Venho notando um aumento da procura em meu consultório na busca de avaliação de crianças com atraso de fala ou linguagem. Como otorrino generalista (não foniatra), a principal questão que sou obrigada a investigar é a surdez independentemente do grau, pois a criança precisa ouvir para poder repetir.
Mas afinal, o que consideramos atraso na fala? Esperamos que aos dois anos de idade a criança fale frases de duas a três palavras além de ser capaz de responder sim ou não a algumas perguntas. Não devemos esquecer que ocorrem variações e algumas crianças demoram mais a falar que as outras, porém, aos dois anos levantamos o alarde e a necessidade de avaliação caso essas expectativas não sejam alcançadas.
Tudo começa na anamnese onde coleto informações sobre a história gestacional, o parto, histórico de doenças, outros acompanhamentos ou terapias realizadas, o sono, desenvolvimento neuropsicomotor, comportamentos e história familiar. Essa avaliação é multidisciplinar, envolve pediatra, neuropediatra, fonoaudiólogo e também psicólogo infantil. O otorrino precisa assegurar que esta criança está ouvindo.
Para isso, além da avaliação comportamental da criança durante a consulta, há necessidade de exames complementares. Algumas opções são:
- Otoscopia: é um exame físico do ouvido em que é avaliado se o conduto auditivo externo está pérvio (sem cera, secreção ou corpo estranho) e se há sinais de otite média. A otite média é a principal causa de perda auditiva em crianças devido à secreção na orelha média que altera a condução do som.
- Avaliar o teste de emissões otoacústicas no cartão da criança: Mais conhecido como teste da orelhinha é um exame que faz parte da triagem auditiva neonatal em que todos neonatos com menos de 1 mês de vida no Brasil devem ser submetidos. Caso haja falha a criança é encaminhada para realizar um exame chamado BERA ou PEATE (potencial evocado auditivo de tronco encefálico) em até 30 dias. É importante ressaltar que a aprovação no teste da orelhinha não exclui a possibilidade de perda auditiva tardia ou progressiva.
- BERA ou PEATE: É o principal. Ele avalia a integridade neural das vias auditivas até o tronco cerebral. Necessita ser realizado dormindo ou sob sedação. No caso em questão, uma criança de 2 anos com atraso de fala optamos em solicitar sob sedação.
- Impedanciometria: Como esse exame é possível analisar a mobilidade da membrana timpânica. Permite a diferenciar as patologias condutivas e avalia também o funcionamento da tuba auditiva.
- A audiometria lúdica pode ser feita em crianças de 2-6 anos, porém envolve a aprendizagem da criança em realizar um ato motor após apresentar o estímulo sonoro apresentando assim um índice de falha alto. Devido a essa dificuldade o BERA segue como melhor escolha.
Com os exames em mãos teremos o direcionamento do tratamento. Caso haja o diagnóstico de qualquer grau de surdez o otorrino avaliará o melhor método de tratamento auditivo. Se a integridade auditiva do paciente for confirmada, o paciente seguirá o tratamento multidisciplinar com as demais especialidades, dentre elas, o foniatra que é o médico especializado nos distúrbios de comunicação e aprendizagem, sendo atualmente uma área de atuação da otorrinolaringologia em que exige uma especialização após a conclusão da residência.