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Depressão durante a gestação

Tempo de Leitura: 5 minutos
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Por muito tempo, acreditou-se que as mulheres grávidas ficavam protegidas contra os transtornos da mente, já que passariam por uma fase “abençoada”. Para muitas gestantes, no entanto, a felicidade de ter um filho pode dar lugar a sentimentos como apatia, angústia, tristeza e desânimo profundos.

Gravidez não planejada, conflitos conjugais, dificuldade de lidar com as mudanças no corpo e medo de não conseguir cuidar de uma criança, de sofrer um aborto ou de o bebê nascer com má-formação podem desencadear um quadro que vai além das mudanças normais dessa fase, como aumento da sensibilidade e sonolência. As estatísticas de depressão em gestantes acompanham a média da população mundial: uma em cada cinco pode apresentar o problema.

Nesse caso, grávidas e médicos costumam viver um dilema: se optarem pelos remédios, há o medo de que eles façam mal ao bebê. Como as pesquisas sobre a segurança dos antidepressivos nessa fase não são conclusivas, os especialistas adotam posturas diferentes. Enquanto alguns evitam receitá-los, outros acham que os benefícios superam os perigos.

O número de pessoas acompanhadas até hoje nos estudos não é considerado suficiente para descartar ou confirmar os riscos de tomar antidepressivos durante a gravidez. Uma das dificuldades é a restrição ética a testar o efeito de medicamentos em gestantes. Em geral, recorre-se a animais ou a uma retrospectiva de casos notificados. Mas, como apenas os casos em que ocorrem problemas com o bebê costumam ser relatados, é difícil fazer comparações.

Além disso, estudos indicam que a própria depressão pode fazer mal ao feto, já que provoca uma descarga de hormônios estressores, como o cortisol, que podem trazer complicações à mãe e à criança. “Trabalhos sugerem um aumento do risco de baixo peso ao nascer, de prematuridade e de retardo neuropsicomotor nos filhos de mães com depressão não tratada”, afirma o psiquiatra Cláudio Soares, diretor do programa de saúde da mulher do departamento de psiquiatria e neurociências do comportamento da Universidade McMaster, no Canadá.

De acordo com dados da Universidade Harvard, nos EUA, cerca de um terço das gestantes usou remédios psicotrópicos pelo menos uma vez em muitos casos, sem saber da gravidez. Esporadicamente, surgem pesquisas que acendem a luz vermelha para a comunidade médica e as pacientes. Um exemplo recente foi um trabalho da empresa farmacêutica GlaxoSmithKline que indicou que a paroxetina, componente de alguns antidepressivos, como o Aropax e o Cebrilin, aumenta os riscos de má-formação cardíaca quando ingerida no primeiro semestre da gravidez.

Os resultados geraram um alerta da Food and Drug Administration (reguladora dos medicamentos nos EUA), que aconselha os profissionais a avaliar os riscos e benefícios de indicar a substância. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) solicitou aos profissionais de saúde que notifiquem reações adversas à paroxetina.

Outro caso que gerou repercussão foi um trabalho da universidade de La Laguna segundo o qual uma classe de antidepressivos, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) como Prozac (fluoxetina) e Zoloft (sertralina), pode gerar síndrome de abstinência neonatal (quando o bebê fica “dependente do remédio” e tem choro anormal, tremores e convulsões). Segundo Cláudio Soares, em quase todos os casos essas alterações duram apenas horas.

Na falta de dados conclusivos, os especialistas recomendam avaliar cada situação. No primeiro trimestre da gestação, por exemplo, quando os órgãos do feto estão em formação, é bom evitar medicamentos. Depois disso, os riscos de más-formações diminuem muito. Já no caso de transtornos psiquiátricos crônicos, os benefícios dos remédios costumam superar os riscos.

Outra opção para essas mulheres é a ECT (eletroconvulsoterapia ou eletrochoque). A idéia assusta, mas os médicos afirmam que o método mudou. “A ECT é feita com técnicas rigorosas e sem dor. É um procedimento eficaz e seguro”, diz o psiquiatra Joel Rennó Jr., coordenador do ambulatório Pró-Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

Nos casos de depressão leve, psicoterapia e grupos de discussão são recomendados. “A gestação é um excelente momento para iniciar uma psicoterapia quando antes não havia motivação”, diz o psiquiatra Rubens Bergel, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

Um grupo virtual de mães ajudou a analista de segurança Luciana Campos, 26, a melhorar durante a gravidez de seu filho Lucca, hoje com dez meses. “Fiz ioga e terapia, procurei homeopatia e reiki. Mas o que me ajudou principalmente foi ter encontrado várias pessoas que me apoiaram”, conta ela, que não quis tomar remédios por medo de fazer mal ao bebê. Um passo importante para evitar medicações desnecessárias é um diagnóstico correto.

“Sono e variabilidade emocional podem ser confundidos com depressão. Mas desesperança, sentimento de culpa e pensamentos de morte não são próprios da gestação”, diz Rodrigo da Silva Dias, psiquiatra do Projeto Mania, do HC da USP.

A dificuldade de chegar a um diagnóstico durante a gravidez faz com que o obstetra Carlos Borsatto, gestor do setor materno-infantil do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, desaconselhe os remédios. “Não sou a favor. É muito difícil quantificar uma patologia psiquiátrica numa paciente que passa por uma fase que traz em si uma instabilidade emocional grande. Não há estudos de médio prazo sérios que garantam que esses remédios não trazem efeitos indesejáveis.”

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