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Relaxar para Engravidar

Tempo de Leitura: 13 minutos
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As cinco mulheres reunidas para o curso de Barbara Blitzer numa noite de quinta feira recente estão tentando aquecer um pouco mais seus corpos. Elas estão sentadas em um círculo de cadeiras e sofás num escritório apertado, seus olhos fechados e pequenos termômetros colados nas almofadas dos dedos.
Blitzer, uma assistente social que se especializou em problemas de fertilidade, as guia numa meditação – “Minhas mãos estão pesadas e quentes. Estou em paz” ela recita devagar. “Minhas mãos estão pesadas e quentes”.

Maxilares soltos, os ombros relaxados contra os travesseiros e – se o exercício de Blitzer estiver funcionando – batimentos cardíacos mais lentos. É a resposta ao relaxamento, onde os vasos sanguíneos dilatam e as mãos e os pés ficam mais quentes com o maior fluxo sanguíneo.

Realmente, quando ela pára e pede ao grupo para olhar para seus termômetros, a temperatura da pele de uma mulher (sujeita a uma variação muito maior do que a temperatura corporal) subiu 13 graus. Sucesso!

A meta destas mulheres não é aumentar seu fluxo sanguíneo, mas sim ter um filho. A esperança é que hoje à noite elas aprenderão como elas podem ajudar o processo.
Apesar de a idéia de que reduzir o stress pode melhorar a fertilidade seja controversa, não é por falta de base científica. Nos anos recentes, diversos estudos em publicações e revistas para médicos ligaram o stress – tanto psicológico quanto físico – à amenorréia (ausência de menstruação), disfunção reprodutiva e taxas mais baixas de implantação em mulheres passando pela Fertilização In Vitro (FIV). Os Institutos Nacionais de Saúde custearam pesquisas sobre o relacionamento entre stress e fertilidade, e os pesquisadores das universidades de Harvard e Stansford também estão estudando este assunto.
Mas muito da medicina tradicional permanece na defensiva sobre a conexão stress-fertilidade, um fato refletido no site da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, uma organização profissional para especialistas em infertilidade. Lá, num prontuário de um paciente de 1996 está anotado “há pouca evidencia de que a infertilidade pode ser causada por stress.” E um comunicado de imprensa de outubro de 2001 do grupo expressa apenas um otimismo cauteloso sobre um estudo ligando os níveis de stress às taxas de sucesso de tratamentos para infertilidade.

“Nós estamos preocupados em passar uma idéia de que se você simplesmente relaxar, você vai engravidar” disse o porta-voz da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, Sean Tipton. “As pessoas pensam que [infertilidade] é algo que os pacientes podem controlar; o que não é o caso.” Ainda assim, ressalta Tipton, quase todas as clínicas de infertilidade têm um especialista em saúde mental para aconselhar os pacientes – mas não apenas sobre stress e ansiedade.

A pergunta chave da pesquisa, é claro, não é se o stress e a fertilidade estão ligados – há uma boa quantidade de evidências que muitas mulheres acham a infertilidade estressante – mas sim se a diminuição do stress pode aumentar a fertilidade. Pelo menos em um estudo, conduzido no Centro Médico Beth Israel Deaconessem Boston e publicado no jornal de Fertilidade e Esterilidade, descobriu-se que sim.

“Já foi bem documentado que a infertilidade causa ansiedade… e nos últimos dois ou três anos houve mais estudos que mostram que o stress afeta negativamente a fertilidade”, disse a líder do estudo, Alice Domar, que chefia o Centro Mente/Corpo para a Saúde da Mulher. “O que nós precisamos descobrir é: é possível aumentar as taxas de gravidez reduzindo o stress antes que os tratamentos de FIV comecem?”

