Eu e meu marido estamos juntos há 23 anos. Namoramos, noivamos, casamos e tentamos, durante muitos anos, a nossa tão sonhada família, mas a gravidez nunca aconteceu. Tentamos os tratamentos disponíveis sem sucesso, fizemos todos os tipos de exames. Enquanto isso os anos foram passando e seguimos a vida sem ter esse sonho realizado. Vivemos nossas vidas normalmente, realizamos outros projetos, mas continuamos tentando, esperando que um dia desse certo. E eu sempre com um vazio dentro de mim porque sempre senti essa necessidade de ser mãe. Em determinado momento, depois de tantas frustrações, comecei a fazer questionamentos. Por que não consigo de forma natural? Por que não dá certo nem fazendo tratamento? Será que não é pra ser?
Enfim, tentei durante todo esse tempo, com todas as minhas forças, não me abalar e seguir minha vida sendo feliz, mas nunca perdi a fé de que algum dia eu conseguiria. Aos 39 anos, já com a esperança um pouco abalada, decidi me dar mais uma chance… seria a última e pedi muito a Deus que me ajudasse a realizar essa conquista.
Fiz mais um tratamento e então consegui meu tão sonhado positivo. Nunca na minha vida vou me esquecer daquele momento, de ver aquele resultado, o resultado mais importante de toda a minha vida, assim como não esquecerei os meus negativos. Essas lembranças que doem até hoje me relembram o tamanho do milagre e me enchem de gratidão. A gravidez seguiu normalmente até que, por volta das 24, 25 semanas, quando minha pressão começou a subir um pouco, comecei a tomar medicamentos para mantê-la estável, cortei o sal e segui todas as ordens médicas. Fui fazendo meus exames e cuidando muito da minha saúde e do meu bebê.
Um dia, com 28 semanas, num ultrassom de rotina viram que havia muito líquido e pediram para eu ir ao hospital com urgência. Apesar de estar me sentindo muito bem, minha pressão estava muito alta. Então, fizeram mais exames e acabei indo para a UTI. Me disseram que iríamos segurar a gestação até quando fosse possível – estavam pensando em torno de 34, 36 semanas mais ou menos. Mas 2 dias depois me informaram que o parto iria ocorrer, que eu e o bebê corríamos risco de morrer e não poderíamos esperar mais. Então o parto acabou acontecendo no susto. Por mais que eu soubesse que o parto prematuro era um risco, não esperava que fosse tão cedo, de forma tão abrupta.
Mas, enfim, assim foi. O parto foi tranquilo, o bebê nasceu bem. O Anthony chegou nesse mundo com 32cm, pesando 900g. Foi para UTI neonatal e foi entubado. Perdeu peso, chegando a 720g. Foram 2 meses e meio entubado. Um mês após essa internação, ele teve pneumonia e aí foram várias intercorrências graves. Várias tentativas de extubação sem sucesso.
Foram 3 meses de internação no total, meses de desespero, pavor, fé, alegrias, até que finalmente pudemos levá-lo pra casa. Anthony, meu guerreirinho… gostaria muito que as coisas tivessem ocorrido de outra maneira para você. Que fosse mais leve, menos sofrido, mas, enfim, passaria por tudo de novo e de novo porque o resultado não poderia ser melhor: um bebê adorável, maravilhoso, muito melhor que nos meus sonhos. Hoje o sentimento é de amor e gratidão. Nunca cansarei de agradecer por tudo ter dado certo.
Após quase 3 meses em casa vi que ele estava chorando muito e decidimos levá-lo ao hospital. Não tinha nenhum sintoma – febre, tosse, nada – só choro insistente. Lá fizeram um raio x e disseram que eram gases. Que era para levá-lo para casa e dar um banho quente, que logo, logo, tudo ficaria bem. E assim o fiz. No banho ele reclamou muito, o que não era usual, já que ele adorava esse momento de relaxamento. Era na verdade a hora mais gostosa do dia. Achei estranho e tudo dentro de mim gritava: “leva ele pro hospital…” Meu marido falou que não era para levar, que ele estava com gases, que ele era um prematurinho e que enfiá-lo dentro do hospital seria um risco desnecessário, sendo que a gente já sabia o que estava errado com ele. Achei que ele tinha razão e que eu era exagerada.
Enquanto isso, uma médica que meu marido conheceu no trabalho e se interessou pela história, estava sempre perguntando por ele. Tínhamos marcado dela ir em casa no dia seguinte. Mais um motivo para não ir ao hospital. Então ela pediu um vídeo. Eu vi que a respiração dele estava ficando estranha e ele estava ficando molinho e mandei o vídeo para ela. Ela orientou para irmos ao hospital com urgência.
Quando chegamos lá, ela, que é uma médica aposentada, já tinha falado com os médicos de plantão, que já estavam nos esperando. Foi tudo muito rápido. Durante o percurso ele ficou pior a cada minuto que passava. Quando chegamos, fizemos um raio x e viram que ele estava com pneumonia. Foi encaminhado para a UTI pediátrica.
Dia seguinte os exames mostraram piora e ele acabou voltando para o tubo. Foram os piores dias das nossas vidas. Além da pneumonia, ele tinha sepse. Fiquei tentando entender como isso pôde ocorrer. Tomamos todos os cuidados que podíamos com ele. Além disso tinha acabado de vir de outro hospital. Como não viram? Com o passar dos dias, ele só foi piorando. Então, os médicos foram tentando novas abordagens até que uma funcionou e ele começou a apresentar melhora.
Dessa vez foram mais 2 meses no hospital. É uma confusão de sentimentos. Uma dor por vê-lo ter que lutar tanto. Era tudo tão difícil para ele e, ao mesmo tempo, uma gratidão enorme por ele ser forte e corajoso. Os profissionais ao redor dele sempre atenciosos e dispostos.
Se por algum motivo a gente tinha que passar por isso não dá pra não perceber a sorte que tivemos em encontrar pessoas boas, profissionais competentes no nosso caminho. Mais uma vez o sentimento de gratidão era enorme. Em algum momento precisamos de doação de sangue. Conseguimos muito mais do que precisávamos de familiares, amigos e desconhecidos. Após, finalmente sair da UTI, descobrimos através de um exame que ele broncoaspirava e, como estava muito abaixo do peso, para lhe dar tempo para treinar mamadeira com calma resolvemos fazer uma gastrostomia. Uma sonda na barriguinha por onde ele se alimenta. É temporário. Espero que seja por pouco tempo. Agora ele faz os tratamentos, está ganhando peso e, a partir daqui, esperamos que seja sem mais intercorrências.
Quando estava na UTI neonatal me lembro que, para passar mais rápido minhas horas de angústia, procurava sempre casos de prematuros. Ao ver suas histórias eu sempre me recarregava com energias renovadas. Essas histórias me mostraram que era possível que ele sobrevivesse, mesmo com tantas intercorrências e que tudo ficaria bem no final. Era questão de aguardar e confiar. Confiar na equipe que o atendia, confiar em Deus que sempre nos amparou.
Então decidi fazer um Instagram para ele. Lá eu conto um pouco da sua história. Espero que esse insta ajude mamães que passam pelo que passamos. É mais uma história de um prematurinho que sobreviveu. Eu vi uma frase em algum lugar que dizia mais ou menos assim: se você não acredita em milagres é porque você nunca viu um prematuro. Essa frase não poderia ser mais correta. Não tem outra palavra para descrever. E o que sobra da nossa história é gratidão. Por tudo, por todos e principalmente por ele, o amor da nossa vida. Anthony.