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Sistema imunológico e os benefícios da suplementação diária em crianças com Lactobacillus reuteri DSM 17938

Tempo de Leitura: 9 minutos
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patobiontes e os simbiontes. A convivência com eles é possível graças a participação de nosso sistema imunológico. Este regime de harmonia é conhecido como eubiose (equilíbrio), que está diretamente associado ao que chamamos de saúde. Havendo desiquilíbrio surge a disbiose, que pode estar diretamente relacionada com o surgimento de várias afecções e sintomas intestinais e extra intestinais(2).

O que são probióticos?

As bactérias do bem são chamadas de probióticos, definidos pela Organização Mundial da Saúde como “organismos vivos, que quando consumidos em quantidades adequadas, fazem bem para nossa saúde”. A influência benéfica dos probióticos sobre a microbiota intestinal humana inclui funções estruturais, metabólica, protetora e imunológica.

Os tipos e o número de bactérias que nós carregamos são determinados por vários fatores, sendo os dois primeiros anos de vida cruciais. Assim, crianças nascidas de parto cesária, que não receberam aleitamento materno, ou que fizeram uso de antibióticos principalmente no primeiro ano de vida, podem desenvolver uma população bacteriana alterada que vai lhes acompanhar por toda a vida, tornando-as por exemplo mais propensas a doenças alérgicas e autoimunes. Uma maneira de modificar esta alteração é o uso de probióticos.

Os probióticos vão deslocar bactérias ruins, competir por espaço e por nutrientes, ocupar seus receptores, produzir substâncias com poder bactericida (por ex: reuterina), manter a função estrutural de mucosa através de estímulos para produção adequada de muco e anticorpos como a Imunoglobulina A, além da manutenção da estrutura celular intestinal. Essa microbiota pode ainda secretar substâncias benéficas para nosso organismo com ácido fólico e vitamina B12.

Os probióticos promovem através de fermentação de fibras ingeridas, produção de ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, lactato) que tornam nosso intestino mais ácido, dificultando multiplicação de bactérias ruins, mantendo a integridade e a trofia da mucosa e, ao serem absorvidos, interferem de maneira positiva no metabolismo por exemplo da glicose e do colesterol. Estas bactérias chegando ao intestino são reconhecidas por células especiais (dendríticas) que vão dependendo do tipo de bactéria reconhecida, determinar qual a resposta imunológica nosso organismo vai ter, se boa ou ruim para nós mesmos. Assim sendo, é possível o tratamento e prevenção das mais variadas doenças através da suplementação com probóticos(3, 4).

Entretanto, probióticos não são iguais, levando também a respostas imunes diversas. Somos todos Homo sapiens (gênero e espécie), porém somos bastante diferentes uns dos outros, o mesmo se passa com probióticos, tornando necessário que cada gênero e espécie de probióticos receba um número específico que torna possível identificar diferentes cepas, que por sua vez vão apresentar diferentes características. Os efeitos dos probióticos são mantidos enquanto eles são ingeridos, de tal modo que em doenças crônicas sua suplementação deverá ser também crônica e vice versa(5). Uma bactéria ou um produto que contenha bactérias não é considerado probiótico, até que tenha sido comprovada sua eficácia in vitro e in vivo e o que é mais importante, que sua segurança seja muito bem estabelecida. É mister que se ressalte a necessidade da presença de cepas probióticas vivas e em quantidades adequadas no local de ação (intestino). Vários fatores podem interferir na ação de probióticos, passando por como o microorganismo foi cultivado, multiplicado e conservado, além da necessária confirmação da resistência aos efeitos bactericidas do ácido gástrico e enzimas digestivas, garantindo a chegada das cepas no seu local de ação (intestino) vivas e em números adequados, normalmente 109 – 1010 UFC/ ml(6, 7).

A importância do Lactobacillus reuteri DSM 17938 na infância.

Existem vário probióticos, de vários gêneros e espécies, dentre eles se destaca o Lactobacillus reuteri, dentre as várias cepas deste gênero e espécie destacamos o Lactobacillus reuteri DSM 17938 sem dúvida, a mais bem investigada, inclusive umas das cepas mais bem estudadas dentre todos os probióticos(8).

O L. reuteri DSM 17938 foi obtido de leite materno de mães peruanas e desde então tem sido extensivamente estudado, principalmente em crianças, sendo confirmada sua segurança e uma série de efeitos benéficos, que passam por controle de quadros de diarreia, constipação, cólica do recém nascido, intolerância à lactose e efeitos imunológicos(9-15).

Esta cepa específica exerce seu efeito imunológico dificultando o aparecimento de quadros infecciosos intestinais e respiratórios, via imunomodulação, produzindo reuterina, uma substância que funciona como um verdadeiro antibiótico natural, impedindo que agentes infecciosos adiram ao intestino e nos façam mal, produzindo ácidos graxos de cadeia curta que dificultam a sobrevivência de agentes infecciosos patogênicos e diminuindo a permeabilidade inestinal, isto é, dificultando a penetração de bactérias ruins no intestino.

A simples suplementação com probióticos, reforçando o “exército do bem”, faz com que o equilíbrio intestinal (eubiose) seja restabelecido, fazendo com que diminuam as chances de quadros alérgicos e autoimunes(16, 17).

