Para falar sobre o desmame, antes de mais nada, precisamos falar sobre a experiência da amamentação. A boa amamentação constitui a base para o desmame.
A Organização Mundial de Saúde recomenda que o aleitamento materno seja feito exclusivamente ao seio até os seis meses de idade, não havendo necessidade de dar ao bebê nenhum outro alimento ou bebida complementar. A partir dessa idade, as crianças devem receber outros alimentos – e é nesse momento que tem início o processo de desmame. Entretanto o aleitamento materno deve ser mantido, até elas completarem dois anos.
Hoje há controvérsias em relação ao momento exato em que se deve desmamar o bebê. Do ponto de vista físico e nutricional, não há nada que impeça a continuação do aleitamento materno até os dois anos, mas do ponto de vista psicológico, algumas questões precisam ser colocadas.
As necessidades variam de bebê para bebê, e é sempre esse fator que deve ser levado em conta quando se trata deles. A mãe que está envolvida com o filho tem condições de perceber o melhor momento para desmamá-lo. Segundo Winnicott, psicanalista em que baseio meu trabalho: “seria sentimental nunca desmamar. Mas tudo que é bom deve chegar ao fim e faz parte da coisa boa que ela se acabe”. Essa iniciativa deve partir da mãe e ela terá de ser bastante corajosa para suportar a raiva, a tristeza e a irritação do bebê nessa fase, pois também fazem parte da amamentação.
A mãe que conseguiu ter êxito na amamentação e teve condições de desfrutar na integra essa experiência de grande envolvimento e integração com o filho, pode sentir-se angustiada quando começar a pensar em desmamá-lo. É nessa situação que surgem as questões de cada um. Ambos viveram uma simbiose, e é claro que pode ser difícil não só para o bebê, mas também para a mãe encerrar o processo de amamentação.
Há casos em que o desmame acontece naturalmente, tanto para a mãe quanto para o bebê, quando este já se adaptou à ingerir grande variedade de frutas, verduras, carnes, alimentos mais duros e até a outro tipo de leite. Quando isso ocorre, o aleitamento materno tem apenas a função de confortar e preservar contato entre a mãe e a criança, que também tem muita importância e é bastante saudável.
Vi alguns casos, em que o desmame parte apenas do bebê, até mesmo muito antes do tempo esperado pela mãe. Contudo há também muitos outros em que esse processo é doloroso e apresenta muitas dificuldades. Quando isso se verifica, buscar ajuda terapêutica pode ajudar a mãe a entender o que está acontecendo com ela na relação com seu filho.
As mães precisam estar atentas aos sinais dados pelos bebês, demonstrando que estão prontos para serem desmamados. Nesse momento, porém, elas devem também estar atentas às suas próprias emoções e tentar observar se não estão contribuindo para a dificuldade do processo. Pode ser que para o bebê seja difícil desmamar, mas em alguns casos, talvez a mãe tenha mais problemas nesse sentido do que ele.
Se tudo correu bem durante a amamentação, é possível que o desmame transcorra satisfatoriamente, mas isso não significa que inexistam dificuldades, pois é natural e esperado que o bebê fique até mais manhoso, sensível ou irritado. Talvez ele acorde mais à noite e tenha pesadelos, porque o que está vivendo aparece também em sonhos.
Pode ser que a mãe não queira desmamá-lo, justamente pela dificuldade que tem de se conscientizar de que seu filhinho está crescendo e tornando-se mais independente. Essa dinâmica mãe e bebê apresenta muitos pormenores e, se a colocarmos em uma forma, padronizando o que pode ou não acontecer, correremos o risco de perder os aspectos próprios de cada um. Por isso é importante avaliarmos caso a caso.
O tempo de desmamar o bebê é muito individual, não só para mãe como também para ele. Contudo, não podemos esquecer que cada fase tem suas particularidades e brilho próprio, e o desmame assinala o início de uma nova fase, com novas surpresas e alegrias.