Os testes se baseiam na análise do cromossomo Y, um conjunto de material genético que é passado sem alterações (a não ser que haja mutações) de pai para filho.
Por causa desse padrão de herança, homens com o mesmo sobrenome podem também compartilhar marcas genéticas no cromossomo Y.
Segundo o presidente da empresa americana especializada em testes genéticos Family Tree DNA, Bennett Greenspan, pelo menos 30 homens já encontraram seus “sobrenomes biológicos” dessa maneira com a ajuda da companhia.
Banco de dados
A Family Tree DNA, com sede em Houston tem um banco de dados online chamado Ysearch contendo informações genéticas de 125 mil homens, juntamente com sobrenomes e dados genealógicos.
“Há várias pessoas que são filhos adotivos, realizaram testes conosco, encontraram semelhanças genéticas com vários indivíduos do mesmo sobrenome e, provavelmente, não conseguiram encontrar semelhanças com nenhuma outra pessoa com um sobrenome diferente”, explicou Greenspan.
“A partir daí, eles sabem que pelo menos encontraram o sobrenome (da família de origem) e podem começar a procurar (pelo pai) na cidade em que nasceram”, afirma.
Na opinião de Greenspan, para algumas pessoas seria praticamente impossível descobrir o sobrenome de seu pai biológico de qualquer outra maneira.
“Prova concreta”
Chandler Barber, um americano de 37 anos de Dallas, que foi adotado ao nascer, disse que ficou sabendo sobre essa possibilidade de descobrir o seu sobrenome verdadeiro por meio de uma reportagem em uma revista.
Das seis pessoas encontradas em Ysearch que tinham marcas genéticas semelhantes à do cromossomo Y dele, todas tinham variantes do sobrenome Ritchie.
“Era uma prova bem concreta”, disse Barber à BBC.
“É uma maneira rápida e pouco trabalhosa de descobrir pelo menos alguma coisa sobre sua história. Eu tenho certeza que há pessoas que têm procurado por seus pais a pé e com lápis e papel na mão por anos e não encontraram nada.”
Nomes comuns
A ligação entre o sobrenome e a semelhança das características genéticas do cromossomo Y fica mais forte à medida que o sobrenome é mais raro.
“Se você tem um sobrenome que é relativamente raro, mas não tão raro que as chances de outra pessoa ter o mesmo sobrenome sejam muitos pequenas, então você pode ter sorte”, disse Mark Jobling, professor de genética da Universidade de Leicester, na Inglaterra, que não tem ligação com a Family Tree DNA.
Mas Jobling diz que, mesmo com sobrenomes relativamente comuns, é possível encontrar pistas genéticas associando a pessoa à “dinastias”.
“Em um sobrenome como Jefferson, por exemplo, que é bastante comum, você encontra vários desses pequenos grupos de dinastias. Há identidade entre esses grupos, mas há muitos deles”, explica.
Ele afirma que esses padrões gerais podem variar de um país para o outro e que algumas “marcas genéticas” podem estar presentes em dois ou mais sobrenomes, o que pode levar a conclusões erradas.
Segundo o geneticista Sérgio Danilo Pena, professor titular de bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do Laboratório Gene, é possível fazer no Brasil o teste do DNA do cromossomo Y, mas não há bancos de dados genéticos com sobrenomes que permitam fazer o teste oferecido pela Family Tree DNA.