Ter autonomia para escovar os dentes sozinho, arrumar a própria mochila, escolher a roupa conforme o clima e ocasião, brincar no parquinho, fazer uma cópia do quadro, conseguir planejar um encontro com os amigos, administrar um medicamento, realizar o gerenciamento financeiro da mesada e preparar uma refeição.
Essas e outras atividades fazem parte do cotidiano no qual muitas vezes nós adultos realizamos de forma automática, mas as crianças e adolescentes necessitam adquirir habilidades motoras, sensoriais, cognitivas, mentais, sociais, entre outras que lhe darão base para executar essas tarefas diárias, e que também se tornam cada vez mais complexas com a chegada da “vida adulta”.
Algumas crianças ou adolescentes, passam a apresentar dificuldades no desempenho ocupacional, já na primeira infância: como recusa alimentar, não saber dar função a um brinquedo, não exploram o ambiente do parquinho, se perdem no passo a passo de pequenas tarefas como tomar banho, escovar os dentes ou preparar um lanche. É neste contexto que o terapeuta ocupacional intervém, quando o paciente tem a necessidade de receber um nível de suporte maior do que o esperado para a idade, no desempenho de suas ocupações.
Então, o processo terapêutico ocupacional se inicia por meio de um processo avaliativo, sendo ele essencial para compreender as necessidades individuais, planejar intervenções eficazes e acompanhar a evolução do paciente ao longo do tempo.
Sem uma avaliação precisa e detalhada, o terapeuta ocupacional pode ter dificuldades em definir os objetivos do tratamento e escolher as estratégias mais adequadas para promover o desenvolvimento e a funcionalidade dos jovens atendidos.
Como é realizada avaliação na Terapia Ocupacional?
A avaliação em Terapia Ocupacional é um processo sistemático e contínuo que busca identificar as habilidades, dificuldades e potenciais do paciente no desempenho das ocupações.
Cada profissional organiza de uma forma, a depender também da necessidade do paciente e idade, precisamos frequentemente de mais sessões para avaliar bebês, outras intercorrências podem acontecer no processo como: o paciente não dormir bem a noite, não ter se alimentado adequadamente nas últimas horas, estar enfermo, entre outras situações variantes e que consequentemente aumentam a duração.
Neste processo para crianças e adolescentes, a avaliação envolve aspectos motores, sensoriais, cognitivos e sociais, considerando o impacto dessas áreas na participação ativa em casa, na escola e em outras atividades do cotidiano ou contextos, são consideradas sempre as principais queixas da família e escola.
O processo avaliativo pode incluir observação direta no espaço terapêutico, aplicação de testes padronizados, entrevistas com familiares e professores, se necessário o profissional também avalia o paciente em outros contextos como escola ou domicílio, além da análise do histórico da criança ou adolescente.
Como produto final da avaliação, temos a elaboração detalhada de um relatório, que deve contemplar com todos os resultados das avaliações padronizadas, testes, registros da observação clínica do paciente, junto ao diagnóstico terapêutico ocupacional, plano de tratamento se houver necessidade de tratamento, assim como possíveis encaminhamentos para outros profissionais.
A seleção de quais escalas, testes, questionários serão utilizados, variam conforme a idade, demanda da criança e família, também da formação do profissional, pois algumas avaliações somente podem ser aplicadas mediante a realização de formações, por exemplo, para mensurar sintomas associados ao TEA (transtorno do espectro autista) TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), as avaliações de integração sensorial, testes motores ou cognitivos.
Para além deste critério, também é necessário identificar se o paciente apresenta habilidades prévias para a avaliação: como imitar ou seguir instruções verbais, assim o terapeuta ocupacional com base no seu raciocínio clínico irá selecionar quais são as melhores avaliações a serem utilizadas, colocando como critério principal não submeter o paciente a testes que não se enquadram no objetivo terapêutico da família ou não há necessidade de ser aplicado no momento inicial da avaliação. Também é válido ressaltar a importância do terapeuta utilizar e apresentar à família avaliações ou check-lists utilizados para mensurar o desempenho ocupacional do paciente.
A importância da avaliação precoce!
Uma avaliação precoce e bem conduzida pode fazer toda a diferença no prognóstico das crianças e adolescentes atendidos na Terapia Ocupacional. Quando há suspeitas de atrasos no desenvolvimento, dificuldades motoras, alterações sensoriais ou desafios na aprendizagem, uma intervenção rápida pode promover melhores resultados a longo prazo.
Por exemplo, crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou dificuldades motoras podem se beneficiar significativamente de uma avaliação precoce, pois isso possibilita a implementação de estratégias específicas para cada caso. Quanto mais cedo as dificuldades forem identificadas, maiores são as chances de desenvolver habilidades compensatórias e promover maior independência e qualidade de vida.
Parceria com a família e a escola
A participação ativa da família e da escola no processo de avaliação e intervenção é essencial para garantir melhores resultados. Pais e professores desempenham um papel fundamental na observação do comportamento da criança em diferentes contextos e na implementação de estratégias sugeridas pelo terapeuta ocupacional.
Dessa forma, investir em uma avaliação criteriosa e individualizada não apenas favorece o desenvolvimento infantil e juvenil, mas também fortalece a rede de apoio envolvendo família, escola e demais profissionais da saúde. A avaliação é, portanto, a base para um atendimento terapêutico de excelência, permitindo que cada criança ou adolescente alcance seu máximo potencial.

Terapeuta Ocupacional, formada pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduanda em desenvolvimento Infantil e Intervenção precoce: modelo centrado na família.
Atua com abordagem de Integração Sensorial de Ayres ®, contribuindo para que crianças e adolescentes desempenhem suas ocupações, com autonomia e independência.
@to.neuropediatria