Imagine que você seguiu todas as orientações de cuidados com a higiene bucal dos dentes da sua criança. Você quer garantir que ela nunca sofra com cárie… Por volta dos 6 anos de idade começa o nascimento dos dentes permanentes, aqueles que desejamos que fiquem na boca, saudáveis até o final da vida. E ao erupcionar aqueles dentes novinhos na frente, você vê manchas brancas ou amareladas nada estéticas. Ou o primeiro molar permanente parece que já nasce com cárie ou “estragado”! Sim… Esse é um sinal muito ruim de que provavelmente estamos diante de uma HMI.
“Mas o que é isso, Dra.?”
HMI é a abreviação dada para nomear os defeitos de formação de esmalte, DDE, que acontecem nos primeiros Molares e/ou Incisivos Permanentes.
Durante o processo de formação da camada externa do dente, o esmalte, distúrbios de origem sistêmica, ou ambiental, podem causar alterações nessa “amelogênese”, gerando defeitos irreversíveis relacionados à quantidade de tecido (matriz orgânica) ou na qualidade desse esmalte. Quando existe uma redução da espessura do esmalte, chamamos de hipoplasia. É um defeito quantitativo. Quando acontece um defeito na qualidade chamamos de hipomineralização, como na HMI.
A HMI, afeta de 1 a 4 molares permanentes e muitas vezes também afeta os incisivos permanentes. Isso se dá porque a mineralização dos molares e incisivos acontecem no mesmo momento.
Estima-se que em média 14% da população mundial apresente dentes com HMI. No Brasil temos dados de até 40% de prevalência na população do Rio de Janeiro, por exemplo.
Por que isso acontece?
Até o momento, as causas não são muito claras. O que sabemos é que diversas alterações ambientais, sistêmicas e genéticas que ocorrem no período pré-natal e nos primeiros anos de vida da criança, parecem relacionados a esses defeitos.
O processo de calcificação do esmalte dentário começa entre a 15ª/19ª semana de vida intrauterina e termina por volta dos 3 anos de idade da criança. É nessa janela que situações como prematuridade, baixo peso ao nascer, desnutrição, doenças e infeções como otites, infecções respiratórias como pneumonia, asma, bronquites e quaisquer outras infecções onde febre alta tenha sido observada, parecem estar relacionadas aos defeitos que podem ocorrer na dentição decídua (HMD)ou permanente (HMI). O uso de medicamentos como antibióticos, principalmente corticóides inalatórios, também são fatores de risco.
Mas por que os pais devem se preocupar?
Dentes afetados por esses defeitos costumam apresentar alta sensibilidade. A criança sente dor ao escovar dentes, ao comer, ao beber água. Ainda pior que isso, como o esmalte desses dentes é frágil e poroso, há uma maior probabilidade de desenvolver cárie e ir quebrando ao longo dos anos. Existem casos em que a gravidade do defeito leva a perda do dente, já que o tratamento é complexo devido à dificuldade em se conseguir materiais que façam uma boa adesão a esse esmalte.
Como prevenir?
Quanto antes a criança for acompanhada pelo Odontopediatra, os riscos de se desenvolver HMI podem ser identificados. Monitoramos o nascimento de cada dente, e caso seja diagnosticado um defeito de esmalte, fazemos protocolos de remineralização e dessensibilização através do uso de vernizes fluoretados ou aplicações tópicas de flúor.
Ao longo do tempo esses dentes precisam ser acompanhados periodicamente, e em muitos casos é necessário uso de materiais específicos para cada grau de comprometimento.
Não podemos esquecer que dentes acometidos por HMI apresentam manchas que vão de brancas opacas a amarelas e amarronzadas. O impacto no bem-estar emocional e social da criança pode ser bastante significativo.
Sendo assim, ressalto a conscientização das famílias que as visitas ao Odontopediatra regularmente são de extrema importância nos dias atuais diante de tantos quadros de HMI.
Dra. Gisele Costa Pinto
É dentista Ortodontista e Odontopediatra com foco no acompanhamento do desenvolvimento Craniofacial desde a Gestação
dragiselecp@gmail.com
@giselecostapinto