Olá, mamães! Tudo bem?
Já ouviram falar em transtorno do processamento auditivo?
Eu sei que nem todas as mães irão passar por isto, e não são todas as crianças que têm problemas na aprendizagem, cada criança tem seu ritmo, e claro, aqui estamos falando de aprendizagem na idade correta de amadurecimento, não falamos por exemplo de crianças alfabetizadas aos 4 anos de idade, algo que não condiz com a maturidade neurológica deles.
Este assunto é bem novo para mim, mãe de uma menina que teve vários problemas de aprendizado e inclusive diagnósticos variados, desde hiperatividade a ansiedade e até depressão na idade escolar. Porém como nós mães estamos sempre em busca de auxiliar no crescimento dos nossos filhos, e apoiá-los, ficamos sempre ligadas a todos os assuntos que possam nos ajudar a ajudar nossos filhos.
Distúrbio do Processamento Auditivo Central
Eu creio que para quem está me lendo e recebeu um rótulo do filho como “preguiçoso “que não presta atenção” ou “não quer aprender” por parte do professor, seja muito difícil! Notem, que não estou sendo injusta com o professor, mas com todo um sistema de ensino que coloca todas as crianças num sistema único de aprendizagem e categorização e não leva em conta as diferenças e dificuldades de aprendizado individual de cada criança.
Na minha humilde opinião de leiga, cada escola deveria ter um profissional que suprisse estas dificuldades das crianças. Eu sei que é muito difícil porque por mais atentas que estejamos, precisamos do olhar profissional para nos orientar e trazer luz sobre os processos da aprendizagem, que não são tão simples. Eu tive a sorte de cruzar meu caminho com uma profissional maravilhosa de fonoaudiologia que me apresentou um mundo novo, onde me fez enxergar que rótulos sobre uma criança em fase de aprendizagem é algo muito cruel!
Você mamãe que me lê, se o seu filho não aprende, ouve, mas não entende, tem dificuldade de concentração e de acompanhar a turma da classe, procure um profissional de fonoaudiologia e procure saber sobre Transtorno do processamento auditivo.
Deixo aqui a minha parte na contribuição de informar as mamães, um texto escrito pela fonoaudióloga Erica Peruchi onde ela lança luz a muitos de nossos questionamentos como mães.
Quais os sinais de alteração de processamento auditivo em crianças e adultos?
Eles muitas vezes são rotulados de preguiçosos, desatentos, desinteressados, distraídos e até de antipáticos. Mas podem ser simplesmente pessoas que sofrem de um problema que, embora seja comum, nem sempre é devidamente diagnosticado: o DISTÚRBIO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL (DPAC).
Ter a oportunidade de receber um diagnóstico correto e de passar pelo tratamento adequado é algo que pode mudar completamente a história de vida dessas pessoas. Afinal, do desempenho escolar à carreira profissional, passando pelas relações interpessoais, o indivíduo que tem DPAC vê todas as áreas importantes da vida serem impactadas por esse distúrbio.
O DPAC não impede a audição, mas compromete a correta compreensão e a elaboração daquilo que se ouve. Por isso, essas pessoas sofrem sérios prejuízos na sua capacidade de comunicação e na interação com o ambiente à sua volta. A fonoaudióloga Erica Costa Peruchi, pós-graduanda na área, explica em detalhes sobre esse distúrbio.
Ela ressalta que o DPCA acomete desde crianças na pré-adolescência, até pessoas idosas que, muitas vezes, passaram toda uma vida convivendo com o problema, sem nem sequer desconfiar que ele existe e que tem tratamento. No seu dia a dia, não são poucos os casos com os quais a profissional se depara!
Atualmente, Erica está desenvolvendo um trabalho junto a escolas, orientando pais e professores sobre o que é esse distúrbio e quais são as suas principais características.
Muito comum em nosso dia a dia “Às vezes nos deparamos com profissionais com grande potencial e conhecimento de sua área, mas que têm dificuldades de relacionamento com os colegas e parecem pouco integrados ao grupo. E quando começamos a trabalhar com esses indivíduos, muitas vezes notamos que eles apresentam todas as características de quem tem déficit no processamento auditivo”, revela, explicando que, nesses casos, a pessoa é orientada a fazer testes mais aprofundados para confirmar o diagnóstico e, se for o caso, realizar a devida terapia fonoaudiológica.
