Antes mesmo do diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) do meu filho Gael, como atriz, utilizei a modulação de voz dramatizada para estimular sua comunicação. Aos 6 meses, percebi que Gael tinha dificuldades em fazer contato visual e responder quando chamado. Como mãe de primeira viagem, achei que isso seria uma fase passageira e, de forma intuitiva, apliquei uma técnica de ajuste do tom, ritmo e entonação da minha voz para facilitar os comandos práticos e estimular a comunicação de forma lúdica. Eliminei punições verbais e substituí frases como “não pode” por alternativas lúdicas e humanizadas, sempre respeitando o tempo de resposta de Gael. Esse formato criou um ambiente acolhedor e seguro, proporcionando maior clareza e redução da ansiedade. Assim, Gael compreendia melhor o que era esperado dele e respondia de forma mais cooperativa, permitindo-me conquistar minutos preciosos de atenção compartilhada.
Após o diagnóstico, aprofundei meus estudos e percebi que, sem saber, estava utilizando uma forma adaptada de Dramaterapia, baseada em intervenções naturalistas. Essa abordagem cientificamente comprovada é poderosa para crianças com TEA, promovendo avanços nas habilidades motoras, sociais, cognitivas e emocionais. A minha técnica adaptada ajudou a introduzir comandos, estimulando a autonomia de Gael e intervindo com sucesso em momentos de crises e comportamentos disruptivos. Essa técnica posteriormente se tornou a base do meu método, que batizei de “Método 1:1”.
Comprovação Científica da Dramaterapia para Indivíduos com TEA
Foi o neuropediatra Dr. Rafael Engel quem me ajudou a entender a importância científica da Dramaterapia no tratamento de Gael. Ele destacou a necessidade de incorporar a dramaterapia em protocolos terapêuticos multidisciplinares, tanto nas práticas realizadas em ambientes naturais quanto nas sessões clínicas com profissionais especializados em TEA, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos e fonoaudiólogos. Dr. Rafael é um defensor de métodos globais inovadores e cientificamente comprovados, como a dramaterapia, reconhecida mundialmente por sua eficácia no tratamento de crianças com TEA.
A dramaterapia, quando combinada com o ABA naturalista, favorece o desenvolvimento motor e social, envolvendo atividades como imitação de movimentos e encenação de cenas cotidianas. Movimentos amplos e gestos repetitivos são fundamentais para o desenvolvimento motor, enquanto a imitação e a interação com os outros incentivam a socialização. A dramaterapia cria um espaço seguro onde a criança pode aprender a observar, imitar e responder a gestos e expressões faciais, adquirindo habilidades de turnos e limites interpessoais.
Além disso, a dramatização tem beneficiado o desenvolvimento cognitivo de Gael, especialmente nas áreas de planejamento, resolução de problemas e memória. A técnica adaptada no Método 1:1 trabalha a previsibilidade de maneira lúdica, ensinando sequências lógicas e aprimorando o planejamento. A expressão emocional através do teatro ajuda Gael a compreender melhor seus próprios sentimentos e os dos outros, promovendo o desenvolvimento da empatia.
A Importância da Dramaterapia no Ambiente Familiar
A autonomia é um dos principais objetivos das intervenções para crianças com TEA, e a dramaterapia permite que a criança tome decisões, explore alternativas, trabalhe a previsibilidade e desenvolva autoconfiança. No caso de Gael, aplicar a dramaterapia no ambiente familiar foi essencial para manter uma comunicação contínua e segura, fortalecer o vínculo entre nós e promover o aprendizado.
O sucesso que temos visto no desenvolvimento de Gael, que era não verbal, é um reflexo claro de como a empatia e o conhecimento aplicado com sensibilidade podem transformar vidas, promovendo o desenvolvimento integral e a inclusão.
Além da dramaterapia clínica, Gael também participa de aulas de teatro convencionais com o diretor Bruno Pereira, da ICBP Studios, contando com o suporte especializado de Bruna Rodrigues, assistente terapêutica e pedagoga com expertise em TEA. Cada progresso de Gael reforça a importância de respeitar o tempo e a individualidade de cada criança, utilizando um método humanizado e transformador que promove sua inclusão, socialização, ampliação de repertório e autonomia.