Depois de todo o furacão e com o diagnóstico em mãos, veio o luto inicial. Eu não sabia nada sobre autismo e muito menos o terreno em que estava pisando. Foi um choque, uma sensação de perda do futuro que eu havia traçado. Precisei digerir e entender que, dali para frente, minha vida seria diferente. Agora eu era uma mãe atípica, mãe de uma criança neurodivergente.
Uma força maior tomou conta de mim, uma força chamada amor. Meu filho precisava de mim, e o tempo era curto. Resolvi arregaçar as mangas, deixando os melindres e o luto para trás, e fui atrás de respostas. O primeiro passo foi bem solitário. Se nem os diversos pediatras pelos quais eu havia levado o Gael antes do diagnóstico sabiam, imagine minha família ou a do meu marido. Não havia ninguém próximo que entendesse sobre o tema, estavam todos a nossa volta perdidos também, ou seja, não tinha para onde correr. Tinha um laudo em mãos e algumas informações do neuro, mas ainda estava no início dessa jornada e tinha um longo caminho pela frente. Era eu, meu marido, Gael e Deus. Sim, sou cristã, e minha fé é gigante. A forma prática que encontrei foi pesquisar na internet. Fui atrás de informações e descobri uma clínica multidisciplinar de neuroreabilitação infantil perto de casa, a Follow Kids no Rio de Janeiro.
Fiz uma consulta com a proprietária da clínica, Marcella de Oliveira, que nos informou todos os tratamentos que Gael precisaria realizar. Me assustei com a lista inicial: fonoaudiologia, musicoterapia, habilidades sociais, hidroterapia, psicomotricidade, equoterapia, e infinitas sessões de psicologia, sendo que todos os profissionais precisavam ser aplicadores ABA, DENVER ou FLOORTIME. Era tudo muito novo para mim, e Marcella deixou claro: “Seja rápida, vá atrás do seu plano de saúde, porque para o autista a primeira infância é um período crítico de neuroplasticidade fundamental para avanços significativos no desenvolvimento.”
Imediatamente solicitei ao plano de saúde a cobertura completa do tratamento, mas primeiramente foi ignorado e depois negado. Por sorte, ou melhor, por Deus, uma pessoa, Taty, passou por nossas vidas e indicou a primeira advogada do caso do Gael, Dra. Adriani Lisboa, que prontamente se ofereceu a nos ajudar. Enviamos o protocolo com a negativa do plano de saúde e Dra. Adriani protocolou judicialmente e logo nos disse: “Vamos falar com a juíza pessoalmente no plantão da madrugada. Vamos pedir atenção, vamos implorar, mas vamos!” Ignoramos a pandemia e partimos para o centro do Rio de Janeiro tentar uma oportunidade de pedir a liberação do tratamento do Gael a uma juíza que nunca havíamos visto na vida. Chegamos lá, e ela não nos atendeu. Voltamos desolados, mas o movimento foi positivo, estávamos focados em vencer, desistir não era uma opção.
Como um passe de mágica, ou melhor, como um milagre de Deus, pouco tempo depois, exatamente no dia 12 de março, dia do meu aniversário, saiu a liminar liberando TODOS os tratamentos de Gael, com exceção da assistente terapêutica domiciliar.
Foi inacreditável pela rapidez com que tudo aconteceu. No dia do meu aniversário, recebi o melhor presente que uma mãe atípica poderia receber naquele momento: o tratamento do meu filho autista, sobrevivente de uma gestação trigemelar, estava liberado e pronto para iniciar! Estávamos esperançosos e prontos para mais uma nova etapa em nossas vidas!