Confira, logo mais abaixo, as explicações e dicas da fonoaudióloga sobre o tema
Podemos dizer que processamento auditivo é como o nosso ouvido “conversa” com o nosso cérebro.
Essa definição, que pode ser encontrada na literatura especializada, serve para deixar bem claro que esse é um mecanismo que determina o que fazemos com aquilo que ouvimos. Ou seja, esse processo nos permite, além de captar, classificar, organizar e interpretar os eventos acústicos à nossa volta (ou seja, tudo aquilo que ouvimos). Isso é fundamental para uma comunicação eficiente.
Entretanto, algumas pessoas apresentam falhas nesse processo. São essas pessoas que têm o chamado Distúrbio de Processamento Auditivo (DPAC). Essa é uma questão neurológica, que não tem nada a ver com problemas nos ouvidos propriamente ditos. Também não está diretamente relacionada a um maior ou menor grau de inteligência do paciente.
Em que momento os responsáveis devem recorrer a um especialista?
Sempre que houver qualquer queixa relacionada à audição, linguagem ou dificuldades de aprendizagem. No primeiro momento, é realizada a audiometria tonal e imitanciometria a fim de verificar se há algum grau de perda auditiva. Caso a audição seja normal ou a queixa seja incompatível com o grau de surdez apresentado, podemos investigar o processamento auditivo com uma bateria específica de testes. É importante ressaltar que o exame de audição – a audiometria – é básico e obrigatório em qualquer pessoa com queixas relacionadas à linguagem, fala ou aprendizagem, e pode ser realizado em qualquer idade. Saber como o indivíduo escuta faz parte do diagnóstico diferencial e não devemos fechar diagnóstico de TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), DEL (Distúrbio Específico de Linguagem) sem ter certeza se a pessoa escuta ou não.
Digo isso porque já vi casos de crianças com atrasos da fala ou dificuldades escolares que estavam sendo tratadas como portadoras de alterações fonológicas e até tratadas como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) que mais tarde descobriu-se, pela audiometria, que eram portadoras de perda auditiva de grau leve ou moderado e precisavam usar aparelho auditivo, e não apenas fazer terapia fonoaudiológica, tomar medicamento ou fazer treinamento para o PA. Por isso, a audiometria é sempre pré-requisito e deve ser realizada logo que possível e antes de qualquer diagnóstico ou início de processo terapêutico.
Estando a audição normal, precederemos com o diagnóstico diferencial que contempla a bateria específica de testes de PA, avaliação fonoaudiológica para verificação da linguagem e, em alguns casos, avaliação neuropsicológica. Com os exames completos, o risco de erro de diagnóstico é mínimo.
Mas problema no processamento auditivo pode ser um sintoma de déficits cognitivos ou problemas neurológicos mais graves?
Sim, Quadros que costumam predispor pacientes ao distúrbio do processamento auditivo são, por exemplo, os seguintes: lesões cerebrais, diabetes, lúpus eritematoso sistêmico, problemas psicoafetivos, como psicose, autismo e distúrbios emocionais em geral. Qualquer alteração neurológica que afete regiões do cérebro ou do sistema nervoso central responsáveis pela discriminação e processamento auditivo pode levar ao distúrbio. Isto incluí tumores, AVCs e doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla. Perdas auditivas não tratadas ou aquelas em que o indivíduo demora para reabilitar (por exemplo, demorou para começar a usar um aparelho auditivo) podem levar à disfunção do PA como uma sequela da privação sensorial.
O envelhecimento também afeta o PA. Contudo, o mais comum, principalmente em crianças, são alterações funcionais – sem lesão específica ou diagnosticada – ou atraso de maturação das vias auditivas centrais. Estas disfunções ou atrasos de maturação têm como fatores de risco a prematuridade, intercorrências na gestação ou no parto, anóxia ou cianose, abuso de drogas e álcool, histórico familiar e também as famosas otites na infância.
Como diagnosticar?
