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Síndrome de Down, hipotonia e o desenvolvimento da face: O papel da placa palatina de memória

Tempo de Leitura: 4 minutos
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A Trissomia do 21 (T21) ou Síndrome de Down é a alteração genética mais comum relacionada a atrasos no desenvolvimento físico e cognitivo. Indivíduos com T21 apresentam alterações no tônus muscular (hipotonia), desenvolvimento ósseo e funções orofaciais, que impactam diretamente sua qualidade de vida.

Crianças com Síndrome de Down exibem uma série de características craniofaciais típicas. O maior impacto acontece no terço médio da face caracterizado pela hipoplasia maxilar: a maxila (osso superior) é pequena e pouco desenvolvida. O osso inferior, a mandíbula, é relativamente prognata (aparente devido ao subdesenvolvimento da maxila). O palato (céu da boca) é ogival (fundo) e estreito, o que compromete a respiração e a fala. A língua é grande (macroglossia) ou somente volumosa devido ao tamanho reduzido da cavidade oral). Os olhos apresentam espaço entre as pálpebras mais curtos chamados de fendas palpebrais oblíquas, e o nariz é achatado (ponte nasal achatada). A respiração é oral e crônica, devido à obstrução das vias aéreas superiores. Essas alterações são resultado da hipotonia muscular associada à deficiência no crescimento ósseo, que leva a um padrão de desenvolvimento craniofacial desarmônico.

O que é Hipotonia e como ela afeta o desenvolvimento da face?

A hipotonia é uma redução no tônus muscular que afeta a força e a resistência dos músculos. Em bebês com T21, a hipotonia se manifesta desde o nascimento e impacta diretamente o crescimento ósseo, pois os músculos desempenham um papel fundamental na modelação das estruturas ósseas. Ou seja: o trabalho da musculatura que faz os ossos crescerem. Então se os músculos estão flácidos, os ossos não crescem como deveriam. A língua flácida tende a ficar pra fora da boca. Os lábios também hipotônicos não conseguem ficar fechados e guardar a língua. A respiração pelo nariz pouco acontece, pois a falta de tônus nos músculos da faringe e da língua favorece a obstrução respiratória.

Quais as consequências da hipotonia na respiração e nos dentes?

A respiração pela boca provoca o estreitamento da maxila, a mordida fica cruzada (dentes superiores posicionados para dentro em relação aos inferiores) e consequentemente vemos dentes desalinhados e tortos por não caberem nas arcadas. Como grande consequência também vemos o risco aumentado de apneia obstrutiva do sono (AOS), prejudicando o desenvolvimento cognitivo e físico da criança.

Esses fatores reforçam a necessidade de intervenções precoces para estimular o desenvolvimento craniofacial e corrigir essas alterações desde os primeiros meses de vida. Os dentistas com experiência em atendimentos a bebês, podem ajudar a minimizar os impactos da hipotonia sobre eles. Entre as estratégias utilizadas, destaca-se a Placa Palatina de Memória (PPM), uma espécie de aparelho bucal desenvolvido por um médico neurologista argentino, o Dr. Rodolfo Castilho de Morales. A placa é confeccionada em acrílico com detalhes que provocam estímulos específicos na região do palato, lábio e na língua. Ela foi desenvolvida como método coadjuvante no tratamento chamado “Terapia de Regulação Orofacial” que tem por objetivo promover equilíbrio neuromuscular da região de face e pescoço. A placa atua de forma mecânica e proprioceptiva, estimulando o crescimento da maxila; corrigindo a postura lingual, reduzindo a sua protrusão; melhorando a respiração nasal, favorecendo a correta oxigenação cerebral; promovendo o fechamento labial, essencial para o desenvolvimento correto da musculatura orofacial.

A placa foi desenvolvida para bebês com T21 desde os primeiros meses de vida, sendo ideal que se inicie entre 3 a 4 meses de idade. Mas ela também pode ser indicada para qualquer criança onde seja detectado quadro de hipotonia da região da face/cabeça.

A utilização da placa palatina de memória em crianças com T21 faz parte de um tratamento em conjunto com a fonoaudiologia e a fisioterapia. A sua confecção e instalação é feita por dentista, mas a criança precisa estar fazendo fonoterapia para que os resultados desejados sejam alcançados. É preciso que o bebê seja preparado para receber esse dispositivo.

Por isso, a intervenção precoce na hipotonia através do acompanhamento multidisciplinar é fundamental para garantir o melhor desenvolvimento possível para bebês com T21, proporcionando não apenas melhor estética facial, mas também melhora na função respiratória, na alimentação e na fala.


Dra. Gisele Costa Pinto
É dentista Ortodontista e Odontopediatra com foco no acompanhamento do desenvolvimento Craniofacial desde a Gestação
dragiselecp@gmail.com
@giselecostapinto
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