A sífilis é uma doença milenar, havendo várias descrições dela na história da humanidade. Desde a década de 1980, a incidência tem progressivamente aumentado, atingindo não apenas a população geral, mas também e de forma muito expressiva as gestantes, acarretando a elevação dos números de sífilis congênita nos bebês.
Segundo o Boletim Epidemiológico Nacional de 2023, no período de 2005 a 2022, foram notificados no Brasil 535.034 casos de sífilis em gestantes. As estatísticas mostram a presença de casos em todas as classes sociais, não sendo a sífilis uma doença exclusiva de classes menos favorecidas ou de faixas etárias específicas.
A sífilis é uma doença infecciosa, bacteriana, habitualmente de evolução crônica nos adultos, tendo características diferentes nos bebês. Nos adultos, incluindo as gestantes, a transmissão ocorre em quase 100% dos casos por via sexual.
No adulto, incluindo as gestantes, a doença é dividida em sífilis primária, secundária ou terciária dependendo do tempo de doença, podendo ainda ser classificada como latente quando não sabemos há quanto tempo, nem em que fase o paciente se encontra pois ele é assintomático.
O diagnóstico em todas as fases é feito através da história do paciente, exame físico e exames laboratoriais. Na gestante é OBRIGATÓRIO a realização durante o pré-natal dos exames sorológicos para sífilis, pelo menos no 1° e 3° trimestre de gestação. A paciente pode ter sífilis adquirida inclusive em relacionamentos anteriores, estando essa em fase silenciosa, não mostrando sinais da sua presença, havendo sempre chances de transmissão para o feto. Esses exames são obrigatórios tanto em pré-natal realizado em rede pública quanto privada. Além desses momentos, o exame pode ser solicitado em outras etapas da gestação, conforme se fizer necessário.
É de suma importância que os exames sejam também realizados no parceiro dessa gestante, já que como ela, ele pode ter sífilis e desconhecer o diagnostico, havendo chance de transmissão a parceira e consequentemente a gestante ao concepto. Esse monitoramento do parceiro é importantíssimo, assim como seu tratamento, que deve ser realizado junto com o da gestante.
Há ainda a obrigatoriedade da realização do exame de sífilis no momento do parto, tanto em maternidades públicas, quanto as privadas, já que a gestante pode adquirir a sífilis próximo ao momento do parto, posteriormente a data de realização do seu último exame, havendo também a possibilidade de transmissão ao bebê.
Quando diagnosticada na gestante, o tratamento é feito com penicilina benzatina (Benzetacil), sendo esse o único tratamento eficaz para sífilis na gestante, com possibilidade de prevenção da sífilis congênita. A sífilis na gestante é uma doença 100% tratável quando diagnosticada, porém quando isso não ocorre, infelizmente o bebê será acometido por sífilis congênita.
A sífilis congênita é o resultado da disseminação da bactéria causadora da doença da mãe não tratada ou inadequadamente tratada para o bebê. A doença é grave, com chance de abortamentos, óbito fetal, natimortalidade, prematuridade ou quadros clínicos muito graves com meningite, septicemia, lesões ósseas, entre outras. Mais da metade das crianças infectadas nascem assintomáticas e desenvolvem a doença mais tardiamente, a grande maioria até os 3 meses de idade. Quanto mais cedo for o diagnóstico, menores serão as chances de sequelas para essa criança, que podem ser auditivas, oftalmológicas ou neurológicas. Sendo assim é fundamental que esse diagnóstico, mesmo nos bebês sem sintomas, seja feito na maternidade, para que ele já possa ser tratado precocemente, minimizando a possibilidade de sequelas. Para que ocorra esse diagnóstico, é de suma importância a realização dos exames na mãe, durante a gestação e parto, além dos exames no parceiro e nos casos necessários, a investigação no bebê recém-nascido.
O tratamento da sífilis congênita é feito também com penicilina, devendo o bebê permanecer internado para realização dos exames e medicação, por 10 dias. Não existe tratamento via oral para sífilis congênita, sendo esse sempre feito de forma injetável. Após o tratamento a criança deverá realizar um seguimento específico para sífilis congênita com duração de 2 a 5 anos dependendo do caso.
Portanto, o tratamento e seguimento do bebê é bastante complicado e trabalhoso. Tudo isso pode ser evitado com o diagnóstico e tratamento da gestante, evitando-se além de todo o desgaste para o bebê e para família, a possibilidade de desfechos desfavoráveis, como óbito da criança, através deste diagnóstico e tratamento na gestação.
Infelizmente os números de sífilis em gestante e sífilis congênita são assustadores, em todas as regiões, não apenas do Brasil, mas em todo mundo, devendo ser ressaltada novamente, que ela pode ocorrer em qualquer faixa etária, desde adolescentes até idosos, e em todas as classes sociais.
Converse com seu ginecologista ou pediatra sobre a sífilis. Quanto mais a população tiver conhecimento sobre essa terrível doença, mais ela poderá ser diagnosticada e nossos bebês nascerão saudáveis.