Sempre ouvimos falar que toda família tem seu filho preferido – aliás, escutamos isso desde que nós, agora pais, éramos crianças. Não sei para vocês, mas essa história sempre gerou desconforto, questionamentos e nunca se chegou a nenhuma conclusão. A vida de muitos de nós pode até ter ficado marcada por essa ideia. Pensando nisso, proponho essa reflexão: será que existe mesmo o “filho preferido”?
Andei pensando em algo muito interessante tendo como referência minha própria infância, minha maternidade e o rico aprendizado com as famílias que acompanho. E sabem o que percebi? Que temos sim, filhos diferentes. Aliás, isso é extremamente positivo, pois seria muito chato se tivéssemos filhos iguais em suas atitudes e temperamentos. Mas, voltando a nossa reflexão, percebo que o filho com temperamento mais parecido com o dos pais parece ter mais afinidade com eles. Isso faz com que todo o processo de educação seja mais tranquilo, pois a comunicação ocorre com mais facilidade.
Pelo nosso ponto de vista, um filho parecido conosco torna o convívio mais confortável do que um completamente diferente de nós. Mas, será com as diferenças do outro filho que teremos a grande chance de vivenciarmos novos aprendizados. Como se pudéssemos dizer: aquele que se parece conosco traz mais segurança e aquele que é diferente de nós gera mais desafios e, com isso, mais aprendizado.
O inverso também é possível, aquele parecido conosco gera mais dificuldade exatamente pelo fato de sermos tão parecidos. E o diferente nos leva para lugares tão inusitados em nós, que lidamos com mais tranqüilidade.
Por tudo isso, convido você a revermos nossa crença a respeito da possibilidade de alguma preferência para agora, porque não pensarmos nas inúmeras oportunidades, ricas e novas que temos tanto com o parecido quanto com o diferente de nós. Avaliar as crianças por meio deste olhar nos traz a possibilidade de estarmos realmente livres para nos relacionarmos e aprendermos todos os dias nesse convívio tão importante para todos nós e tão ricamente construído diariamente, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo.
Muitos também pensam que a preferência acaba recaindo sobre o filho mais frágil emocionalmente ou mesmo fisicamente. Mas isso também fala de como nós lidamos com nossas fragilidades como pais e seres humanos. Está certo que ver um filho doente ou fragilizado não é tarefa fácil, mas também temos que concordar que nossa postura perante esse fato da vida também refletirá em como a própria criança lidará com ele. Temos então mais uma linda oportunidade de todos aprendermos com esse momento difícil.
O fato é que todos nós, pais, mães, filhos e filhas estamos no mesmo barco, aprendendo, crescendo e vivendo. Ter consciência disso pode fazer toda a diferença em nossa postura como pais e filhos nessa relação viva que dura por toda a vida. O direito de ser quem é sempre, num puro movimento e despertos aos inúmeros chamados para o próximo passo do caminho. Vamos?