapia também usamos as brincadeiras. Daí a expressão do “lúdico” que a gente ouve tanto, que é uma técnica por meio da qual conseguimos identificar as questões que precisam ser trabalhadas com a criança. Essa pode ser uma das formas de ela se expressar, já que está desenvolvendo ainda a capacidade intelectual de expressão das emoções.

Tanta ambição e monitoramento em cima dos filhos podem ser negativos para as crianças. Mas deixá-los “livres” para aprender seria uma solução?

Depende. Liberdade demais e monitoramento demais são excessivos. O ideal é o equilíbrio. A criança deve ter limites. Filhos precisam de limites. O educador e psiquiatra Içami Tiba afirma que os filhos gostam de limites, eles pedem limite aos pais. Os pais precisam mostrar as opções e ajudar os filhos nas suas escolhas orientando para sua formação e futuro pessoal, acadêmico e profissional.

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