A aluna do curso de Blitzer, Nina Lagervall jura que o programa funciona. Aos 40 anos de idade, ela diz que a sua gravidez saudável de dois anos atrás é o resultado direto das técnicas de redução do stress que aprendeu no curso.
“Eu estava literalmente na minha última tentativa”, disse Lagervall, que havia passado por três anos de tratamentos com drogas e quatro ciclos sem sucesso de FIV. Na quinta tentativa, após várias sessões com Blitzer, seu médico ficou “espantado” por ela responder tão bem ao tratamento. Lagervall disse: “Parecia para mim que claramente trabalhar com a Barbara tinha alguma coisa a ver com isto.”

O Problema da Culpa

A idéia de que o stress pode prejudicar a fertilidade não é tão radical, diz Blitzer, dado tudo o que sabemos sobre como a mente pode afetar a química do corpo. Estudos já mostraram que a depressão enfraquece o sistema nervoso e que o stress prolongado pode (entre outras coisas), aumentar o risco de doenças do coração e exacerbar os sintomas da diabetes.

Mas aceitando a possibilidade de que uma mulher possa controlar seu nível de stress e, portanto, sua fertilidade, você se deparará com uma idéia desconfortável de que a infertilidade pode ser parcialmente culpa dela.

Blitzer e muitos outros adeptos do mente/corpo pisam cuidadosamente neste terreno, lutando para separar a hipótese do controle do peso da hipótese da responsabilidade.

James Gordon, presidente da Comissão da Casa Branca sobre Políticas de Medicina Complementar e Alternativa e diretor do Centro de Medicina para Mente/Corpo em Washington, diz que está acostumado a lidar a dificuldade.

Com o trabalho mente-corpo, ele suspira, “a culpa é sempre um problema. Você deve aprender o que puder e aceitar que não pode estar no controle de tudo.” O que significa que seus esforços podem não ser capazes de melhorar significativamente nem seus poderes de relaxamento, nem sua habilidade de engravidar. Ironicamente, diz ele, aceitar que você pode falhar pode ajudá-la a conseguir.

“Pense na história que provavelmente toda mulher sabe, sobre os casais que adotam uma criança, e então engravidam”, diz Gordon. “É uma anedota”, ele admite, “mas é uma anedota que eu já ouvi várias vezes nos últimos 30 anos em que tenho sido médico. Você meio que desiste e chega a um estado de aceitação, e fica mais fácil.”
Dominando a Mente

Como os cientistas sabem muito bem, teoria é uma coisa. Provar ou colocar em prática é uma outra coisa. Que é a razão pela qual – pelo menos para os que aderiram a tratar a infertilidade através da mente – as pesquisas nesta área estão gerando excitação.

Liderando as pesquisas está a guru do movimento Alice Domar. Como parte do Instituto Médico Mente/Corpo, criado pela Escola de Medicina de Harvard para estudar a resposta de relaxamento e determinar sua utilidade clínica, o centro se gaba de credenciais importantes. Domar, co-autora de “Six Steps to Increased Fertility” (“Seis Passos Para uma Maior Fertilidade” – Simon & Schuster 2000), organiza o “Retiro de Infertilidade dos Fins de Semana”, durante o qual as mulheres ou casais vêm do outro lado do país para aprender estratégias de gerenciamento do stress.

Os médicos, diz Gordon, há muito perceberam uma conexão entre o stress e a infertilidade, mas “o que nós temos agora, particularmente com a pesquisa de Alice Domar, é um tipo de demonstração objetiva.”

Domar também organiza sessões de 10 semanas para grupos (as mesmas que Blitzer usa como modelo) para mulheres com problemas de fertilidade, focando em meditação, relaxamento muscular, aconselhamento nutricional e mudança de padrões de pensamento negativos. “Nós podemos basicamente tratar e curar depressão em 10 semanas”, diz Domar. “Se a gravidez acontecer, eu considero como um bom efeito colateral.”