Porque usar Lactobacillus reuteri DSM 17938 cronicamente?

A administração oral com L. reuteri DSM17938 interfere positivamente na produção de várias citocinas inflamatórias podendo reduzir a incidência de dermatite atópica, eczemas alérgicos em seres humanos. Estudos experimentais puderam inclusive mostrar efeitos desta cepa em doenças autoimunes e hiperreatividade brônquica (asma)(18-23). O uso desta cepa específica em crianças tem sido estudada também na prevenção de várias doenças infecciosas, especificamente as diarreias agudas na infância e infecções respiratórias. Estudo conduzido no México estudando um grande número de infantes em creches locais e com grande incidência de diarreia e infecções respiratórias pôde mostrar que as crianças que receberam este probiótico tiveram menos diarreia e doenças respiratórias, com redução da necessidade de uso de antibióticos e consequente redução dos gastos e do absenteísmo dos pais(10).

Conclusões:

Podemos assim concluir que os probióticos exercem sua função benéfica de várias maneiras. Seu efeito é cepa específico. Dentre os mais estudados encontra-se o L. reuteri DSM 17938. Esta cepa apresenta evidências científicas várias que confirmam sua segurança e eficácia para uso em crianças e adultos em várias situações clínicas (reduzindo a cólica do recém-nascido, incidência de diarreias agudas, atopias, eczema e infecções respiratórias em pacientes pediátricos, inclusive com diminuição do uso de antibióticos nesta fase de vida). O uso de crônico de probióticos na infância é seguro trazendo vários benefícios mencionados acima.

Fonte: Dr. Ricardo C. Barbuti

CRM-SP 66103

Médico Assistente Doutor do Departamento de Gastroenterologia do HCFMUSP

Referências

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2.            Butel MJ. Probiotics, gut microbiota and health. Med Mal Infect. 2014;44(1):1-8.

3.            O’Hara AM, Shanahan F. The gut flora as a forgotten organ. EMBO Rep. 2006;7(7):688-93.

4.            Dongarrà ML, Rizzello V, Muccio L, Fries W, Cascio A, Bonaccorsi I, et al. Mucosal immunology and probiotics. Curr Allergy Asthma Rep. 2013;13(1):19-26.

5.            Gupta V, Garg R. Probiotics. Indian J Med Microbiol. 2009;27(3):202-9.

6.            Simrén M, Barbara G, Flint HJ, Spiegel BM, Spiller RC, Vanner S, et al. Intestinal microbiota in functional bowel disorders: a Rome foundation report. Gut. 2013;62(1):159-76.

7.            Jirillo E, Jirillo F, Magrone T. Healthy effects exerted by prebiotics, probiotics, and symbiotics with special reference to their impact on the immune system. Int J Vitam Nutr Res. 2012;82(3):200-8.

8.            Szajewska H, Guarino A, Hojsak I, Indrio F, Kolacek S, Shamir R, et al. Use of probiotics for management of acute gastroenteritis: a position paper by the ESPGHAN Working Group for Probiotics and Prebiotics. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014;58(4):531-9.

9.            Shornikova AV, Casas IA, Mykkänen H, Salo E, Vesikari T. Bacteriotherapy with Lactobacillus reuteri in rotavirus gastroenteritis. Pediatr Infect Dis J. 1997;16(12):1103-7.

10.          Gutierrez-Castrellon P, Lopez-Velazquez G, Diaz-Garcia L, Jimenez-Gutierrez C, Mancilla-Ramirez J, Estevez-Jimenez J, et al. Diarrhea in preschool children and Lactobacillus reuteri: a randomized controlled trial. Pediatrics. 2014;133(4):e904-9.

11.          Weizman Z, Asli G, Alsheikh A. Effect of a probiotic infant formula on infections in child care centers: comparison of two probiotic agents. Pediatrics. 2005;115(1):5-9.

12.          Patman G. Diarrhoea. Lactobacillus reuteri reduces episodes of diarrhoea in healthy children. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2014;11(5):269.

13.          Shornikova AV, Casas IA, Isolauri E, Mykkänen H, Vesikari T. Lactobacillus reuteri as a therapeutic agent in acute diarrhea in young children. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 1997;24(4):399-404.

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16.          Urbańska M, Szajewska H. The efficacy of Lactobacillus reuteri DSM 17938 in infants and children: a review of the current evidence. Eur J Pediatr. 2014;173(10):1327-37.

17.          Szajewska H, Urbańska M, Chmielewska A, Weizman Z, Shamir R. Meta-analysis: Lactobacillus reuteri strain DSM 17938 (and the original strain ATCC 55730) for treating acute gastroenteritis in children. Benef Microbes. 2014;5(3):285-93.

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22.          Liu Y, Tran DQ, Fatheree NY, Marc Rhoads J. Lactobacillus reuteri DSM 17938 differentially modulates effector memory T cells and Foxp3+ regulatory T cells in a mouse model of necrotizing enterocolitis. Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. 2014;307(2):G177-86.

23.          Spinler JK, Sontakke A, Hollister EB, Venable SF, Oh PL, Balderas MA, et al. From prediction to function using evolutionary genomics: human-specific ecotypes of Lactobacillus reuteri have diverse probiotic functions. Genome Biol Evol. 2014;6(7):1772-89.

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