Clique e acesse a edição digital

Sono infantil em duas casas: como manter a rotina dos filhos com pais separados

Tempo de Leitura: 4 minutos
Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no email
Mother and her son are posing in the studio and wearing casual clothes

A separação dos pais é uma das experiências mais impactantes na vida de uma criança. Mais do que uma mudança na dinâmica familiar, esse processo pode abalar profundamente sua sensação de segurança, previsibilidade e estabilidade emocional — e o sono, muitas vezes, é um dos primeiros aspectos a refletir essa instabilidade.
O momento de dormir vai além de um simples ato físico: é um espaço de recolhimento que espelha o estado emocional da criança e o ambiente em que ela está inserida.

Crianças que vivem entre dois lares precisam ainda mais de estrutura e apoio para conseguirem descansar com tranquilidade. Quando há falta de consistência nos horários, nos rituais ou na forma de acolhimento oferecida por cada responsável, o sono pode se tornar um desafio — especialmente nos dias de transição entre as casas.
Dormir bem não depende apenas de conforto físico, mas também de vínculo, previsibilidade e afeto estável.

Os pais precisam estar atentos para identificar se as alterações no sono da criança podem indicar um transtorno do sono ou se estão relacionadas a fatores emocionais — como o impacto da separação dos pais, à personalidade da criança, a eventos pontuais ou a hábitos inadequados na rotina e na higiene do sono. Compreender o que está por trás dessas dificuldades é essencial para apoiar a criança no processo de adormecer e na manutenção de um sono noturno saudável e restaurador.

Acolher a criança quando ela acorda chorando ou assustada é sempre importante. No entanto, também é fundamental que ela aprenda, gradualmente, a voltar a dormir sozinha — e esse processo pode começar ainda nos primeiros meses de vida.

Estratégias para promover um sono tranquilo das crianças nos dois lares:

  1. Rotina semelhante em ambos os lares

A ausência de uma rotina consistente pode comprometer o bem-estar emocional das crianças e impactar negativamente a qualidade do sono. Estabelecer uma boa higiene do sono — com horários regulares e rituais tranquilos, como o banho, a leitura e o momento de ir para a cama — oferecem à criança previsibilidade e segurança emocional. Além disso, esses hábitos favorecem o alinhamento do ritmo circadiano, contribuindo para um sono mais estável, profundo e restaurador.

Criar um espaço fixo para dormir, com objetos familiares como travesseiro, cobertor ou bichinho de pelúcia preferido, também reforça a sensação de pertencimento. Essa estratégia é especialmente importante em contextos de guarda compartilhada, pois ajuda a criança a se sentir acolhida e segura em ambos os lares.

  1. Validação emocional com limite
    Medo, saudade e confusão são esperados. Acolher esses sentimentos, sem ceder a todas as demandas, ajuda a manter a segurança interna da criança. Frases como “Entendo que você está com saudade, mas agora é hora de dormir na sua cama” podem ser eficazes.
  1. Diálogo entre os pais
    Mesmo com rotinas diferentes, a comunicação entre os cuidadores precisa ser ativa e cooperativa. Trocar informações sobre o comportamento noturno da criança permite ajustes mais coerentes entre os lares.
  1. Transição suave entre casas
    Evite alterações bruscas de rotina nos dias de troca. Antecipe a mudança com conversa e mantenha os rituais de sono para garantir continuidade.
  1. Atenção a regressões
    Algumas crianças podem voltar a pedir para dormir com os pais ou ter mais medo do escuro. Isso é esperado, mas exige um manejo firme e carinhoso, que reforce a autoconfiança sem negligenciar o cuidado.
  1. Evite reforçadores negativos
    Associações como dormir com tela ligada, comer antes de dormir ou depender da presença constante dos pais podem dificultar a autonomia e o sono reparador.
  1. Busque apoio profissional quando necessário
    Se os distúrbios persistirem e impactarem o dia a dia da criança, psicólogos, pediatras ou especialistas em sono infantil podem ajudar com orientação técnica e emocional.

Atravessar a separação dos pais pode ser menos doloroso quando a criança encontra, em ambas as casas, a segurança de que continua sendo amada e acolhida. E poucas coisas transmitem mais cuidado do que oferecer um sono protegido, previsível e afetuoso.

Com presença, escuta, rotina e limites claros, é possível garantir que, mesmo com dois tetos, a criança tenha um só lar em afeto e estabilidade emocional.

Quando os adultos constroem pontes em vez de muros, o sono — e o coração — da criança descansam em paz.

Cynthia Boscovich
Psicóloga clínica e perinatal. Psicóloga do sono e especialista em transtornos de humor. Colaboradora do GRUDA (Programa de Transtornos afetivos do IPQ/ HC/ FMUSP).
Email: cyboscovich@gmail.com
Tel. 11 5549-1021/11 99687-9087
Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no linkedin
LinkedIn
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no email
Email

Subscribe To Our Newsletter

Subscribe to our email newsletter today to receive updates on the latest news, tutorials and special offers!