Mas, como ela se sente feliz em apontar, certamente acontece: dois anos atrás ela publicou no Jornal Fertilidade e Esterilidade um estudo chave de 184 mulheres que estavam tentando engravidar já havia de um a dois anos. Algumas, neste estudo que foi custeado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, foram designadas para o grupo Mente/Corpo de Beth Israel, enquanto outras – o grupo de controle – não passaram por nenhum tratamento, ou apenas por tratamentos de fertilidade. Os pesquisadores acompanharam as participantes por 1 ano. Apenas 20% das mulheres do grupo de controle engravidaram, mas cerca de 55% daquelas no grupo Mente/Corpo engravidaram. “Nós mostramos que grupos de apoio e grupos Mente/Corpo realmente aumentam as taxas de fertilidade”, diz Domar.

Como? “Ainda não é possível determinar”, seu relatório conclui, mas “pesquisas recentes apóiam a teoria de que o stress psicológico pode ter efeitos em inúmeros sistemas, incluindo… a ativação do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal.” Este eixo constitui a resposta lutar ou correr, onde, quando o corpo reage a um perigo percebido, a pressão sanguínea aumenta, os vasos sanguíneos se contraem (por isso as mãos frias, a pulsação aumenta e açúcar é liberado no sangue). Se estas perturbações do sistema nervoso se tornarem crônicas, sugere Domar, elas poderiam “afetar adversamente a ovulação, fertilização, função tubária ou implantação.”

Mas nem todo mundo acredita nisso. Como, pergunta um crítico, a teoria explica o fato de que países em desenvolvimento ou destruídos pela guerra como a Índia, o Afeganistão e Butão – locais onde a vida pode ser muito estressante – têm algumas das mais altas taxas de nascimento do mundo? Isto é perguntado por Masood Khatamee – diretor executivo da Fundação de Pesquisa em Fertilidade e professor na Escola de Medicina da Universidade de Nova Iorque – que vê o papel do stress na fertilidade como provavelmente pequeno. “Se alguém é infértil, você precisa olhar fundo em todas as questões, em cada uma das possibilidades”, ele insiste. “Então, depois disso, você poderá encontrar algum tipo de conexão psicogênica.”

Na verdade, isto é o que as mulheres geralmente fazem – esgotam a maioria das outras alternativas antes de tentar a terapia de relaxamento. Erin Dean, que cuida da loja da área de Washington da Resolve (que é uma Associação Nacional de Infertilidade), diz que, apesar de ter notado mais interesse recentemente em tratamentos mente/corpo, “isto tende a vir de pacientes para os quais a medicina tradicional não funcionou.”

Mas os estudos de Domar têm recebido cada vez mais evidências de apoio científico.

Na edição de outubro de 2001 da Fertilidade e Esterilidade, pesquisadores na Universidade da Califórnia, do Departamento de Medicina Familiar e Preventiva de San Diego liberaram os achados de um estudo que seguiu 151 mulheres passando por tratamentos de FIV. O nível de stress normal das participantes (separado no estudo dos níveis de stress diretamente relacionados ao procedimento de FIV) afeta suas chances de concepção. “Se as mulheres estavam realmente otimistas [o oposto de estressadas e ansiosas] sobre a probabilidade de engravidarem”, explica a líder da pesquisa Hillary Klonoff-Cohen, “então elas tinham um aumento no número de óvulos fertilizados e um aumento no número de embriões transferidos.” Mais ainda, diz ela, “Se as mulheres estavam ansiosas, elas aumentavam suas chances de não ter um bebê saudável em 25%.” Mais pesquisas são necessárias, diz Klonoff-Cohen, mas “o stress de alguma forma está mediando uma mudança de químicas ou hormônios.”

Sarah Berga, diretora da Divisão de Endocrinologia Reprodutiva na Escola de Medicina da Universidade Pittsburgh, está trabalhando para explicar este “de alguma forma” através de um estudo custeado pelos Institutos Nacionais de Saúde. Ela descobriu que mulheres que têm altos níveis de cortisol – um hormônio indicativo de stress – param de liberar óvulos. O que pode curar isto? Reduzir a ansiedade ou tomar remédios para a fertilidade, diz Berga, e a primeira maneira é certamente preferível.

