A integração sensorial é um processo neurológico essencial para o desenvolvimento humano. É por meio dele que nosso cérebro recebe, organiza e responde adequadamente aos estímulos do ambiente e do próprio corpo. Quando esse processo ocorre de maneira eficaz, conseguimos desempenhar atividades diárias com facilidade, como escovar os dentes, pentear o cabelo, brincar no parquinho, copiar a matéria do quadro, graduar a força no lápis, até o processamento de emoções.
No entanto, algumas pessoas enfrentam dificuldades no processamento sensorial, o que pode impactar significativamente sua qualidade de vida. É nesse contexto que a Terapia Ocupacional (TO) com abordagem em Integração Sensorial de Ayres, também conhecida como ISA, desempenha um papel fundamental.
O que é a Integração Sensorial?
A teoria da integração sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional e neurocientista Jean Ayres na década de 1970. Segundo ela, o cérebro possui a capacidade de processar informações dos sentidos: tato, audição, visão, olfato, paladar, propriocepção (percepção do próprio corpo) e vestibular (equilíbrio e movimento). Quando há dificuldades nesse processamento, a pessoa pode apresentar problemas de aprendizagem, no comportamento e regulação emocional.
O transtorno do processamento sensorial pode ser diagnosticado de forma isolada ou como comorbidade, sendo comum em crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a Síndrome de Down. Além disso, crianças prematuras também podem apresentar alterações no processamento sensorial. Vale ressaltar que o transtorno de processamento sensorial não está presente apenas na infância, podendo perdurar e impactar durante todas as fases de desenvolvimento, quando não tratado corretamente.
Como funciona o processo avaliativo e diagnóstico?
Os terapeutas ocupacionais utilizam avaliações padronizadas, aliadas à observação clínica, para analisar o desempenho ocupacional do paciente, ou seja, como ele realiza suas atividades cotidianas, como vestir-se, arrumar a mochila, escolher roupas apropriadas para o clima e a ocasião, e utilizar o vaso sanitário, entre outras. Além disso, avaliam o nível de assistência necessário e o motivo pelo qual o cuidador oferece suporte.
A partir do processo avaliativo, serão identificadas as potencialidades e dificuldades do paciente, e elaboradas as hipóteses diagnósticas. Por exemplo, um paciente pode precisar da ajuda dos pais para escovar os dentes devido a dificuldades de coordenação motora, dificuldade em seguir os passos da tarefa, baixo engajamento por um quadro de TPS ou, ainda, apresentar essas dificuldades em conjunto.
Vale ressaltar que, dentro do Transtorno do Processamento Sensorial, existem subcategorias: transtornos de modulação sensorial, discriminação sensorial e transtorno motor de base sensorial. Por isso, é fundamental realizar uma avaliação minuciosa para identificar quais sistemas sensoriais apresentam alterações e a qual subcategoria o paciente pertence. Somente após essa etapa inicia-se o processo de intervenção.
Como funciona a intervenção baseada na abordagem de ISA?
A terapia ocupacional com abordagem em Integração Sensorial é baseada na oferta de estímulos sensoriais para ajudar o sistema nervoso a processar melhor os estímulos.
O setting terapêutico, embora à primeira vista possa parecer um parquinho, é, na verdade, composto por diversos equipamentos desenvolvidos para proporcionar os estímulos necessários para que a criança gere o que chamamos de resposta adaptativa. A Dra. Jean Ayres definiu a resposta adaptativa como “uma ação apropriada em que o indivíduo responde com sucesso a uma exigência do meio”. Exemplos disso incluem manusear um recurso tátil, como tinta, geleca ou massinha, e não apresentar náusea ao estar em movimento em um balanço, entre outras situações.
As atividades são propostas de forma lúdica e prazerosa, respeitando o ritmo e as necessidades de cada paciente.
Quando procurar um Terapeuta Ocupacional Especializado?
Os sinais de dificuldades na integração sensorial podem se manifestar de várias formas. Entre os mais comuns, estão:
- Hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos como sons, luzes, cheiros e texturas;
- Sensível ao toque, não gosta de se sujar nas brincadeiras, reação excessiva a texturas de roupa, etiquetas, dificuldade para cortar unha ou cabelo…;
- Pouca sensibilidade à dor, também se sujar e não perceber.
- Dificuldade em diferenciar texturas, abotoar, amarrar o cabelo, achar algo na mochila sem usar a visão, somente com a discriminação tátil;
- ● Não brincar com cola, massinha de modelar, tinta, geleca ou, quando brinca, tocar apenas com as pontas dos dedos. Ao manusear esses materiais, pode apresentar agitação motora, aumento da salivação, sudorese, entre outros sinais;
- Não tolerar ir em brinquedos de movimento, como escorrega e gira-gira, ou tem medo de subir em escaladas;
- Frequentemente esbarra nas pessoas ou objetos, apresentando pobre consciência corporal ou graduação de força;
- Dificuldade de planejamento motor e resolução de problemas.
Esses são alguns sinais de alerta aos quais vocês pais devem estar atentos. Caso tenha identificado algum desses em seu filho ou paciente, busque um terapeuta ocupacional com certificação em Integração Sensorial de Ayres.

Terapeuta Ocupacional, formada pela Universidade Federal do Paraná. Pós-graduanda em desenvolvimento Infantil e Intervenção precoce: modelo centrado na família.
Atua com abordagem de Integração Sensorial de Ayres ®, contribuindo para que crianças e adolescentes desempenhem suas ocupações, com autonomia e independência.
@to.neuropediatria