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Suplementos esportivos e adolescentes: quando é indicado o uso destes produtos por esse público?

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Na minha rotina de atendimentos costumo atender não só crianças e adolescentes, mas também adultos, que buscam melhorar a performance nos treinos, mesmo que sejam “atletas amadores”. E nestes casos, pode haver a necessidade da indicação de suplementos, visando otimizar o desempenho esportivo.

E quando se fala em adolescentes, mesmo aqueles que estão começando a praticar musculação, por exemplo, já querem fazer uso de Whey Protein ou da Creatina (dentre outros, como pré-treinos à base de carboidratos de rápida absorção, para garantir energia, ou cafeína, para dar “aquele gás”). Esse público quer resultados não só em termos do aumento das cargas, mas também visam uma finalidade estética. E isso vale para meninas e meninos na fase da adolescência, cada vez mais vaidosos.

Porém, um “sinal de alerta” é ligado automaticamente nos pais, preocupados com os efeitos que tais suplementos esportivos podem acarretar à saúde de seus filhos. O que posso afirmar é que, tanto o Whey Protein (ou fontes de proteína vegetais, para quem é vegano ou possui intolerância ao leite ou alergia à proteína do leite de vaca), quanto a Creatina, são dois suplementos eficazes e seguros. Entretanto, há ressalvas que precisamos deixar claras aqui.

O Whey Protein é composto por uma concentração de aminoácidos essenciais de alta absorção (como a leucina, o BCAA e a glutamina) extraídos do soro do leite. É uma forma prática e segura de conseguir atingir a meta proteica diária, de forma concentrada, porém, é possível conseguir quantidades suficientes deste macronutriente pela alimentação, que deve ser sempre a primeira via adotada.

Já a Creatina, formada pela junção dos aminoácidos arginina, glicina e metionina, é considerada um recurso ergogênico eficaz, graças ao seu papel no ganho de massa muscular e na melhora da performance nos treinos. Entretanto, é preciso levar em consideração certos aspectos. Ao analisar as informações contidas na embalagem deste produto, é possível observar que a idade indicada para utilização deste suplemento é a partir dos 19 anos. Mas teria algum efeito prejudicial à saúde deste público? É um tema controverso.

Antes de entrarmos na polêmica, precisamos entender que, no nosso organismo, a creatina é produzida no fígado, rins e pâncreas, a partir dos aminoácidos citados anteriormente, e ainda pode ser encontrada naturalmente na carne. Há alguns anos este suplemento ganhou uma “má fama”, já que a quebra da creatina no organismo gera a creatinina, que é um marcador de função renal – por isso dizia-se que poderia sobrecarregar os rins. Porém, diversas evidências científicas têm comprovado a segurança e eficácia deste suplemento.

Uma revisão recente, publicada em 2018, na revista científica Frontiers in Nutrition aborda a segurança da suplementação de creatina em adolescentes e jovens ativos, já que a investigação nesta área é limitada. Segundo o estudo, ao fazer parte da rotina alimentar, este suplemento é capaz de aumentar estoques intramusculares de creatina, assim como melhorar a capacidade de exercício e as adaptações ao treinamento, em termos de performance. E além destes benefícios, a pesquisa destaca o uso de creatina em crianças com erros inatos do metabolismo ou até mesmo em doenças neurológicas (por isso muito se fala atualmente do uso do suplemento para melhorar a cognição). Neste cenário, o uso da creatina em adolescentes saudáveis tem grandes chances de ser algo bem tolerado, com riscos reduzidos de efeitos colaterais. A pesquisa ainda destaca um conjunto de estudos da literatura recente com atletas adolescentes que utilizam a creatina, reforçando que o suplemento é bem aceito por esse público – sem contar com os 25 anos de inúmeros artigos científicos comprovando a segurança e eficácia deste suplemento com a finalidade de otimizar resultados clínicos e ergogênicos de diversos públicos.

Já outra revisão de literatura publicada agora em 2023 no Journal of Orthopaedics analisa a suplementação de creatina no atleta pediátrico e adolescente. Na avaliação foram encontrados 13 artigos com um total de 268 indivíduos em todos os estudos, com idade média entre 11,5 anos e 18,2 anos, sendo que 85% dos estudos envolveram jogadores de futebol e nadadores. A conclusão da análise é que há uma lacuna na avaliação da segurança e eficácia da suplementação de creatina em adolescentes. Ou seja, de acordo com a pesquisa, são necessários estudos adicionais para avaliar os efeitos das alterações na composição muscular no crescimento, desenvolvimento e desempenho do atleta em desenvolvimento.

A conclusão que chegamos, analisando apenas dois artigos mais recentes: é possível sim a indicação de creatina para adolescentes, mas é algo que deve ser avaliado de forma individualizada, levando-se em consideração o estado de saúde do paciente, a necessidade do suplemento (de acordo com a intensidade e frequência dos treinos/modalidades). Afinal, ainda existem limitações atuais na tentativa de avaliar o verdadeiro risco e benefício da suplementação de creatina para atletas em formação, nesta fase da vida.

Nutricionista
Viviana Navarro
Pós-graduada em Terapia Nutricional em Pediatria pela UFRJ e também com especialização em Modulação Intestinal. Atende crianças e adolescentes, com foco em reeducação alimentar, a fim de ajudar o paciente a mudar a relação com a comida, sem “terrorismo nutricional”. Também atua junto ao público adulto que visa melhorar performance e àqueles que buscam o emagrecimento.
@vivinavarro.nutri
vivinavarro.nutri@gmail.com
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