A respiração é uma das funções vitais mais importantes e sua ocorrência deve ser através da respiração nasal, sendo essa fundamental para o adequado desenvolvimento e crescimento craniofacial, e das funções (sucção, mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração) e estruturas (ossos, músculos, articulações, dentes, lábios, língua, bochechas, glândulas, artérias, veias e nervos) do sistema estomatognático.
Podemos definir o respirador oral como o indivíduo que respira principalmente pela boca, por um período de pelo menos seis meses, a partir de qualquer idade, independentemente da etiologia. A permanência da respiração oral durante a fase de crescimento pode ocasionar várias alterações na região craniofacial. Conforme a gravidade e o período de duração desse modo respiratório, alterações podem ocorrer como a posição entreaberta dos lábios na postura habitual; diminuição da função do músculo orbicular; lábio inferior evertido; posição da língua no assoalho bucal ou interposta entre as arcadas dentárias; palato duro estreito e profundo; deformações dentárias; e, alterações nas funções de sucção, de mastigação, da fala e da deglutição.
A causa mais comum da respiração bucal é a obstrução nasal, sendo mais importante ainda quando se trata de crianças, por estarem em crescimento e desenvolvimento. A alteração no modo respiratório pode ser classificada em obstrutivas (desvio de septo, presença de corpo estranho, hiperplasias de mucosa, hiperplasias das tonsilas faríngeas ou palatinas) e não obstrutivas (flacidez dos órgãos fonoarticulatórios e/ ou respiração oral funcional, por hábito). Desta forma, essas alterações podem impedir a passagem de ar pelas narinas, fazendo com que o indivíduo respire pela boca.
As repercussões podem, também, gerar efeitos negativos na qualidade de vida desses indivíduos devido ao seu impacto físico, psicológico e social. A respiração oral na criança pode comprometer a qualidade do sono, o rendimento escolar e a concentração, bem como ocasionar irritabilidade, dificuldade em brincar e limitações em algumas atividades físicas. Quando a qualidade de vida é prejudicada, muitas vezes a conduta médica opta pelo procedimento cirúrgico. A respiração oral acarreta diversas modificações musculares e posturais, que impactam até na mastigação e sono das crianças, sendo um fator de risco para alteração de crescimento em associação com a obstrução crônica das vias aéreas superiores.
O efeito de uma doença sobre a qualidade de vida dos pacientes e seus responsáveis também deve ser considerado durante a escolha de seu tratamento. É de extrema importância e necessária a avaliação fonoaudiológica nos momentos pré e pós-cirúrgico, na medida em que muitas alterações relacionadas com a respiração oral causada pela hipertrofia das tonsilas não são solucionadas somente com a realização da cirurgia e, consequentemente, podem afetar a qualidade de vida das crianças.
O tratamento requer a integração entre as especialidades, sendo o ponto chave para que ele tenha êxito. A equipe interdisciplinar contará com a presença de um cirurgião dentista em conjunto com as áreas da otorrinolaringologia, fonoaudiologia e fisioterapia. No caso de crianças, o ideal é o tratamento interceptivo, que visa incentivar a eliminação dos hábitos bucais nocivos como sucção de dedo, uso da chupeta, entre outros. Após as correções ósseas e dentárias, o paciente deverá ser acompanhado pelo fonoaudiólogo, pois precisará se adequar às novas funções do sistema estomatognático.