“Quando você está estressada, nós podemos fazer você ovular com remédios injetáveis e você pode engravidar”, diz ela. “Mas você ainda estará estressada. Isto provavelmente não faz bem ao cérebro do feto.”

Emoção Pura

Quando elas chegam até Blitzer, as participantes tendem a estar mais do que um pouco na defensiva.

“É uma questão tão primitiva”, diz uma estudante graduada em Rockville de 44 anos, que, como muitas das mulheres com problemas de fertilidade, insiste em não ser identificada. Ela diz que têm tentado engravidar por 7 anos, um período marcado por um sem número de procedimentos médicos, ataques de pânico e desentendimentos em seu casamento. Trabalhar com Blitzer em grupo ou individualmente, diz ela, a ajudou a não desistir por completo, ou coisa pior.

“Eu chegava aqui em um completo tormento e na hora em que saía, estava bem.”
Não, ela não está grávida, mas ela também não está imobilizada pela depressão e pela ansiedade. No próximo mês ela tentará um óvulo doado, uma opção que ela acha que não teria sido capaz de considerar sem o tipo de ajuda de Blitzer.
Como as de Domar, as sessões de Blitzer duram 10 semanas, mas alguns grupos decidiram manter as reuniões – elas podem ter incorporado o trabalho de relaxamento em seu cotidiano, mas acham que o apoio e a compreensão das pessoas que sofrem do mesmo problema são valiosíssimos. Especialmente quando, como disse uma outra participante, “muitas das minhas amigas estão tendo filhos como coelhos.”

A infertilidade causa stress que causa infertilidade, ao que parece.
Lagervall, cujo filho tem agora 15 meses, diz que entrou em depressão após sua quarta fertilização in vitro que não deu certo. “Eu me sentia muito triste porque meu corpo estava me deixando na mão.”

As emoções são esmiuçadas quando as mulheres pedem por apoio psicológico; elas contam histórias de partir o coração quando amigos e familiares bem intencionados dizem: “E então, quando vocês vão ter filhos?”, aumentando seu sentimento de isolamento, inadequação e frustração.

Algumas destas emoções brutas podem ser vistas nas reuniões de quinta feira à noite de Blitzer. Quando uma mulher chega e descobre que uma outra do grupo acabou de engravidar, ela vai embora na hora, com raiva e chorando. Blitzer ainda não desenvolveu um procedimento para prever tais reações. “É uma questão muito difícil na qual eu ainda estou trabalhando”, diz ela, acrescentando que está pensando em estabelecer um “ritual de saída,” onde a mulher grávida pode se despedir “sem simplesmente desaparecer.”

Não é culpa de ninguém

Mesmo quando elas conseguem aprender sobre meditação, reestruturação cognitiva e outras maneiras de relaxar, algumas mulheres simplesmente não conseguem engravidar. O que Blitzer diz para as mulheres que dominam sua técnica, e se perguntam o que deu errado?

É muito triste e simplista para uma mulher culpar-se pela infertilidade, diz Blitzer. Não há garantia de que a redução do stress resultará em fertilidade; isto simplesmente ajuda a remover mais uma barreira. “Eu digo a elas que o mundo está cheio de todo o tipo de pessoas estressadas que têm filhos, e há muito ainda desconhecido sobre a infertilidade por enquanto”, ela explica. “Mas eu sei com certeza que o stress não é bom para o corpo.”

Antes de qualquer coisa, ela e outros defensores da redução do stress aconselham as mulheres a ver este trabalho como uma ferramenta para uma vida melhor; uma medida de paz interior é uma boa coisa em si. Diminuir a depressão e o stress é inegavelmente benéfico para qualquer um – não apenas para mulheres tentando ter filhos.

“A vida é complicada”, acrescenta Blitzer, “nós estamos apenas tentando criando todas as bases, e uma dessas bases que é a que estamos cobrindo, fará com que você se sinta melhor.”

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