Despertares noturnos são queixas muito comuns referidas por pais de crianças na primeira infância. Para entender por que eles podem ocorrer, vou começar explicando sobre os ciclos de sono. Durante o sono noturno, as crianças passam por ciclos de sono com duração de aproximadamente 60 minutos, nos quais passam pelas diferentes fases do sono, desde as mais superficiais até a mais profunda. Entre um ciclo e outro, é comum existirem os despertares com movimentos na cama, às vezes com vocalizações, e deve-se retomar o sono novamente. Então, a cada mudança de ciclo, há uma superficialização do sono e muitas vezes com despertar. Mas nem todas as crianças chamam os pais ou vão sorrateiramente para o quarto dos genitores, o que faz parecer equivocadamente que têm sono ininterrupto. Mesmo as crianças que não demandam atenção dos pais de madrugada, possuem os mesmos ciclos de sono com a superficialização entre eles, com a diferença que conseguem se “auto resolver” e voltar a dormir sem a necessidade da ajuda de alguém. Se seu filho acorda, se vira para o outro lado, arruma a coberta, emite um som (pode até ser a palavra “mãe”), procura a naninha, e volta a dormir, é preciso entender que isto é normal, ele sabe como se “auto resolver” e voltar a dormir. Ele já aprendeu o que é a sensação de sono e como dar conta dele por si só. Uma boa orientação é não ir ao quarto dele a cada mínimo som que ele emite, deixe-o tentar se resolver sozinho. Faz parte do aprendizado.
Aprender a adormecer
Crianças com menos de 6 meses ainda tem caracteristicamente sono chamado polifásico, ou seja, não têm ainda melatonina suficiente para terem seu ritmo dia-noite estabelecido. Com o avanço da idade, a melatonina passa a ser liberada no escuro e, fisiologicamente a criança deve ser capaz de ter o sono mais consolidado, o que não implica em não ter os ciclos de sono e despertares noturnos que comentei anteriormente. Mas por que algumas crianças voltam a dormir rapidamente entre um ciclo de sono e outro e outras não conseguem e vão para a cama dos pais ou os chamam desesperadamente?
Na medida que as crianças vão tendo produção de melatonina e conseguem perceber o contraste entre o dia e noite, elas são capazes de aprender a dormir. Dormir é uma ação igual a comer, andar, engatinhar, correr. Estranho, não é? Vou explicar: a sensação de sono que leva ao adormecimento precisa ser entendida pela criança como algo que ela é capaz de fazer sozinha, de forma calma, tranquila, na sua própria cama. Para fazê-la entender e aprender a dormir, a via é a mesma para qualquer aprendizado: repetição, repetição e mais repetição. Todos os dias da mesma forma, com a mesma sequência de, por exemplo, jantar, massagem, banho relaxante, leitura e hora de dormir. Assim, quando se percebe que a criança está bastante sonolenta após esta sequência sugerida acima, é importante colocá-la no berço ainda não completamente adormecida e isto vai ensiná-la a encontrar por si só a melhor forma de adormecer. O importante deste processo é que, na medida que isto é aprendido, a criança passará a se sentir segura quando acordar entre um ciclo de sono e outro no meio da madrugada. Ela saberá o que fazer para reengrenar no sono, que é o que está habituada a fazer quando é colocada sonolenta no berço no início da noite.
Quando a criança aprende a dormir segurando o cabelo da mãe, ou mamando no peito, ela vai querer sentir esta mesma sensação quando desperta entre um ciclo de sono e outro, pois é assim que ela entende o que é adormecer.
Escuto muitas mães falando que o adormecer é um momento de amor entre mãe e filho, que seria rude e desumano não poder dormir com a criança acariciando-a ou mantendo-a no colo ou ainda amamentando. Ninar, acariciar, balançar, tudo é permitido, de acordo com a rotina de cada família. Mas o momento de passar da sonolência intensa ao sono deve ser sem o suporte, para que seja aprendido o que é o ato de adormecer. Dia após dia. Tem criança que parece que já nasce sabendo, outras necessitam da persistência, repetição e paciência dos pais. Quando a criança aprende como se autorregular para adormecer no início da noite em seu berço ou cama, a chance de continuar chamando seus genitores ao longo da madrugada, a cada despertar, diminui drasticamente.
Por último, mas não menos importante, sempre devem ser descartadas as questões orgânicas que podem fazer a criança despertar de madrugada, como nariz congestionado, aumento da adenoide, rinite descompensada, refluxo gastroesofágico, entre outros. Comente sempre sobre o sono de seu filho com seu pediatra, para que ele possa avaliar qualquer questão orgânica subjacente. É muito comum, em uma mesma criança, as questões orgânicas ocorrerem concomitantemente às questões comportamentais. Por exemplo, queixa de nariz entupido levar a maior quantidade de superficializações do sono e, com isso, a depender do aprendizado do adormecer independente, pode ser motivo de muitas chamadas pelos genitores ao longo da madrugada.
Vamos ajudar seu filho a aprender a dormir?