Quando há desconfiança da presença do DPA, o diagnóstico é feito através de testes auditivos comportamentais (como audiometria e impedanciometria, que é um exame da “audição” e testes das habilidades do processamento) e se necessário e ou indicado pelo otorrinolaringologista testes eletrofisiológicos (como o BERA). Esses exames são feitos pelo fonoaudiólogo com indicação do médico otorrinolaringologista.
Havendo confirmação do diagnóstico, o tratamento é feito por meio de terapias fonoaudiológicas propriamente dito treinamento auditivo, que reabilita as habilidades alteradas que deverão ser focadas na estimulação auditiva e da linguagem. No caso de crianças, é muito importante também a participação da família e a orientação dos profissionais do ambiente escolar, para saberem lidar com esses indivíduos.
E, quando nos deparamos com casos em que há indícios de coexistência com outros problemas no campo neuropsiquiátrico.
Fazemos também o devido encaminhamento para as avaliações e acompanhamentos por neurologistas infantis ou neuropsicólogos, psicopedagogo por exemplo. Muitas vezes, é necessário realizar um trabalho multidisciplinar.
Quais são os sinais que os pais devem observar nos filhos, que podem ser indícios desse distúrbio?
Os sinais são vários. Principal queixa, eu ouço, mas não compreendo, Entre os sinais que a família pode observar, estão: fala ou linguagem inadequadas à idade; dificuldade para ouvir e compreender o que se ouve em ambientes ruidosos; a criança que parece escutar, mas não entender o que ouve.
Dificuldade para manter uma conversa; dificuldade para anotar aquilo que ouve em sala de aula; dificuldade de aprendizado; dificuldade de manter a atenção e dificuldade de executar instruções orais. Porém, é preciso ter em mente que até certa idade, muito coisa é normal e faz parte do processo de maturação neurológica da criança.
Então qual é a idade em que é possível realmente detectar o Distúrbio do Processamento Auditivo Central?
A fase ideal para fechar o diagnóstico é aos 12 anos de idade, quando ocorre a maturação do sistema nervoso auditivo central (SNAC). Mas é importantíssimo ressaltar que a partir dos 5 anos de idade, já observamos traços do déficit. Então, essa é a idade a partir da qual sugerimos que os pais e/ou educadores busquem um profissional especializado para fazer uma avaliação de linguagem, caso sejam observadas algumas características típicas desse problema.
Nessa fase, se confirmada a demanda, a intervenção precoce será muito importante para o desenvolvimento da criança, que não deve esperar até os 12 anos para iniciar o processo de reabilitação. A partir dos 16 anos podemos sim realizar o teste das habilidades do processamento, mas levamos em consideração as queixas e a eficácia da terapia, independentemente dos resultados obtido
- De que maneira a desordem do processamento auditivo pode impactar, por exemplo, no desempenho escolar de crianças?
Uma criança que escuta mal, que se confunde ou que não consegue prestar atenção no que o professor fala apresenta um grande risco de aprender errado, ou pior, não aprender. - O processo de alfabetização é totalmente dependente de uma boa escuta, afinal a escrita nada mais é do que a representação gráfica dos sons da fala e, para que este processo ocorra da melhor forma possível, é preciso boa consciência fonológica, memória auditiva e discriminação acústica destes sons.
- Outra questão fundamental aqui é: as pesquisas mostram que o fator que mais interfere e prejudica o aprendizado em sala de aula é o nível de ruído competitivo.
E as pessoas, e principalmente as escolas, não se dão conta disso. O tratamento acústico de salas de aula é quase inexistente e isso já faz com que qualquer aluno demande mais força e atenção para se manter concentrado.
Uma criança com alteração do PA fica extremamente vulnerável e em desvantagem nesta situação e, quanto pior for a acústica da sala e maior o nível de ruído ou distorção sonora no ambiente, mais difícil será seu aprendizado, mais esforço será necessário. Ela cansará mais rápido e poderá cometer mais erros.
Conteúdo autorizado para reprodução na Revista Materlife com a fonte retida pelo publicador.
Artigo escrito exclusivamente para o site www.babysaudavelemcena.com.br por Erica Costa Peruchi, fonoaudióloga – CRFª 13850