O desenvolvimento do cérebro do seu filho
Uma criança nasce com cerca de 100 bilhões de células no cérebro. Isso já é incrível, mas o que acontece depois, quando ela fica maiorzinha, é mais fantástico ainda. Cada uma dessas células envia e recebe sinais elétricos, criando conexões que se transformam em redes. Essas redes permitem que seu filho pense e aprenda. Lá pelo terceiro aniversário, o cérebro de seu filho já terá formado cerca de 1 quatrilhão de conexões.
Neste momento, o cérebro dele está criando os caminhos que serão usados pelo resto da vida. Uma conexão que é usada sempre se torna permanente, enquanto uma que não é mais usada pode desaparecer. É por isso que especialistas colocam tanta ênfase nos três primeiros anos: tudo que você faz com seu filho, de brincar a comer, de andar a ler e a cantar, estimula o cérebro.
Como a imaginação ajuda o seu filho
É difícil saber o que seu bebê pensa até que ele comece a se comunicar melhor. Mas você pode ter uma idéia observando como ele imita as coisas em volta: o cachorro, o que você está fazendo, ou mesmo o cotidiano dele — por exemplo, tentando dar comida ao bichinho de pelúcia ou colocando a boneca para dormir. Isso começa a acontecer por volta de 1 ano e meio.
Uma mente imaginativa e ativa ajuda a criança de muitas maneiras:
Melhora do vocabulário. Crianças que brincam de jogos imaginários ou escutam muitos contos de fadas e histórias tendem a ter mais vocabulário. Mesmo que você não veja o resultado concreto disso imediatamente, estará criando as bases para o futuro.
Controle da situação. Fingir e fazer de conta permite ao seu filho ser quem ele quiser, explorar emoções negativas, praticar coisas que aprendeu e fazer a situação mudar para o que ele quiser. Histórias onde os três porquinhos enfrentam o lobo mau ou brincadeiras em que o ursinho de pelúcia tem que tomar um banho dão à criança a sensação de que ela é poderosa e tem tudo sob controle, mesmo em situações pouco familiares ou assustadoras.
Solução de problemas. Situações imaginárias ensinam a criança a pensar de maneira criativa, o que pode ajudar na hora de resolver problemas. Um estudo conduzido pela Universidade Case Western Reserve, nos EUA, constatou que crianças que eram imaginativas quando pequenas tendem a manter essa qualidade e têm mais capacidade de solucionar problemas. Testadas quando mais velhas, essas crianças tinham mais referências e fontes de onde tirar soluções na hora de enfrentar desafios e dificuldades.
O que você pode fazer para estimular a imaginação da criança
Leia livros para ela. Ler histórias com seu filho é uma excelente maneira de enriquecer a fantasia dele. Escolha obras com desenhos grandes e coloridos. Mostre a ele fotos e desenhos de tudo, de besouros a cataventos, imite o som de animais e carros, use vozes diferentes para personagens e converse com ele sobre o que aconteceu ou poderá acontecer com as pessoas e os animais que aparecem no livro.
Invente e reconte histórias. Contar histórias que você mesmo inventou é tão bom para seu filho quanto ler um livro. Usar seu filho como o personagem principal é um grande jeito de expandir a noção de “eu” dele. Logo, seu filho começará a inventar as próprias histórias e aventuras.
Faça música. Seu filho não está pronto para aulas de música de verdade, mas você pode encher o mundo dele de música. Ouça com ele vários estilos, e encoraje-o a cantar, dançar ou tocar instrumentos de brinquedo.
Estimule o faz-de-conta. Crianças aprendem muito ao fazer teatrinho com acontecimentos do cotidiano e de suas imaginações. Quando seu filho inventa um cenário e um roteiro com personagens (“está na hora de o ursinho comer”), está desenvolvendo habilidades sociais e verbais.
Ele terá a chance de experimentar diferentes emoções enquanto simula situações de mentirinha, que envolvem momentos alegres, tristes ou assustadores. Imaginar ser o papai, o médico ou o professor faz com que ele se sinta poderoso e lhe dá a experiência de o que acontece quando se está no comando.
Providencie material para a imaginação dele. Quase tudo pode servir de apoio para uma brincadeira imaginativa, e, com crianças pequenas, quanto mais simples, melhor. Uma caixa de papelão pode virar um carro, um navio ou um trem para andar, e uma toalha pode ser a capa do super-herói. Como boa parte da ação se passa dentro da cabeça da criança, não é preciso ter roupas ou objetos muito elaborados, como fantasias oficiais e caras.
Experimente ainda providenciar uma caixa ou baú com parafernálias que ajudem nas brincadeiras (uma echarpe antiga, um óculos escuro, coisas assim), e coloque coisas novas de vez em quando, quando seu filho não estiver olhando (“Vamos ver o que tem no baú hoje!”).
Limite o tempo de TV. Na hora de ver TV, moderação é essencial. Academia Americana de Pediatras recomenda que crianças de menos de 2 anos nem mesmo vejam TV, mas muitos pais acabam permitindo um pouquinho. Quando seu filho assistir à TV, tente fazer com que ele veja os programas por pouco tempo, não mais que dez ou 15 minutos por vez.
Evite a tentação de usar a TV como babá eletrônica (a não ser em último caso — sabemos que às vezes é inevitável), e assista aos programas junto com seu filho, fazendo perguntas, desenvolvendo as idéias que aparecem na tela e descobrindo do que ele gosta mais.
Como conviver com a imaginação de seu filho
Imponha limites. Criar e fazer cumprir as regras — como não bater com a “espada”, por exemplo — é crucial para o bem-estar de seu filho (e o seu também). Mas, quando possível, deixe seu filho vivenciar um pouco suas fantasias mais extravagantes. Se ele resolver transformar a mesa de jantar em teto de cabana, aproveite, por exemplo, para fazer um piquenique no chão da sala, só aquele dia.
Aceite o amigo imaginário. Especialistas acreditam que ter um amigo imaginário indica que a criança, criativa e sociável, encontrou um jeito que a ajuda a administrar seus medos e preocupações. Alguns estudos sugerem que metade das crianças terá um amiginho imaginário em algum momento.
No entanto, é preciso ter atenção. Se seu filho começar a culpar o tal amiguinho por algo de errado que ele fez, está na hora de trazê-lo à realidade. Você não precisa acusá-lo de mentir, mas não deixe o erro passar. Faça com que seu filho — junto com o amigo imaginário — corrija a situação (arrumar a bagunça, pedir desculpas etc.) e deixe claro que o ato foi inaceitável.
Curta as situações inusitadas. Se seu filho insistir em ir à creche ou à escolinha com a roupa do Homem-Aranha pelo terceiro dia seguido, você pode ficar sem saber o que fazer. Afinal, adultos costumam impor um limite rígido entre comportamento “público” e “privado” — suas pantufas de coelho são legais em casa, mas não em um restaurante –, mas crianças não pensam assim. Lembre que seu filho não tem essa noção de limite ainda, e que, olhando a situação de longe, uma roupa de herói ou fantasia não é algo que mereça muita preocupação.