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Crianças com transtorno do espectro autista precisam de fisioterapia?

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Frequentemente recebo a seguinte pergunta: “Mas ele precisa de fisioterapia? Ele consegue andar e sentar, mas a pediatra pediu para vir”. Hoje vamos refletir juntos sobre a real necessidade de intervenção motora em crianças com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O TEA é definido como um transtorno do neurodesenvolvimento que possui critérios diagnósticos relativos a déficits persistentes na comunicação social em contextos variados e padrões restritos e/ou repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.

Pesquisadores de desenvolvimento infantil afirmam que as disfunções motoras são frequentemente associadas ao TEA. E embora não incluídas nos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — 5ª Edição (DSM-5), crianças e adolescentes com TEA podem apresentar comprometimentos no desenvolvimento motor generalizado, como dificuldades de coordenação motora fina/grossa e de equilíbrio; além de menores níveis de atividade física quando comparadas com seus pares de desenvolvimento típico (2023, Fernandes et al).

Existem quatro eixos motores comumente comprometidos em crianças com TEA: o tônus muscular, o equilíbrio, a coordenação motora grossa e fina, e as alterações posturais. A alteração no desenvolvimento de um desses quatro eixos vai dificultar ou impedir o desenvolvimento infantil pleno. A diminuição do tônus muscular por exemplo está presente em cerca de 60% das crianças com autismo; isso afeta diretamente a aquisição de habilidades motoras e força muscular do tronco, componente essencial para o controle postural, o equilíbrio, a respiração e a fonação.

Em termos de habilidades motoras de crianças com TEA, os dados relacionados ao desenvolvimento motor são inquietantes: cerca de 79 a 83% das crianças com TEA não apresentam habilidades motoras apropriadas para a idade e demonstram maiores dificuldades em habilidades como chutar ou pegar uma bola, equilibrar-se e pular, em comparação com crianças típicas (2023, Fernandes et al).

Existe ainda uma possibilidade significativa de existirem transtornos de desenvolvimento associados, como Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Estudos norte-americanos já relataram a presença de atrasos globais de desenvolvimento em 83% das crianças com TEA e a presença de TDC em 86% dessas crianças. De forma semelhante, o autismo pode estar associado a outros diagnósticos presentes na criança, como: paralisia cerebral, mielomeningocele, epilepsia, e síndromes genéticas.

Diante da presença de características que comprometem o desenvolvimento da criança, podemos afirmar que toda criança com TEA precisa de fisioterapia?

Não, não posso afirmar essa necessidade para todas as crianças com TEA porque as avaliações de movimento e funcionalidade são individualizadas e variam muito de uma criança para outra. Posso ter duas crianças com a mesma idade e com o mesmo diagnóstico clínico; porém com habilidades completamente diferentes uma da outra.

Posso afirmar que toda criança com diagnóstico de TEA precisa de avaliação de desenvolvimento com profissional especialista em desenvolvimento infantil, seja fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, educador físico ou psicólogo. E a família tem liberdade para buscar um desses profissionais mesmo que não tenha recebido indicação médica.

Existem características que podem ser observadas em casa?

Sim, os pais podem observar a presença de alguns comportamentos na criança e caso existam suspeitas de alteração no desenvolvimento, podem compartilhar esses achados com o pediatra ou com um fisioterapeuta com experiência em desenvolvimento infantil. Os sinais mais comuns são: dificuldade em fazer e/ ou manter contato visual, dificuldade em entender e expressar emoções, atraso no desenvolvimento motor, atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem, uso repetitivo de palavras ou frases (ecolalia), comportamentos e movimentos repetitivos como balançar as mãos ou girar, resistência a mudanças e fixação em partes de objetos ou brinquedos.

Uma segunda sugestão sobre a observação de características é: se a criança estiver em idade escolar, conversar com os professores sobre o comportamento da criança nesse ambiente; os professores sempre conseguem compartilhar informações importantes acerca de comportamento e socialização.

Famílias e cuidadores, vocês possuem autonomia para consultar um profissional de desenvolvimento infantil em caso de suspeitas. Apesar do diagnóstico de autismo ser um diagnóstico clínico, dado pelo médico; a existência de uma avaliação desenvolvimento motor bem elaborada vai auxiliar esse profissional na definição do diagnóstico e na caracterização dos achados, especialmente dos motores, dos cognitivos, e dos sensoriais. O acompanhamento da criança com diagnóstico de TEA é sempre realizado por um conjunto de especialistas: médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo, nutricionista, e muitas vezes, outros mais são acrescidos conforme a necessidade. A intervenção precoce no autismo é crucial para maximizar o potencial de desenvolvimento das crianças e melhorar suas habilidades sociais, de comunicação e comportamentais.


Dra. Taciane Melo
Fisioterapeuta neuropediátrica, especializada em desenvolvimento de bebês,
Instrutora de Shantala,
Mestre em Saúde Pública pela Fiocruz, Membro da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN), Membro da La cause Des Bébés, associação francesa transdisciplinar de estudos e pesquisas sobre bebês, unidade Brasil.
Mentora de desenvolvimento infantil, atendimentos
online e presencial.
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