Quando pensamos em bebês, naturalmente nos vem à mente aquele serzinho de fraldas, e é sobre elas que vamos falar hoje. As fraldas no século 11 já foram feitas de musgo, pelos povos esquimós. Já no século 13 ao 16, na América do Sul, os Incas colocavam grama dentro de pelos de coelho e mais tarde no século 18 estas já eram de linho, flanela, tricô e muito mais parecidas com o que temos atualmente
A dermatite irritativa primária das fraldas, foi descrita pela primeira vez em 1905, por um médico chamado Jacquet, e é a mais comum afecção na área das fraldas em bebês, chamada popularmente de assadura. Ela é bastante prevalente com até 50% dos pequenos afetados e é uma das lesões de pele mais comum da primeira infância.
De uma forma resumida, a explicação para esse evento é multifatorial, iniciando pelo atrito local da fralda, calor e umidade, que causaria uma perda da barreira cutânea, maceração no local e possível infecção por microrganismos. Mas abaixo vou falar um pouco de cada um dos fatores envolvidos.
• Fraldas: começo falando que a fralda ideal ainda não existe. Ela deveria ter boa capacidade de conter água, permitir bom arejamento (menos oclusiva) e mudar de cor imediatamente após a criança urinar. As que temos hoje estão cada vez mais modernas, com tripla camada (uma interna que funciona como filtro, uma intermediária com capacidade de absorção de líquidos, e, finalmente, uma externa à prova de água), sendo essa última, a camada que acaba aumentando a temperatura e umidade local, mas raramente a fralda está implicada, por si só, diretamente na ocorrência dessas lesões.
• Fezes/urina: A amônia sozinha não tem papel primário na dermatite, porém ela causa um processo químico que eleva o pH da pele e com isso pode desencadear as lesões. As fezes possuem sais biliares e enzimas proteolíticas que quando em contato com a pele, causam uma alteração considerável na barreira da pele e podem também corroborar para o aparecimento dessa doença.
• Fricção: Tanto a fricção pele com pele, como pele com fralda é com certeza um dos fatores predisponentes, pois observamos as lesões mais em superfícies convexas, poupando as dobras.
• Irritantes químicos: tem efeito tóxico direto sobre a pele. Loções aplicados na pele, ou até sabão das fraldas podem ser considerados irritantes. Após a dermatite estabelecida vários agentes podem determinar uma maior irritação do quadro, como pomadas, óleos, sabonetes, entre outros.
• Microrganismos: A pele, quando tem suas barreiras de defesa lesadas por qualquer mecanismo, está sujeita à infecção secundária. A dermatite da área das fraldas não é exceção, sendo comum a associação com infecção fúngica ou bacteriana.
As lesões são vermelhas, confluentes e brilhantes, com pequenas bolinhas (pápulas), associado a inchaço local e possível descamação. Atinge, tipicamente, as regiões de maior contato com a fralda e as dobrinhas são geralmente poupadas. A candidose é considerada a principal complicação, com intensificação das lesões locais e algumas lesões satélites.
Existem outras causas importantes de dermatite na área das fraldas, por isso é muito importante que consulte seu médico pediatra ou dermatologista para ser avaliado e descartar doenças como psoríase, dermatite seborreica, entre outros.
O mais importante quando se fala em dermatite da área das fraldas é a prevenção e os cuidados. Por isso, recomenda-se um conjunto de medidas para deixar essa área seca:
• Em relação a frequência da troca de fraldas, não se deve deixar que a fralda supere o seu poder de absorção e assim deixar a pele em contato com a urina. As fraldas com fezes devem ser trocadas imediatamente. Em recém-nascidos a troca deve ser horária e em bebês maiores, a cada 3 – 4 horas.
• Fraldas com alto poder de absorção, no tamanho correto e mais anatômicas possíveis. As fraldas de pano causam uma menor oclusão, mas deixam um maior contato da urina com a pele, o que predispõem as lesões.
• Para limpeza da urina é suficiente o uso de água morna e algodão, sem a necessidade de sabões. Já nas fezes é permitido uso de sabões sempre com enxague após e evitando lenços umedecidos, que podem sensibilizar a causar dermatite de contato. O ideal após usar lenços é enxaguar, pois eles contém sabão.
• Para prevenir o contato da pele danificada com as fezes, os cremes de barreiras, à base de óxido de zinco, dióxido de titânio e amido ou cremes com dexpantenol, se fazem muito úteis. Esses podem ser retirados com óleos e não devem ser retirados a cada muda, pois pode sensibilizar a pele.
• Devem ser evitadas as soluções com ácido bórico; tratamentos caseiros, com clara de ovo e leite; produtos com corantes de anilina, além de desinfetantes e amaciantes.
O tratamento para uma dermatite leve, é uso de fraldas superabsorventes e trocas frequentes. Pode ser utilizado uma solução calmante em alguns casos. Caso não melhore, o tratamento tem a adição de um corticoide tópico, prescrito pelo seu médico, isso é importante pois eles têm características diferentes entre si. Se ainda assim houver manutenção do quadro, pensa-se em infecção secundaria e lançamos mão de pomadas antifúngicas ou antibióticas. Se o caso for persistente, é importante uma investigação adicional das outras prováveis causas como citado acima.
Espero ter ajudado, se ficar alguma dúvida estou aqui, sempre.
Dra. Carla Spido Marchioro
Médica apaixonada por pele, mas acima de tudo por pessoas! Aliando saúde, bem-estar e estética, na busca da sua melhor versão.
Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
Pós-graduada pela IPCG e Especializada em Cosmiatria
@dracarlamarchioro
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