No Brasil, apesar dos esforços crescentes, o desconhecimento é um dos principais responsáveis pelo grande número de partos cesáreas. A taxa preconizada para partos cesáreas pela Organização Mundial da Saúde gira em torno de 15%.
Infelizmente, estamos longe desse patamar! Nossos números estão por volta dos 55%, o que coloca o Brasil apenas atrás da República Dominicana.
Diversas medidas são importantes para reduzir esse número, mas certamente a informação é a ferramenta mais potente que dispomos. Então vamos para algumas verdades e alguns mitos sobre o tipo de parto:
- 1. Posso ter um parto normal após ter tido um parto cesárea?
Sim, temos até mesmo uma sigla para isso: VBAC – Vaginal Birth After Cesarean Delivery. Para aumentar as taxas de sucesso do novo parto, alguns pontos devem ser analisados. Dentre eles: a indicação da primeira cesárea (o porquê da escolha), o tempo entre os partos (preferencialmente deve ser maior que 18 meses), se o trabalho de parto começou espontaneamente etc. Dessa forma, a correta indicação médica é que vai indicar o melhor caminho.
- 2. O cordão apareceu no ultrassom enrolado no pescoço. Posso ter parto normal?
Sim. O Cordão Umbilical tem um tamanho variável e a todo momento o bebê se movimenta, podendo mudar repentinamente, ou até mesmo implicar o caso de o bebê nascer com o que chamamos de circular de cordão. Na verdade, o que deve ser feito é uma boa monitorização durante o trabalho de parto, por meio de um exame chamado cardiotocografia intra-parto, a fim de nos permitir atestar a vitalidade do bebê. Uma cardiotografia boa nos dá segurança para continuar. Por outro lado, um exame alterado merece atenção e mudanças podem ser adotadas.
- 3. O peso do meu bebê pela ultrassonografia é de 4000g. Posso ter parto normal?
Depende. Só podemos ter certeza sobre isso após realizarmos o que chamamos de Prova de Trabalho de Parto, de modo a analisar se o bebê poderá passar pela sua pelve. Alguns pontos importantes devem ser lembrados. Primeiramente, a ultrassonografia não é balança, pois ela faz uma estimativa de peso. Então temos uma variação esperada para mais ou menos. Em segundo lugar, se você já tiver um filho anterior, e este tiver nascido com mais de 4000g, já temos mais um ponto positivo. Sua altura e estrutura física também são importantes, uma vez que um bebê grande para uma paciente de 1,50cm é bem diferente se comparado com a situação de uma paciente de 1,80cm!
- 4. Meu bebê fez coco na barriga! E agora?
Aqui novamente a decisão vai depender do exame chamado Cardiotocografia, como também da evolução do trabalho de parto. É bem diferente ter um mecônio no caso de dilatação de 1 cm ou no caso de dilatação total!
- 5. Minha bolsa rompeu e estou sem dilatação! Devo ir para a cesárea?
Não. Se você estava fora de trabalho de parto e sua bolsa rompeu, estamos diante do que chamamos de Rotura Prematura das Membranas Ovulares. Se seu bebê já estava com mais de 37 semanas, consideramos que ele é de Termo. Podemos esperar até 24 horas para ver se você entrará em trabalho de parto, ou ainda, dependendo do seu histórico anterior, preparar o colo com medicações ou instrumentos. Existem alguns protocolos que podem variar de acordo com o hospital escolhido.
- 6. Meu bebê está sentado. Posso ter parto normal?
Depende. Embora não seja uma indicação absoluta de parto cesárea, nesses casos preferencialmente acabamos indicando sim uma cesárea! Por quê? Para evitar a principal a complicação que podemos ter nessa situação. A cabeça derradeira é quando o corpo do bebê sai, e a cabeça fica.
- 7. Minha placenta está baixa. É verdade que precisa ser cesárea?
Sim! A condição chamada Inserção Baixa de Placenta ou Placenta Prévia significa que a placenta oclui o colo uterino. Nesses casos, é necessária uma cesárea eletiva para garantir a segurança da mãe e do feto. Situação grave em que até mesmo o toque vaginal e a relação sexual são contraindicadas.
- 8. É verdade que após duas cesáreas anteriores o próximo parto também será cesárea?
Depende. Existem médicos que fazem sim parto vaginal após duas cesáreas anteriores. Nesses casos, é bom que gestante esteja muito ciente dos riscos envolvidos, como por exemplo a rotura uterina, sangramento aumentado, risco de acretismo, risco de histerectomia puerperal e óbito materno-fetal.
- 9. Tenho 42 anos e o médico indicou cesárea por causa da minha idade. É verdade que não posso ter parto normal?
Não. Em tese, a idade da paciente por si só nada interfere na via de parto, desde que não existam outras complicações ou comorbidades envolvidas. O que ocorre é que o passar dos anos tendem a implicar algumas condições em todas nós. Isso precisa ser devidamente avaliado.
- 10. Estou com pressão alta na gravidez (Pré-Eclâmpsia). Meu parto tem que ser cesárea?
Não. É possível sim que uma gestante com Pré-Eclâmpsia tenha parto vaginal desde que a monitorização da pressão e do bebê esteja sendo feita adequadamente. Até mesmo é possível induzir o parto.
Bom, essas são apenas algumas das centenas de histórias que ouvimos sobre o universo do parto. Informe-se sobre o parto! Há diversas fontes de informação disponíveis hoje em dia. Mas lembre-se: nada substitui um bom atendimento, uma boa conversa e avaliação por parte de sua médica. Isso é garantido a todas as mulheres!
Por fim, não poderia terminar sem a seguinte mensagem: “A escolha da via do parto pode ser importante, mas por vezes foge da nossa primeira vontade. Mais importante, porém, é viver esse momento com um lindo final feliz!
Dra. Larissa Atala
Ginecologista e Obstetra, membro da Febrasgo
Especialista em Endoscopia Ginecológica
@dralarissaatala
dralarissaatala@gmail.com