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Sharenting – Exposição excessiva de crianças em redes sociais

Tempo de Leitura: 4 minutos
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As redes sociais fazem parte da vida das pessoas há alguns anos. As relações sociais mudaram e hoje se relacionar através delas é o habitual e muitas vezes até necessário por conta de diversos fatores como atividades de trabalho, distância física entre as pessoas, entre outras.

Dentro deste novo modelo de relação, expor a maternidade e paternidade pelas redes é muito frequente. São inúmeros os influenciadores digitais desse segmento, sendo uma parcela deles com informações de fato úteis, outros com um cunho comercial mais importante, muitas vezes superando os objetivos informativos.

Além dos influenciadores, famílias normais ou pais normais, não famosos, expõe suas vidas pelas redes com frequência variável e alguns de forma muito presente nas redes. Ao exercerem essa liberdade na exposição, os pais muitas vezes acabam por expor indevidamente a imagem ou mesmo informações pessoais dos filhos, geralmente crianças, habitualmente sem consentimento dos próprios e colocá-los a depender da situação, em situação de vulnerabilidade. Esse tipo de exposição, conhecida como sharenting – termo em inglês que combina as palavras “share” e “parenting” –, parte de uma tendência crescente e que pode ter consequências indesejadas. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) há algum tempo alerta para os perigos e impactos de longo prazo desse hábito na vida dos menores, trazendo discussões sobre o tema, não apenas entre os pediatras, mas também com as famílias.

O alcance e dimensão de uma postagem é na grande parte dos casos imprevisível. Quem são as pessoas que terão acesso as imagens e postagens é incontrolável em se tratando de redes sociais, havendo o risco das informações serem utilizadas com diferentes finalidades, entre elas roubo de identidade, cyberbullying, fins comerciais e outras ameaças à segurança, como crimes de violência e abusos em redes internacionais de pedofilia ou pornografia. Exposições exageradas de informações de crianças representam uma ameaça à intimidade, vida privada e direito à imagem, como dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Além das postagens feitas pelas próprias famílias, em alguns casos há um incentivo para que as crianças se tornem verdadeiros influenciadores digitais em redes, muitas vezes nem permitidas para a faixa etária, acarretando em riscos para suas imagens, segurança e mesmo desenvolvimento psíquico e emocional, já que a criança tem dificuldade a depender da sua idade de separação com exatidão do que é vida real e digital, pelas falsas imagens que muitas vezes a vida digital possibilita.

Devemos recordar a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o tempo de exposição a telas a depender da faixa etária, o que inclui também uso de redes sociais.

  • Menores de 2 anos – zero telas idealmente, nem passivamente
  • Crianças de 2 a 5 anos – uso de 1 hora/dia sempre com supervisão da família ou cuidadores
  • Crianças de 6 a 10 anos – uso de 1-2horas/dia, também sempre supervisionados
  • Adolescentes de 11 e 18 anos – uso de 2-3 horas/dia, incluindo o tempo de jogos eletrônicos

Quando apresentamos esses números as famílias, 100% delas praticamente acham isso completamente inviável, mas é o recomendável e seguro na infância e adolescência. Estar inserido em redes sociais dificulta muito mais esse controle.

Para as famílias que desejem muito manter as postagens em redes sociais das suas crianças, idealmente essa deve ser feita sob o consentimento dessas, especialmente daquelas maiores que tem um maior discernimento. Ao realizar as postagens, tentem se cercar do máximo possível de proteção, usando redes fechadas, contendo apenas pessoas que sejam muito próximas do seu convívio e confiáveis, tentando garantir quem poderá ter acesso aos seus conteúdos.

Além disso, é fundamental estar sempre próximo dos filhos, supervisionando quem são seus companheiros virtuais, usando de estratégias de segurança digital e principalmente, ressaltando que a vida real é fundamental para o bom desenvolvimento físico e psíquico das crianças.


Dra. Daniela Vinhas Bertolini
Pediatra e Infectopediatra. Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Membro do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Infectopediatra do Programa Estadual e Municipal de IST/Aids de São Paulo
@dradanielabertolini
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