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Surto de coqueluche na atualidade

Tempo de Leitura: 5 minutos
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coqueluche

A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, de distribuição universal, ou seja, acontece em todo mundo, tendo sempre alta transmissão respiratória. Apesar de possível de prevenção com vacina, representa um importante problema de saúde pública, especialmente em crianças pequenas, onde pode levar a complicações graves e até mesmo à morte.

Desde 2023 surtos da doença tem acontecido em vários países, como Bolívia, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Espanha, Suécia, Noruega, Países Baixos, China, Estados Unidos, sendo na grande maioria deles os casos identificados representados por adolescentes, com perfil de maior gravidade se apresentando nas crianças menores.

No período entre 2012-2022, o Brasil notificou 107.432 casos suspeitos de coqueluche, sendo que 30% dos casos foram confirmados, 60% deles em menores de 1 ano de idade e entre estes, 89% concentrando-se nos menores de 6 meses de idade. No Brasil, como nos demais países, o predomínio da doença ocorreu entre adolescentes. Essa elevação de casos faz com que todos, profissionais de saúde e população geral devam estar atentos a doença.

A transmissão da coqueluche ocorre principalmente através de gotículas de secreções da boca, nariz e vias aéreas superiores eliminadas pela fala, tosse e espirro. A transmissão indireta também pode ocorrer, por meio de objetos contaminados com secreções de pessoas doentes, porém é menos comum, pela dificuldade de o agente sobreviver fora do corpo. As crianças pequenas têm como fonte transmissora na imensa maioria dos casos os adultos, sendo o foco familiar os de maior risco.

O período médio de incubação é de 5 a 10 dias, podendo variar de 4 até 21 dias. O período de transmissão geralmente é muito prolongado se o paciente não for tratado, variando desde o 5º dia após o contato com o doente até três semanas após o início da fase final, que consiste em acessos de tosse típicos da doença. Nas crianças menores de 6 meses, pode prolongar-se por até 4 ou 6 semanas após o início da tosse. Por conta disso os doentes com coqueluche devem ser mantidos em isolamento respiratório durante 5 dias após o início do tratamento com antibiótico apropriado. Nos casos não tratados, o tempo de isolamento deve ser de 3 semanas.

Com relação aos sintomas, a coqueluche evolui em três fases sucessivas, a primeira fase é a catarral, que se inicia com manifestações respiratórias e sintomas leves, que duram de uma a duas semanas. A segunda fase é a paroxística, caracterizada pela instalação progressiva de surtos de tosse muito intensa, de difícil controle, algumas vezes até com perda de fôlego, crises de cianose (ficar pálido ou roxo) que pode ser prolongada, durando entre duas até seis semanas. Após isso, temos a fase de convalescença ou recuperação que pode durar de duas a seis semanas, onde os sintomas diminuem gradualmente e a tosse muito intensa é substituída por episódios de tosse comum. A doença como podemos ver, é muito prolongada e desconfortável, especialmente para as crianças pequenas.

É possível complicações respiratórias (principalmente pneumonia), neurológicas (convulsão, encefalite, coma, entre outras), otite, conjuntivite, sangramentos pelo excesso de tosse (nasal, gengival, nos olhos, com aqueles sangramentos conjuntivais) e em casos graves, podemos até ter fratura de costela pela intensidade da tosse.

O diagnóstico é clínico, mas existem exames laboratoriais que o médico solicitará conforme o caso, podendo ser ele de sangue ou naquelas coletas nasais, parecidas com a pesquisa de covid que todos já devem ter realizado.

O tratamento é realizado com uso de antibióticos, além de medidas gerais de repouso, hidratação, lavagem nasal. Os pacientes devem ser afastados de suas atividades habituais (creche, escola, trabalho) por pelo menos 5 dias após o início do tratamento com antibióticos e quem não for tratado deveria ficar isolado até 3 semanas.

Pessoas de risco para doença grave ou em situação de vacinação desconhecida ou incompleta podem realizar prevenção da doença após contato com caso suspeito, com uso de antibióticos. O médico avaliará caso a caso para determinar se esse tratamento preventivo é necessário.

A vacinação é a principal forma de prevenção da doença. A vacina que protege contra coqueluche é a penta ou hexavalente, que contém o componente DPT ou DPTa, que é a tríplice bacteriana (difteria, coqueluche e tétano). A vacinação será aplicada em crianças aos 2, 4 e 6 meses, com reforços com 15 meses e 4 anos. A vacinação é disponível pelo SUS ou rede privada, sendo obrigatória no calendário vacinal oficial do nosso país. Gestantes também devem ser vacinadas, sendo indicado a vacina acelular do tipo adulto (dTpa), devendo ser administrada a cada gestação, a partir da 20ª semana de gestação. Familiares que receberão bebês em casa, como pais, avós, tios também podem ser vacinados para prevenção da coqueluche em si próprios, evitando transmissão para os bebês (lembrando que eles geralmente são as maiores fontes de transmissão nesses casos). Além disso, todos que quiserem ser vacinados na rede privada, também podem receber a vacina a cada 10 anos. Seu médico pode orientá-lo. Assim como em outras vacinas, a cobertura vacinal no Brasil não tem sido a ideal e isso coloca a população em risco. Por isso, mantenham os esquemas vacinais em dia.

Em caso de dúvidas, procure sempre orientação de um profissional de saúde.


Dra. Daniela Vinhas Bertolini
Pediatra e Infectopediatra. Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Membro do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Infectopediatra do Programa Estadual e Municipal de IST/Aids de São Paulo
@dradanielabertolini
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